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Eu estou fodida. Puta que pariu, eu estou fodida.

É a minha foto. Minha foto. Eu como uma criança inocente e feliz que ainda não havia passado por nada. Eu como a criança que não havia conhecido o lado cruel de seus pais viciados em drogas e que não tinha apanhado até ficar roxa.

Quem estava ali na foto não era Dahlia Clifford. Era Chiara Vecchi. Chiara Vecchi. Eu não escuto esse nome há tanto tempo. Eu não lembro desse nome há tanto tempo.

Eu entro no lobby do meu prédio e me dirijo até o elevador velho. Cogito bater minha cabeça no espelho e sangrar até morrer. Eu estava fodida. Eu estava muito fodida.

Ao entrar no meu apartamento eu tiro meus sapatos com tanta pressa que quase caio no chão, jogo minha bolsa e minha jaqueta em um canto qualquer e me sento no sofá com uma cara ilegível, encarando a foto.

A foto. A merda da foto.

Porra, Dahlia! Não, Chiara!

Isso era muito, muito ruim. Isso era péssimo. Eu estava tão fodida.

Eu já disse que estou fodida?

Bom, se disse, não o suficiente. Toda a minha vida, toda a minha nova e confortável (em comparação) vida estava para jogo. Todas as minhas mentiras de anos, que quase têm vida própria.

Minha vida como Dahlia Clifford. A roteirista italiana que não fala sobre seu passado porque não sabe por onde começar.

Estou entalando essa verdade tão fundo em mim e estou tão inconsciente das minhas próprias mentiras que isso se parece muito com um choque de realidade.

Eu não sei o que fazer. Vou sair para beber.

Pensei comigo mesma, e me levantei, caçando a minha jaqueta e calçando meus sapatos, pegando meu cartão e saindo pela porta com a mesma roupa e o mesmo tudo.

(...)

Eu bebi... onze? Doze? Não sei o que. Mas era forte e descia ardendo. Até havia esquecido o nome que me perturbava. Era Kiara? Chiara? Quem eu sou? De onde vim?

Estou bêbada. Estou muito bêbada. E no meio dessa multidão tem um rosto conhecido, não muito, mas o suficiente para eu me aproximar.

O advogado gostoso de Billie estava bem ali, sendo um princeso, dando mole bem na minha frente com uma camisa de gola alta que marcava os seus músculos, seu rosto sorridente bem cafajeste. Do jeito que eu gosto.

— Oi. — Eu disse, meio dispersa. — Você... trabalha pra O'Connell Cinema, não?

Ele desviou a atenção do seus amigos, que rapidamente desviaram a atenção dele e olharam para mim também. Todos com olhares predadores, inclusive ele.

— Bem, só para O'Connell. — Ele tirou o cabelo da testa, dando uma risadinha breve. — O que está fazendo aqui?

— Ah, vim desestressar. Segundas-feiras nem sempre tem que ser entediantes, certo? É. Não precisam. Quem vai lidar com isso é minha eu de amanhã. — Estava falando pelos cotovelos. Esse era um hábito meu quando estava bêbada.

— É. Aposto que você está certa. — Sorriu antes de beber mais um gole do seu drink. — Como é seu nome mesmo? Dahlia?

— Me chame de qualquer coisa menos isso, hoje. Vim aqui para esquecer desse nome. — Me escorei no balcão, notando que os amigos dele haviam se afastado. — O seu?

— Colton. Colton Moore. — Respondeu, sorrindo de lado. — Tudo bem, senhora qualquer-coisa-menos-isso. Me deixe fazer sua segunda-feira menos entendiante te pagando uma bebida, sim?

Arrogance • Billie Eilish [G!P]Onde histórias criam vida. Descubra agora