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Não era rotineiro que as manhãs de segundas fossem tão frias quanto hoje, principalmente no centro de Los Angeles. O clima me fazia querer ficar na cama pelo resto do dia, mas antes que eu pudesse fechar meus olhos para dormir mais uma vez, o toque estridente do despertador do meu celular me fez pular da cama.

Assim que desliguei o objeto e o escondi debaixo do meu travesseiro, segui até o banheiro, encarando o reflexo cansado em minha frente.

Deveria ter dormido mais cedo. Pensei.

Me apressei para preparar meu banho assim que me lembrei que mais um dia exaustivo me aguardava na O'Connell Cinema, ou como eu prefiro a chamar, o inferno em vida.

Quando a água já estava quente, me enfiei debaixo do chuveiro e deixei que o calor fizesse o trabalho de relaxar meus músculos.

Assim que pisei meus pés na agência, senti o olhar de O'Connell sobre minhas costas.

Segui para o elevador, revirando os olhos.

Era sempre dessa maneira, eu já nem me importava mais. Ela era de fato uma mulher muito peculiar, algo nela me atraía, mas seu jeito de agir não me agradava.

Não é como se ela fosse tão superior quanto ela pensa, ser dona do estúdio de cinema mais famoso do EUA não a tornava tão poderosa. Ao menos é o que eu penso...

As pessoas tem uma tendência a se curvar para o seu jeito intimidador, mas eu não me humilharia dessa forma.

— Dahlia! — Escuto a voz amável de minha colega de trabalho e seus saltos pontudos se estalando sobre o chão. Imediatamente abro um sorriso e coloco meu braço para evitar que a porta do elevador se feche.

— Cláudia! Como foi seu final de semana? — Pergunto assim que ela entra no elevador.

— Foi ótimo. E o seu? — Responde ofegante.

— Um tédio completo. — Levanto as sombrancelhas. — Exceto que tive uma nova idéia.

— Espero que seja muito boa, então. O'Connell tem descartado toda e qualquer idéia nova que os roteiristas tem, daqui a pouco essa empresa vai falir. — Afirma enquanto aperta o botão do nosso andar.

— Qual dos O'Connells?

— A mais chata. — A acastanhada dá de ombros.

— Você só diz isso porque tem um crush em Finneas. — Brinco.

A mais alta abre a boca para argumentar, mas fica sem palavras e desiste, suspirando frustrada.

Antes que pudéssemos continuar nossa conversa, a porta do elevador se abre, me dando a visão do enorme salão do andar do meu escritório.

— Te vejo mais tarde. — Cláudia apenas assente, dando uma corridinha até sua sala.

Me ajeito em minha sala, iniciando o sistema do computador, mas antes mesmo que eu pudesse usá-lo, a recepcionista abre a porta sem nem mesmo bater.

— Alice, quantas vezes eu já te disse para bater antes de abrir? — Questiono de maneira rude, mas não alta.

Eu não sou Alice, querida. — A voz rouca me surpreende, fazendo com que levantasse meus olhos e me ajeitasse desesperada em minha cadeira.

Lá estava ela, com seu terno engomado e olhos claros e profundos. Billie e seu jeito arrogante deixava a sala com uma energia petulante, revirei meus olhos mentalmente.

— Me siga até meu escritório. Agora. — Franzo as sombrancelhas quando ela vira de costas.

— Você está literalmente na minha sala, só fala o que quer que você queira me dizer. — Me atrevo a responder a altura de seu tom.

A mulher para por um segundo, se virando até mim lentamente. Um sorriso ofendido em seus lábios, e passos lentos e intimidantes até minha mesa.

Mantenho minha expressão firme e desafiadora, mas admito que quase senti essa máscara cair quando ela apoiou seus dois braços na minha mesa e encarou a minha alma.

— Eu acho que você não me entendeu, senhorita Clifford. — Sorri sem os dentes. — Eu mandei você me seguir até a minha sala.

Eu rio nasalmente, revirando os olhos.

— Eu apenas sugeri que seria mais fácil você falar agora, não fique tão ofendida, Senhorita O'Connell. — Me atrevo a usar um tom debochada.

— Sugira menos coisas da próxima vez, Clifford. Você é bem mais bonita quando não fala. — Finaliza, saíndo de minha sala.

Suspiro em alívio quando ela tira seus olhos de mim, mas rapidamente sigo seus passos.

O silêncio dela no elevador foi quase uma tortura. Sua postura séria e sem graça me tirava os nervos, ela quase parecia como um robô programado.

O último andar do prédio é inteiro dela, então sua mesa estava bem de frente a nós assim que saímos. Dou uma olhada rápida aos arredores, notando uma porta de vidro que instiga minha curiosidade.

— Bem, o que te incomoda hoje, chefe? — Me sento de maneira despojada na cadeira, fazendo ela se afastar um pouco para trás.

Não é como se houvesse algo que não a incomodasse.

— Suas vestes não são apropriadas para o ambiente de trabalho. — Franzo a testa.

Eu estava vestida com um vestido preto que ia pouco abaixo do meus joelhos, as mangas de tal eram modestas e íam até metade do meu antebraço, minhas pernas cobertas por uma fina meia calça branca, e um sapato social igualmente preto ao vestido.

Era completamente apropriada para se trabalhar, talvez um pouco ousado, mas já havia visto mulheres se vestirem com decotes na empresa e não levarem nenhuma advertência.

Ela repara no que visto. Pensei.

— Eu discordo.

Respondo simplista, com a expressão confusa.

— Na verdade, não importa o que você ache. — Ela diz sarcástica, passando a língua sobre seus dentes.

— Eu também discordo disso.

— Você tem alguma uma dificuldade de aprendizagem, Clifford? Eu acabei de dizer que não importa o que você ache.

Sabe o que eu acho, O'Connell? Você não passa de uma garotinha mimada que quer tudo na hora que quer, nunca aprendeu a ouvir não e age como uma criança implicante.

Foi o que senti vontade de dizer, e na verdade, quase disse.

— Certo. — Sorrio simples. — Já que você se importa tanto, vou me vestir conforme o código de vestimenta amanhã.

— Na verdade, eu prefiro que no horário de almoço você vá até sua casa e se troque.

Suspiro com raiva e assinto, não tendo outra escola a não ser aceitar.

Quando estou prestes a me levantar para sair, sua voz chama meu nome mais uma vez.

— E cuidado com o que você fala. Lembre-se de quem eu sou.

Sorrio em concordância, saindo da sala e indo direto até o elevador.

Sei solo una stronza presuntuosa, puttana d'angolo. — Xingo baixinho assim que a porta se fecha.

Arrogance • Billie Eilish [G!P]Onde histórias criam vida. Descubra agora