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⚠️ TW : violência infantil.

Chiara, merda! Vem pra cá! A voz estridente e violenta do meu pai perfurou meus ouvidos, inclinei a cabeça para o lado, confusa.

Ele não costumava me incomodar quando estava brincando, então, os sons da sirene invadiram meus ouvidos, e antes que eu conseguisse raciocinar, meu braço foi puxado com tamanha violência que entrei em casa já caindo no chão.

Eu murmurei, olhando para cima, meu pai parecendo gigante em comparação a mim. As luzes estavam apagadas e todas as portas estavam sendo fechadas, eu estava assustada, choramingando baixinho.

Demorou alguns minutos para que batessem em nossa porta, e até lá eu já estava no guarda-roupa, encolhida e chorando baixinho. Eu sabia que, de novo, o serviço de proteção a criança estava em casa, e, mesmo que não fosse minha culpa, eu que encararia a surra e os xingamentos.

Já estava acostumada.

Nunca entendi porque meus pais não deixaram eles me levarem, nunca entendi o porquê de insistirem tanto em mim, quando tudo o que faziam era me machucar. Talvez eles gostassem disso.

Talvez fosse legal me ferir, talvez fosse divertido.

Talvez, eu merecesse.

Sentia tanta raiva de mim mesma, tanto ódio instalado em meu peito que me fazia soluçar, porque era o máximo que eu podia fazer em silêncio para que não me achassem encolhida na sujeira, ao lado de garrafas de álcool, em cima das drogas escondidas embaixo do piso falso.

Eu queria sumir, não pelos meus pais me odiarem, mas por eu me odiar. Por eu sentir tanto nojo de mim e do meu corpo pequeno e indefeso banhado em ferimentos e hematomas, sentia tanto nojo de mim por chamar a atenção dos professores quando estava mancando ou a dias sem comer direito.

Sentia muito por existir dessa forma e ter que preocupar os outros e colocar os meus pais em problemas. Eu sei que tudo seria mais fácil se eu não tivesse nascido e minha alma estaria menos doída.

Espero que meus pais me perdoem pelo tanto que eles me machucaram. Sou tão pequena e quero ser menor, quero me resumir, quero ser nada, voar da minha própria pele e não pertencer a ninguém, não existir, pra que ninguém me machuque.

Isso é tudo que eu penso antes que as luzes se acendam e esteja novamente sendo jogada no chão. Gostaria de ser forte e me manter em silêncio diante a dor, mas eu sou fraca e só sei chorar. Só sei espernear e pedir pra parar.

Mesmo sabendo que sou merecedora de toda dor.

— O que você disse aos seus professores, caralho?! — Meu pai indagou, me fazendo soluçar e eu neguei com a cabeça.

Nada. Sou quieta, como você me disse pra ser.

— Eu não disse nada, papai, eu juro, eu juro! — Minha voz infantil estava sendo cortada por soluços, eu estava apavorada.

— Como não disse nada?! Você está pedindo pra apanhar mais do que já vai! Por que está mentindo pra mim? Me diga, Chiara, o que você disse?

— Eu não disse nada! — Implorei, um choro alto cortando minha voz.

Ele não acreditava em mim. Claro que não. Eu era sua filha, e como ele, tinha veneno em minhas veias. Tudo que ele sabia fazer era pecar, mentir, e como ele, eu sou. Por isso me odeio.

Eu tinha 8 anos quando descobri que odiava meu pai, e por isso que me odiava. Eu odiava tudo que vinha dele, e por isso me odiava, ou minha mãe, ou meu país, ou meu nome escolhido por ele. Meu sangue, minha pele.

Aquele dia eu apanhei tanto que dormi chorando por medo de não acordar, mas acho que teria sido um alívio. Acho que teria sido um livramento. Me arrependo de ter acordado, pois no dia seguinte tudo foi diferente, tudo estava mais cinza.

Algo em mim havia morrido e era a minha vontade de viver. Aquele dia, foi por muito tempo, o último dia que senti medo de morrer.

Troquei de escola, mudamos de casa. Fiquei indiferente, tanto faz. Era culpa do meu pai que eu existia, eu queria acabar com ele, com minha mãe, e depois comigo.

Queria acabar com essa dor herdada de gerações, com essa agonia que nos devora, com essa droga correndo em nossas veias.

Nunca tive certeza do porque não me tiraram de lá, porque nunca fizeram uma intervenção, porque nunca deixaram as coisas mais fáceis me levando para longe de tanta destruição, ódio e violência.

Mas tudo bem, porque o meu ódio fez isso por mim.

Roubei dinheiro dos desgraçados dos meus pais e comprei documentos falsos, coloquei o traficante deles em uma enrascada e fui para fora do país.

Ganhei o instinto de sobreviver somente quando tive vingança pelo meu eu.

Sou Dahlia, não Chiara. Enterrei esta sobre as minhas próprias cinzas para que ela jamais venha à superfície e eu continuo odiando ela apesar de sua inocência.

Eu tinha 16 anos em um mundo cruel, mas eu me livrei de mãos mais cruéis ainda e pude dar um gosto a eles, um gosto de como era o desamparo e o desespero.

Estar nos Estados Unidos não foi fácil, mas eu sobrevivi quando nem mesmo tinha vontade, então agora, livre de meu antigo nome, sendo outro alguém, eu viveria.

Apesar do mundo querer ou não querer.

Perdi minha juventude sendo uma adulta, abri mão da minha inocência para sobreviver. E eu só cheguei tão longe pelo instinto preso em mim.

(N/A):
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Oi, só pra esclarecer:

Sim, a Dahlia na verdade é Chiara, e ela vive ilegalmente nos Estados Unidos, mas ninguém sabe... ou será que sabem sim? 🤭

Quem vocês acham que sabe o segredinho dela? Ps. Não é a Johanna.

Arrogance • Billie Eilish [G!P]Onde histórias criam vida. Descubra agora