Capítulo Oito

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Maybe I'm foolish
Maybe I'm blind
Think I can see through this
And see what's behind
Got no way to prove it
So maybe I'm blind
But I'm only human, after all
I'm only human after all
Don't put your blame on me

Campanha Queda do Sol, cerca de três anos e meio antes

O dia seguinte depois do recebimento da carta foi um borrão para XiChen. Ele estava lá, mas não estava. Ele fez todas as suas obrigações do dia como um fantasma, sem conseguir parar de pensar na carta que estava escondida dentro do seu colchão. Todas as suas ações foram automáticas porque, durante cada segundo do seu dia, estava pensando no que tinha lido.

XiChen havia enrolado a fita de WangJi no seu braço, escondida pela manga. Ele estava hiper consciente dela o tempo todo e, ao mesmo tempo que o consolava por finalmente saber onde estava o seu irmão e das grandes chances de ele estar vivo, também o deixava totalmente pensativo sobre o que faria em relação ao que estava escrito naquela carta.

Durante todo o dia ele estava em forte ponderação. O ômega tinha plena consciência de que era uma armadilha. Não tinha como não ser. Se eles mandaram aquela carta, eles tinham algo em mente. Aquela ameaça no fim sequer tinha sentido. Não tinha lógica nenhuma abrir mão de um refém precioso como Lan WangJi. Ainda assim, XiChen estava disposto a arriscar?

Ele sabia que o correto a se fazer era levar a carta para o Conselho e decidirem o que fazer todos em conjunto. Ainda assim, por mais que ele soubesse, não conseguiu fazer isso. Mesmo quando ele recebeu Nie MingJue em sua tenda e tinha dito a si mesmo que contaria, acabou ficando mudo. O alfa entrou e saiu sem saber do que tinha acontecido e da angustiante dúvida que estava atravessando Lan XiChen.

Se a carta fosse levada para o Conselho, eles discutiriam o que fazer pensando no que era melhor para a guerra e para a Campanha Queda do Sol. E Lan XiChen não queria pensar no que era melhor para a guerra; ele queria pensar no que era melhor para o seu irmão. Lan WangJi era a única coisa com a qual Lan XiChen se permitia ser egoísta, sempre foi.

Quanto a Nie MingJue, uma das coisas que ele mais amava no seu alfa era justamente que ele priorizava o coletivo em cima do individual. Ele sempre foi assim, desde que eles eram jovens e isso era um dos fatores que fez o ômega acreditar que ele seria um excelente líder, como de fato, era. Mas, naquela situação, isso também significava que Nie MingJue pensaria no que era melhor para a guerra como os outros.

Por causa disso, Nie MingJue não deslocaria soldados, recursos e estratégias se o Conselho decidisse que não era o melhor. Mas se Lan XiChen pedisse, Nie MingJue iria com ele para lutar pelo seu irmão e então os dois cairiam numa armadilha. Para a guerra, seria um desastre perder o General e o Vice General de uma vez só, mas o que o impedia mesmo era o seu coração. Ele jamais pediria para Nie MingJue acompanhá-lo para o olho de uma armadilha.

Naquela noite, ele se sentou na cama, muito mais tarde do que o seu horário habitual de dormir, segurando nas mãos a fita do seu didi sem conseguir parar de olhar para ela. Seus dedos estavam tremendo sem que ele conseguisse conter enquanto se lembrava das tantas vezes que ele mesmo havia amarrado essa fita atrás da cabeça de Lan Zhan.

XiChen amava seu irmão com todo o seu coração, com tudo que existia dentro dele. A primeira lembrança que ele tinha da sua vida foi o momento em que Lan Qiren colocou WangJi em seu colo. O ômega tinha cerca de três anos e estava com tanto medo de machucar o bebê que pediu para o tio não deixar de segurar WangJi. Assim que o bebê estava em seus pequenos bracinhos ele piscou os olhinhos dourados, relaxou e adormeceu encostado em seu peito. Foi esse o momento que Lan XiChen foi atravessado por tanto amor que ele se assustou e ali ele soube que faria qualquer coisa por aquele bebê.

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