Presente do passado

35 10 66
                                    

Acordei.

Eu estava na minha cama, no meu quarto. Subitamente, um alívio transbordou em meu coração, estava tudo bem. Tudo fora apenas um sonho.

Respirei fundo, esfreguei meus olhos e fui capaz de me levantar. Estava preparada para o novo dia. Percebi que minhas roupas estavam imundas, precisarei mandá-las para a lavanderia. Tomei um banho e me aprontei. Stef não estava no quarto, então provavelmente já estava tarde.

Me dirigi a mesa, uma grande mancha de cola estava grudada à madeira. Tive bastante trabalho para tirá-la.

O dia passou rápido e pelas próximas semanas, tudo pareceu se ajeitar. Só tenho uma certeza absoluta: Mais da metade do que ocorreu foi fruto de minha imaginação. Provavelmente voltei para meu quarto e acabei adormecendo após o café. Como sempre, durmo muito, é um mal hábito meu.

Minha vida continuou seguindo de forma completamente normal, apesar de ter de consolar minha amiga, que continua infeliz com seu casamento. Ainda por cima, preciso de controlar meus sentimentos, controlar minha cabeça.

— Você não vai acreditar. — Lúcia disse para mim, ao me encontrar no almoço. — Veja com seus próprios olhos, foi Antônio que me mandou.

Antônio era o noivo de Lúcia, sua família era muito próxima da família dela por conta de acordos comerciais.

— É uma grande breguice. São cartas muito melosas. — ela disse, rindo.

Minha queridíssima Lúcia.
Espero que se lembre de mim, seu grande amigo de infância, seu companheiro de brincadeiras enquanto nossos pais estavam ocupados com acordos e tudo mais.
Espero que já saiba de nosso casamento. Devo admitir que estou morrendo de ansiedade, você sempre foi muito especial para mim e não posso imaginar nenhuma mulher melhor para ser minha companheira pelo resto da vida.
Meu coração está se inundando de amor por você. Por favor, venha me visitar assim que puder! Quero por nossos assuntos em dia e conhecê-la melhor!
Com muitíssimo carinho,
Seu noivo, Antônio

Ao lado desta, haviam pelo menos mais cinco cartas, todas caprichosamente seladas e cobertas de selos de Petrópolis.

Apesar de rirmos de primeira, com o passar dos dias foram chegando mais e mais cartas, logo Lúcia se viu em obrigação de respondê-las. Isso a ajudou muito, agora parece que ela está um pouco mais confortável com a ideia do casamento.

Se não temos como contornar, o inteligente a se fazer é se adaptar. A família de Lúcia não vai deixá-la escapar de seu casamento, então vê-la pelo menos minimamente mais feliz, com pelo menos algumas boas esperanças, me deixa feliz.

Mais tempo se passou, e quando eu me encontrava na sala de aula, o professor Roberto, de história não chegou, em seu lugar, aparece a coordenadora Guilhermina:

— Olá, primeiro ano! Trago notícias. — ela andava pela sala lentamente — Alguns já devem saber, mas o professor Roberto, foi indicado para outro trabalho, logo ele mesmo decidiu sair. Agora, gostaria de apresentar a vocês o professor Heitor! E vejam, ele chegou bem na hora. Heitor, entre, por favor.

Um professor muito alto, um pouco magro, com cabelos e barba ruivos escuros entrou na sala. Ele tinha uma postura confiante, portando roupas muito bonitas e carregando uma maleta de couro.

— Bom dia, estudantes. — ele disse, enquanto punha sua maleta na mesa — Sou eu, Heitor Alves. É um grande prazer conhecer vocês.

Guilhermina pediu licença e se retirou da sala, com um sorriso no rosto.

— Então, agora que estamos mais a vontade... — ele fecha a porta — Vou me apresentar melhor.

Ele abre sua maleta, espalhando seu material pela mesa, até achar um giz quebrado no meio da bagunça. Ele escreveu seu nome no quadro.

A Maldição de Ágatha | ⚢Onde histórias criam vida. Descubra agora