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— Aqui está o roteiro do próximo filme. Corrigido e aperfeiçoado. Tinham algumas falhas no desenvolvimento, mas eu resolvi. — Deixo os papéis sobre a mesa de Billie, que ignora minha presença, mexendo em seu celular.

— Você já corrigiu True Blue? — Questiona, ainda sem olhar para mim.

Reviro os olhos. Odeio quando falam comigo sem olhar para mim.

— Não, mas já revisei. Tem muitos furos no roteiro, vou precisar de no mínimo um mês. — Conto.

— Faça em duas semanas. — Manda, simplista.

— Eu acabei de te dizer que preciso de no mínimo um mês. — Repito, como se fosse óbvio.

Me preparei para a resposta rude e desagradável da garota atrevida sentada na mesa a minha frente, que pela primeira vez olha para mim.

— E eu acabei de te dizer pra fazer em duas semanas. — Franze a testa, voltando a mexer em seu telefone.

— Não.

Ela desvia o olhar de novo, desligando seu telefone e se ajeitando na sua mesa.

Seu charme não funciona comigo. Pensei em dizer. Ainda bem que só pensei.

— O que você quer dizer com “Não”? —Pergunta, com aquele sorriso de lado irritante e convencido.

Eu sorrio de volta, desafiadora.

— Eu estou negando sua proposta. — Mordo meu lábio inferior.

— Não foi uma proposta, portanto, você não tem a opção de negar. — Estira suas costas nas cadeira, relaxando seus músculos.

De repente, algo me vem em mente. Seria uma maneira fácil de ganhar mais dinheiro, se eu soubesse falar da maneira certa.

— A menos que você vá me pagar por isso, tenho sim. Isso vai me custar algumas horas extras na empresa. — Ela pareçe pensar, como se tivesse outra opção além de aceitar.

Ela não podia simplesmente ferir um direito trabalhista por implicância comigo.

— Que seja. Só termine logo. — O'Connell concordou, relutante.

— Você que manda. — Brinquei, virando de costas e voltando até meu escritório.

Comecei a corrigir o roteiro naquele mesmo dia, revirando o conteúdo por erros de maneira minuciosa.

Quando se tratava do meu trabalho, eu era dedicada e detalhista, por vezes perfeccionista.

Dar vida a esses personagens era uma honra - ser a história por detrás daquela tela me dava uma sensação de poder imenso, como se tudo dependesse de mim.

Mas não era minha ambição, não era o meu pico. Eu queria ir muito mais longe, eu queria dirigir algo, dirigir algo que EU escrevi.

Queria ter o controle total daquilo que escrevia.

Quando escrevi algo pela primeira vez, e foi dirigido por alguém com uma mente totalmente diferente da minha, foi decepcionante. O resultado foi frustrante - ver algo que era meu por direito, filmado de uma forma completamente diferente do que eu imaginava, me fez ter vontade de nunca mais escrever nada.

Após algumas horas de leituras e releituras, preenchendo lacunas do roteiro que quase se igualava a crepúsculo de tantos furos, finalmente me vi livre.

No entanto, encontrar o cabelo de marca texto na recepção principal foi minha maior decepção. Eu até tentei ignora-lá, mas Zoe, amiga íntima de Billie e parceira de sua empresa, gritou meu nome.

— Dahlia! O que faz aqui tão tarde? — A loira me chamou com a mão. Fui até lá com um sorriso forçado.

Billie estava com sua mesma expressão petulante, encostada no balcão, com suas roupas típicas.

— Trabalho escravo. — Brinco, arrancando uma risada nasal de Donahoe, mas um olhar mortal de Billie. — Não precisa me olhar assim, inimiga do humor.

Ela levanta as sombrancelhas, chupando o interior de suas bochechas.

— Você quer uma carona? — Penso antes de responder.

— Eu aceitaria. — Sorrio. A melhor amiga de Billie era completamente o oposto dela.

— Billie vai também. Tem problema? — Meu sorriso se desmancha.

Sim. Tive vontade de dizer.

Eu não seria tão rude quanto Billie é, portanto, respondi educadamente.

— Claro que não... tudo bem. — Minto, receosa.

Elas falaram por alguns minutos antes de seguirem para o carro. O que Zoe não me disse, é que Billie estaria no carro, porquê o carro era dela!

Meu orgulho jamais me deixaria aceitar uma proposta dessa, eu quase tive vontade de me jogar do carro em movimento quando percebi quem iria dirigir. A morte era uma opção melhor do que ser levada para casa por Billie O'Connell.

O que acha de True Blue? — Billie questiona, quebrando seu silêncio.

— Roteiro podre.

Ela se vira para trás, com sua sombrancelha arqueada. Zoe parece estar gostando da situação, a assistindo com um sorriso de orelha a orelha.

— Como? — Ela diz entre uma risada.

— O roteiro é podre. Não tem enredo, o casal não tem química, o final é sem sentido. — Eu repito, olhando para fora da janela. — Estou tentando melhora-ló, mas não vai ficar perfeito.

Um silêncio desconfortável invade o carro. Eu consigo escutar Zoe segurando sua risada.

— Quem escreveu fui eu, Clifford.

Arregalo os olhos. Não posso retirar o que disse, muito menos mudar de opinião agora que sei.

Consigo escutar a risada baixa e disfarçada de Zoe, que me deixa levemente constrangida.

— Você já foi melhor, O'Connell. — Não desvio o olhar da janela.

Billie era aclamada pela crítica, e só por isso O'Connell Cinema era tão popular.

Seus roteiros eram rotulados como impecáveis, e baseado nos outros que já li, eles realmente eram. Eu simplesmente não conseguia acreditar que True Blue tinha sido feito pela mesma roteirista de Bury a Friend.

— Acho que você não é boa com romances. — Dou de ombros.

Silêncio.

— Sabe... — Diz, sugestiva. — Me dei conta que nunca li um roteiro seu.

— Claro que não. Você não se interessa por nada de ninguém. — Alfineto, me arrependendo imediatamente.

Ela respira fundo antes de me responder.

— Me mande um projeto seu dentro desse mês. — Ordena.

— Isso foi uma ordem ou um pedido? — Pergunto, já sabendo a resposta.

— Ordem.

— Você que manda, senhora. — Sorrio de maneira boba e feliz.

Eu sabia do meu potencial, e nunca duvidei de tal. Cresci assistindo novelas italianas, cheias de dramas, e isso aflorou meu desejo por arte. Se eu não fosse italiana, a minha parte artística seria medíocre. O ambiente em que cresci foi fundamental para formar meu caráter artístico.

Meus roteiros eram completos e bons - Billie ler um deles, era uma oportunidade de ter um filme produzido pela produtora mais popular atualmente.

Uma chance e tanto.

Arrogance • Billie Eilish [G!P]Onde histórias criam vida. Descubra agora