monster - (Anna)

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Disse aos meus avós que iria me encontrar com um amigo da escola, e eles ficaram animados porque eu estava me enturmando.
Meu plano era levar Theo pra caixa dágua, porque ali poderíamos conversar e ninguém atrapalharia, queria lhe fazer várias perguntas, tentar descobrir alguma coisa.
Me arrumei e oito horas em ponto estava parada em frente a primeira árvore, como tínhamos combinado. Depois de um tempo não muito longo, Theo apareceu. Estava mais lindo do que nunca. Eu me sentia um lixo por fazer isso com ele, de um jeito ou de outro eu o estava enganando e isso era horrível. Mas eu precisava disso. Eu precisava descobrir a verdade.
- Desculpa a demora.
- Relaxa.
Ele sorriu.
- E então, senhora mistério, pra onde vamos?
- Segredo.
- Devo me preocupar?
- Depende... Você tem medo de altura?
Ele riu e não respondeu nada.
Continuamos caminhando, em silêncio. Chegamos na base da caixa dágua.
- Tcharaaaan.
- Uau! Você me trouxe pra baixo da caixa dágua.
- Não! Você ainda não viu nada. Temos que subir. - Apontei pra cima.
- Sério?
- Que foi? Tá com medo, é?
Ele riu. Fez um movimento com a cabeça que eu deduzi que fosse para eu subir.
- Você primeiro! Estou de vestido.
- Por isso mesmo falei pra ir primeiro.
- Ha! Ha! Super engraçado. Agora anda logo, sobe!
Ele se aproximou das escadas e começou a subir. Quando chegou lá em cima parou por um instante e ficou observando. Nos sentamos.
- Uau! É aqui que você trás todos os seus garotos?
- Boa parte deles, é.
Ele me olhou, rindo.
- Na verdade eu sempre venho aqui quando quero pensar. Se um dia eu sumir, pode me procurar aqui.
- É um lugar lindo! Moro a tantos anos aqui nessa cidade e nunca tive interesse em saber como é a vista daqui?
- Muitos anos? - RI. - Quantos anos você tem, 90?
- Por aí. - Ele disse sério, mas depois sorriu. O sorriso mais lindo que eu já vi na minha vida. Foco.
- Então... Você mora naquela casa a muito tempo?
- Sim, bastante. Inclusive, aquele dia que te contei que moro naquela casa você saiu correndo. O que deu em você?
- Ahn. Nada. Enjôo. Só isso. Enjôo.
Pareci nervosa demais, mas parece que ele aceitou aquela resposta.
- Aquela casa é muito grande. Tem uns 50 quartos, serio. Em toda a minha vida nunca entrei em todos os quartos.
- 50 quartos? Duvido! Quantas pessoas moram com você?
- 15. Meus pais e meus 12 irmãos.
- 12 irmãos? Uau!
- Nem todos são de sangue. 7 são adotados.
- Seus pais devem ser pessoas incríveis.
Ele sorriu e baixou a cabeça.
- Mas e você? Porque veio parar em Signtown?
- Meus pais faleceram. Decidi vir morar com meus avós..
- Ai Anna, eu sinto muito.
Ele pegou minha mão.
- Não, tá tudo bem. De verdade.
- Que bom!
Silêncio.
- Desculpa a pergunta, sério, mas não consegui ficar de boca calada... Do que seus pais morreram?
- Assassinato. Meus avós disseram que foi um cara que estava drogado, deu de cara com eles e fez o que fez.
Ele pareceu distante. Demorou um pouco até responder.
- Que horror.
Não tive muitos resultados naquele dia. Paramos de falar de família porque o clima estava ficando pesado.
Eu e Theo paramos na mesma árvore que nos encontramos.
- Então é isso.
- Então é isso. - Repeti.
- Gostei bastante de hoje, sabia?
- Jura?
- Juro. Você é demais, Anna.
Ele estava se aproximando. Aimeudeus, aquilo ia mesmo acontecer. Nos beijamos.

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