Delírios da (imaginação)

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Acordei, sentindo o adorável cheiro de terra molhada pela chuva. Bem, está mais para tempestade agora, porém não me importo, eu adoro a chuva, para mim, é o melhor clima que há.

Me espreguicei em minha cama, estalando meus ossos. Eu estava em um estado de relaxamento intenso até que olhei para a mesa: lá estava o livro que ganhei de presente.

Meu estado de espírito se tornou, então, animação. Eu nunca tinha ganhado um presente antes, então estou doida para ler.

Levantei, andando apressadamente, descalça no chão frio de madeira. Então agarrei o livro e me joguei em minha cama macia.

Foi uma grande decepção quando abri e vi que as páginas estavam quase todas em branco. Folheei apressadamente e achei folhas escritas, mas eu não entendi nada do que estava escrito, estava em uma língua diferente. Podia ser japonês, mandarim ou até mesmo árabe, não sei, só sei que as letras tinham outro formato.

Continuei folheando, afinal o livro era muito grosso, até que achei uma série de desenhos. Eram desenhos tão horríveis, que me arrependi de ter visto, mostram pessoas sendo torturadas, mortas, presas no vazio... apesar de meu arrependimento, não conseguia desgrudar meus olhos destas páginas, eu continuei vendo cada detalhe, cada sombra, cada entidade... parecia que sugava minha alma.

— O que é isso? — Stef me assustou com seu dom de aparecer do seu lado do nada, nos momentos mais imprevisíveis.

— Não é nada, só um presente que eu ganhei — sacudi a cabeça e esfreguei os olhos.

— Presente? De quem?

— Pior que eu não sei. — me endireitei e sentei na cama.

— Como assim não sabe? Não estava assinado? Não tinha nenhum cartão? — ela sentou do meu lado.

— Veio, mas eu não sei quem é. Quem mandou foi uma tal de "Tia Maria". Eu não sei quem é Maria e eu não tenho tia.

De qualquer forma, fechei o livro velho e o larguei em cima da mesa. Já eram seis horas, então me vesti e desci para o restaurante tomar café da manhã, lá me encontrei com Lúcia, como sempre.

— Eu não estou aguentando mais! Veja a quantidade de cartas.

Em cima da mesa, havia uma pilha com pelos menos umas quinze cartas, todas de Antônio.

— Minha nossa! Ele gosta mesmo de você, ein?

— E como! O pior é que eu não consigo gostar dele. Eu não sei o que vai ser da minha vida, Ágatha! E me desculpe por falar tanto de mim, venho percebendo isso e...

— Ei, pare de se desculpar! Você tem todo o direito de reclamar. Eu reclamaria. Inclusive eu reclamo muito e você sempre está aqui para ouvir, eu seria uma péssima amiga se fizesse diferente. — dei uma pausa para comer um pão de queijo — Mas... me diga, você não gosta nem um pouco dele? Parecia tão feliz escrevendo as cartas.

— No começo é até legal, mas eu só consigo vê-lo como amigo. Percebi que a mísera fatia de amor que pensava sentir por ele, era na verdade ansiedade, e medo!

— O que te faz pensar nisso?

— Sabe Ágatha, é difícil quando eu só tenho olhos para outro alguém. E esse alguém é simplesmente inalcançável no mundo em que vivemos e...

Ela parou de falar de supetão. Olhou em meus olhos, de forma perturbadora. Ela parecia observar dentro de minha alma. Todo o resquício de expressão facial que havia em seu rosto desapareceu, ela parecia desbotar. Então, fechou os olhos, e quando abriu, eles estavam completamente brancos, sem íris e sem pupilas.

A Maldição de Ágatha | ⚢Onde histórias criam vida. Descubra agora