Despertador tocando. Abri os olhos e por alguns instantes fiquei fitando o teto. Por fim, me sentei na cama e fiquei observando aquele pequeno quarto onde passei a maior parte da minha vida. Agora ele parecia maior pois as mobilas foram quase todas retiradas e guardadas em um depósito. A parede azul claro me lembrava meu pai. Me lembro perfeitamente do dia que a pintamos juntos. Foi um dia maravilhoso, pudemos conversar sobre qualquer coisa, rimos, ele me contou histórias engraçadas sobre o ensino médio dele, e me perguntou como eu estava indo com os amigos na escola. Disse a ele que estava tudo bem. Eu não era popular no colégio, mas nunca fui alvo de bullying, na verdade na minha escola não existia muito dessas coisas, todos eram legais com todos. Ele ficou satisfeito, sorriu e disse que ainda tinha esperanças de um mundo bem melhor.
Enxuguei as lágrimas que teimaram a cair com a barra da blusa. Lembrar do meu pai era algo feliz, mas ao mesmo tempo era torturante pois a vontade que eu tinha de abraçar ele era enorme. E eu não podia. Eu nunca mais abraçaria meu pai.
Meia hora depois escuto batidas na porta.
- Anna, querida, está pronta? Quer ajuda com as malas?
- Tá tudo bem, vô, estou indo.
Adeus, parede azul. Adeus, estrelinhas do teto. Adeus, relógio de gatinho que eu odiava. Adeus, pai. Adeus, mãe.
Uma hora depois, finalmente estávamos dentro do avião. Dali a algumas horas uma nova vida me aguardava. Espero do fundo do meu coração que seja uma vida boa.
Eu estava na expectativa de que Kayo fosse se despedir no aeroporto, mas isso não aconteceu. Despedidas nunca foram o ponto forte dele. Então abri o tão desejado álbum de fotografias. Aquilo era a coisa mais incrível que eu já tinha visto em toda a minha vida. Continha várias fotos minha aleatórias, algumas bem engraçadas e feias, outras lindas. Tudo combinado a umas montagens incríveis.
Ali, junto ao álbum, adormeci.
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sur(real)
RandomQuando pequena minha avó contava histórias de vampiros malvados, e eu adorava. Dizia para eu tomar cuidado, que eles adoravam sair a noite. Eu ria e debochava dela, porque é claro, vampiros não existem. Hoje, depois de alguns anos, percebi que a min...