Andally [FRERARD]

Sangue e álcool

Indecifrável

Anthony estava em casa, mas não em sua casa Real com tons acizentados e brilhantes adereços prateados. Essa casa parecia decadente, praticamente insalubre, as paredes cheiravam a mofo e o ambiente era úmido. Ele se encontrava perdido em meio a falta de luz no ambiente, até escutar uma voz familiar.

— Frankie! — O velho homem gritava em fúria. Anthony olhou para seu reflexo em um tipo de prato enferrujado em uma mesa de madeira no centro do cômodo. Ele vestia uma blusa de linho surrada e sua aparência era a mesma de quando criança — Frankie, o que você fez?

Anthony sentia seu coração acelerar com a voz do homem, suas mãos suavam frio e tremiam. Sua respiração era excessiva. Ele correu para se esconder,  podia escutar os passos indo em sua direção. O medo o dominava.

— Vovô- Antes que pudesse falar algo o homem o puxou pelo braço, apertando e machucando-o.

— Eu recebi reclamações do comércio de novo, seu pirralho! Você andou roubando e deixou que te vissem! Idiota! — o velho homem ignorava os gritos de seu neto deferindo tapas e socos em seu rosto, enquanto o pequeno tentava se desvencilhar sem sucesso.

— Papai,  papai ele é apenas um menino faminto! Pare, está machucando-o! — A mãe desesperada tentava tirar seu filho das mãos do próprio pai.

— É uma criança imbecil, incapaz de roubar sem ser visto. Você o criou assim sua imprestável!

O velho homem atirou o prato enferrujado na direção de Anthony e de sua mãe, mas antes que a louça os atingissem, ele acordou. Sua respiração acelerada e seus batimentos cardíacos completamente bagunçados. Sentia como se o coração fosse explodir a qualquer momento. Olhou ao redor das paredes douradas do quarto de hóspedes da casa Myaway, aquela foi a única vez que se sentiu aliviado por estar naquele lugar. O que o acordara era um bater contínuo na porta dos aposentos. Ele ordenou que entrassem.

— Sir Taalbyar, uma carta de seu avô.

Anthony sentiu o corpo gelar com a informação. Ele sequer se levantou,  apenas estendeu sua mão para que o pajem levasse o papel até ele. Ele abriu a carta receoso.

"Meu caro neto, recebi recentes informações sobre sua postura na Corte de Andally. Ao contrário de seu tolo tio, não o julgarei por tamanho desrespeito. Na verdade mudarei os planos. Agora conto com sua ferocidade para adentrar a guarda real dos Myaway seguindo os passos de seu avô como comandante. Confio em suas habilidades como guerreiro e eles também confiarão.
Soube do seu atrito com o herdeiro Heraklion, ordeno então que deixe de lado qualquer um que seja, será mais útil para a aliança que se torne seu braço direito. Aproxime-se dele.
Estaremos de olho em sua conduta até que seja seguro eu mesmo por meus pés em Andally.
De seu avô, Claud"

A carta deixou um sabor amargo para Anthony, que a amassou e a jogou do outro lado do quarto. Em seguida levantou, irritado. Quando caminhou até a janela para tentar respirar ar fresco com mais facilidade, seus pulmões foram invadidos pelos ventos gelados de Andally, causando um leve incômodo. Ao olhar para baixo na área externa através da janela, notou Gerard acariciando um de seus cavalos. Vê-lo o deixou com ainda mais raiva. Ele pegou um dos candelabros e o atirou longe na parede próxima a porta, a peça se estilhaçou.

— Pelos deuses! — Regori entrou assustado — Anthony?  — ele olhou para seu sobrinho claramente transtornado — Garoto, vista algo,  está um gelo hoje — o tio se aproximou com uma túnica de pele de raposa para cobrir Anthony.