Jardim cinzento

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Regory caminhava pela casa procurando seu sobrinho, encontrando-o sentado em uma estrutura elevada de frente para o jardim, em um andar acima, era uma espécie de mureta com vigas, onde o jovem estava apenas observando em silêncio aquela paisagem cinza.

Ao se aproximar, Regory segurou o rosto de Anthony apoiando o polegar em seu queixo, virando-o de um lado para o outro afim de observar melhor os machucados dispersos pelo canto do lábio e acima da sobrancelha. Dois cortes e um hematoma arroxeado em sua maçã do rosto.

— O que você fez para ele? — perguntou com uma expressão branda, referindo-se ao velho Lubari. Era fácil reconhecer quando ele punia seu neto por algo

Anthony remexeu seu rosto afim de sair do toque de seu tio, rejeitando qualquer ponto de preocupação do mais velho.

— Como se fosse preciso um motivo plausível.

— Foi por causa de Gerard?

Anthony encarou seu tio arqueando as duas sobrancelhas.

— Foi você?

— Claro que não, sei o que ele faria com você se tivesse visto o mesmo que eu vi quando entrou com Gerard naquela passagem do salão — Anthony ouviu a última parte com apenas uma das sobrancelhas arqueadas — Eu não estava seguindo você, vi vocês por acaso. Depois saíram uma bagunça de lá, não foi minha intenção ver aquilo.

— Vou acreditar que você não é algum tipo de pervertido que fica seguindo seu sobrinho por aí.

— Henrylly desconfia de você com ele, seja lá o que for isso, deveriam tomar cuidado — Regory olhou para o lado e viu Gerard se aproximando de onde os dois estavam — eu falo sério — ele direcionou seu olhar para a direção de Gerard, fazendo com que Anthony olhasse também, o homem se aproximando sem pressa.

— Você pode sair agora — era mais uma ordem do que um pedido ao seu tio, que foi obedecida. Apesar de Henrylly ter zelo com Anthony como se o rapaz fosse um filho, ele obedecia a hierarquia, sabia que seu sobrinho estava acima dele. Ele sabia quando podia ser seu tio, e sabia quando ele estava falando com um servo, e Anthony podia ser violento quando nos momentos em que o via como um serviçal.

Gerard viu Regory se retirar, e começou a se aproximar um pouco mais rápido quando notou que o rosto de Anthony estava machucado. Ele o pegou da mesma forma que seu tio havia segurado antes, com o polegar apoiado em seu queixo e silenciosamente começou a olhar cada detalhe daqueles machucados.

— Quem fez isso com você? — perguntou seriamente.

— Pare com isso — ele virou o rosto com a expressão descontente.

— Está irritado hoje.

— Estou com meu humor habitual, nauseado com essa paisagem em preto e branco — ele pegou uma pedrinha presa a viga e atirou em uma árvore seca no jardim — cresce alguma coisa aqui além de maçãs? É tudo frio e seco.

— Que tipo de coisa cresce no seu continente? — Gerard sentou-se de frente para Anthony.

— Frutas, legumes, tudo o que trouxemos foi cultivado lá. Não importamos de outros lugares que nem vocês.

— Você odeia Andally — Gerard deu um leve sorriso — por que continua aqui? Não é obrigado a ficar para coroação.

— Eu sou... — ele interrompeu a própria fala quando se lembrou que não podia contar justamente a Gerard sobre seu avô — tenho interesse em ver sua cara quando subir ao altar para se casar e depois ser coroado — ele sorriu forçadamente de uma forma sarcástica, mas desfez a expressão quando notou que Gerard permaneceu sério — Quando foi que você... sabe?

— Medindo suas palavras?

— Você já sabe.

— Quer saber quando comecei a me interessar por você.

Anthony franziu o cenho, envergonhado. Aquele assunto parecia ridículo demais para ser tratado, ele se arrependeu de ter começado.

— Na verdade acho que não quero não — ele tentou desviar o assunto. Mesmo com toda sua posição, Anthony ainda era apenas um garoto, haviam coisas que o lembravam disso.

— Foi quando vi você tocando.

Anthony não respondeu. Ele não sabia o que dizer, os momentos em que ambos estavam juntos em frente a um piano foram os mais singelos que eles tiveram, e ele gostava. Mas ainda não era isso que deveria responder enquanto Gerard o olhava como quem dizia e então? E você? Mas ele não queria responder.

Continuou em silêncio quando se levantou para sair dali, chamando a atenção de Gerard.

— Aonde você vai? — Gerard perguntou o encarando.

— Espairecer.

— Você vai vê-lo? — ele se referia a Rhagar. Anthony se virou para Gerard novamente, franzindo o cenho.

— O que isso tem a ver com você? Corra para sua noiva ou coroa ou seja lá o que tudo isso for.

— Nunca se importou com essas coisas antes.

— Eu digo o mesmo a você.

Anthony saiu andando sem olhar para trás, Gerard novamente permaneceu no mesmo lugar, dessa vez se perguntando se havia feito a coisa errada na noite anterior. De repente parecia tudo precipitado demais.

Andally [FRERARD] Onde histórias criam vida. Descubra agora