Capítulo Quatro

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This world can hurt you
It cuts you deep and leaves a scar
Things fall apart
But nothing breaks like a heart
And nothing breaks like a heart

Uma das perguntas genuínas que Lan XiChen tinha para si mesmo era se, um dia, ele seria capaz de se acostumar com o silêncio profundo que todo o salão fazia quando ele chegava para as refeições. Enquanto se acomodava em sua mesa solitária, o desconforto fazendo sua pele coçar, a resposta clara era que possivelmente não, sempre seria igualmente aquele sentimento que fazia seu estômago embrulhar. Ainda assim, ele fez o possível para respirar fundo e contar os batimentos cardíacos até que as conversas retornassem e ele se sentisse um pouco mais confortável consigo mesmo.

Era o horário do almoço, o que ele menos gostava, visto que Huaisang dificilmente estava lá para lhe fazer companhia. Naquela mesa, totalmente sozinho, ele quase não comeu. Seu estômago, por si só, já estava embrulhando, um presságio do pior momento do seu corpo no dia que viria dali há, no máximo, uma hora e meia. Assim, XiChen passou a contar mentalmente quanto tempo seria aceitável ficar ali apenas para que ninguém pudesse dizer que ele não foi antes de voltar a se recolher em seus aposentos.

O chá, diferente da comida, fazia um bom trabalho em acalmar a náusea desagradável do seu corpo fragilizado então era o que ele mais bebericava, esperando ansiosamente o momento para sair dali. Seus pensamentos profundos foram interrompidos, no entanto, por um barulho animado de pequenos pés na direção da sua mesa.

Surpreso, o ômega se virou na direção do som para ver Nie Quon correndo em sua direção, animado. Na porta de entrada, uma de suas mães chamou seu nome, mas não foi o suficiente para pará-lo. O garotinho efusivo já estava ao seu lado:

— Lan-gongzi, Lan-gongzi!

XiChen observou as bochechas coradas do garoto e seu sorriso faltando um dos dentes, a expressão mais adorável que encheu seu coração de carinho, embora que nunca falhasse em cutucar seu luto doloroso. Ele se virou para poder encarar a criança melhor e dar-lhe a atenção solicitada:

— Sim, A-Quon?

Nie XinYu e Nie YingLuo já estavam logo ao lado do filho, claramente incomodadas por ele estar tão abertamente perto de XiChen na frente de todos. Não passou despercebido para o ômega como a maior parte do salão estava olhando para eles, alguns mais discretos que outros e ele imediatamente compreendeu as mães do garoto não desejarem aquela atenção para o pequeno. No entanto, nem ele e nem elas foram capazes de interromper a animação dele enquanto dizia:

— Mestre Nie elogiou minha caligrafia hoje! Ele disse duas vezes que eu estava segurando certinho o pincel!

A felicidade da criança e o conteúdo de sua fala imediatamente encheu o coração de XiChen de alegria. Durante o tempo na biblioteca, A-Quon gostava de ficar em seu colo acompanhando com os olhos as palavras que ele estava traduzindo em voz alta ou pintando despreocupadamente enquanto XiChen traduzia. Entre um intervalo e outro, quando ele estava pintando, XiChen o ajudava no movimento do pincel e o ensinou alguns caracteres, despretensiosamente. Claramente aquilo havia obtido algum resultado.

— Parabéns, A-Quon! Estou muito feliz por você ter sido elogiado! Mais tarde você pode me mostrar o que você escreveu hoje na aula.

O garotinho pareceu se acender frente ao elogio de XiChen, o sorriso aumentando enquanto os olhos brilhavam. Nie XinYu, sua mãe, no entanto, colocou uma das mãos na cintura e olhou para o filho:

— Você fala disso, mas aposto que não contou para Lan-gongzi que o mestre Nie também precisou chamar sua atenção por fugir de novo.

Nie Quon murchou, parecendo envergonhado por ter sido revelado pela sua mãe enquanto sua outra matriarca escondeu um risinho discreto atrás da palma. XiChen, interiormente, também precisou esconder um sorriso indulgente. Ele havia saído de um local de muitas regras e disciplina, ele mesmo sendo um modelo quase impecável de obediência, mas sempre havia acreditado que certas indulgências são necessárias, especialmente quando se trata de crianças. Ainda assim, ele fez o seu melhor rosto tristonho quando perguntou:

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