Sobrenome maldito

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Mar do Limite

— A manhã está completamente cinza — O jovem de roupas escuras e com adereços que imitavam ossos se debruçava na proa do enorme navio, sentindo o vento gelado passar por suas bochechas como navalhas.

— continente Andaly, jovem mestre, tem fama por ser extremamente gélido em todas as épocas, incluindo o verão — o serviçal estava parado um pouco atrás do jovem.

— Eu chamo isso de clima fúnebre — o jovem respondeu com um leve riso enquanto se encolhia em suas vestes de couro.

— Mas é um clima fúnebre... — o serviçal respondeu com cautela - meu senhor.

— Anthony, não fique tão perto da proa, você não tem miolos o suficiente para se equilibrar de volta caso penda para frente! — Um homem alto de cabelos escuros apareceu o convés usando vestes com adereços semelhantes aos do jovem debruçado.

— Que grosseria, meu tio — O jovem respondia com sarcasmo enquanto ajeitava a postura, caminhou até em frente ao homem de cabelos escuros.

— Seu sorriso deve sumir assim que zarpamos, Andaly deve ver suas condolências.

— Não tenho interesse em parecer sensível, eles vão nos apedrejar assim que anunciarem nosso sobrenome — Anthony subiu na proa se segurando a uma viga de madeira do navio afim de tentar enxergar um distante resquício de terra a vista — Afinal, foi o Sol Maior que massacrou aqueles que virarão carvão daqui pro por do sol, não é?

— Garoto inconsequente! Meça suas palavras! — o tio puxou o jovem de cima da proa de forma que ele caísse de pé porém ainda de mal jeito — Controle sua postura mesquinha diante dos anciãos e da trindade. Entendeu? — esbravejou enquanto segurava firme o pulso de Anthony.

— Foi claro como o azul de seus olhos, caro tio.




Salão Real

Seis homens estavam reunidos em volta de uma grande mesa, em silêncio. O luto de Henrylly tomava conta do lugar como uma fumaça cinzenta que invade os pulmões daqueles que a inalam. Sem nenhum tipo de conforto, a raiva pela traição e o nó em sua garganta quase o impediam de falar.

— Foi um ataque pensado — Beung, um dos três anciões, quebrou o silêncio — eles sabiam exatamente quem atacar e quando atacar. O único erro foi o jovem Heraklion não estar no salão, eles não contavam com isso.

— Os Myaway eram o alvo, foram eles os cercados desde o início — Briel completou.

Henrylly continuava em um silêncio agonizante para quem observava atentamente.

— Se Heraklion era o alvo, eles podem voltar a atacar? — Outro ancião, Mergy, perguntou. Finalmente Henrylly levantou o olhar para os presentes na sala, fazendo com quem todos ficassem em silêncio esperando sua fala.

— Eu sequer dei um funeral a minha esposa, meu filho sequer conseguiu se despedir dos corpos físicos da mulher e do seu primogênito que jamais nascerá, e vocês me chamam para discutir um ataque que obviamente foi realizado por traição do próprio conselho? - Henrylly cuspia as palavras com ódio.

— Com respeito ao seu luto, Henrylly, mas sugere que alguém do próprio conselho organizou essa chacina? Acusa os anciãos de terem um traidor? — Beung indagou indginado com as acusações do líder Myaway — Prefiro considerar seu luto um obstáculo da racionalidade para tamanho desrespeito.

Andally [FRERARD] Onde histórias criam vida. Descubra agora