Capítulo Vinte e Seis

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I thought my demons were almost defeated

But you took their side
And you pull them to freedom

Lan XiChen acordou no horário de costume, às cinco da manhã, como sempre o fazia. A cama estava quente e macia e, por mais que uma parte dele estivesse sendo convidada a se enrolar nos cobertores e ficar mais um pouco, anos e anos de disciplina Lan fizeram com que ele vagarosamente se levantasse, com cuidado para não acordar a figura adormecida de Nie MingJue que estava profundamente adormecido, longe da sua própria hora de acordar.

O ômega calmamente caminhou até o pátio. Ainda estava escuro em Qinghe e a brisa estava fresca, além do silêncio da manhã que abraçava o ômega com brandura. A Fortaleza ainda estava toda adormecida e ele gostava de aproveitar seus momentos solitários com os próprios pensamentos para meditar e treinar suas formas de espada pacificamente enquanto observava, aos poucos, o sol nascer no horizonte.

Perto das seis horas da manhã, o ômega estava em um dos quartos de banho da fortaleza dentro de uma banheira de água quente para começar o dia. Ele preferia tomar banho fora do quarto para não correr riscos de acordar o marido e para ter a liberdade de cantarolar baixinho o quanto quisesse.

Às seis e meia da manhã, quando a Fortaleza ainda estava relativamente silenciosa, XiChen já estava vestido indo na direção da porta que ficava na frente dos aposentos de Nie MingJue. Calmamente, como todos os dias desde que voltara da Torre da Carpa, ele abriu a porta e, assim como todos os dias, seu coração saltou dentro do peito e disparou quando viu JingYi perfeitamente adormecido entre seus cobertores.

A essa altura, quase três semanas depois de retornar de Lanling, era de se esperar que ele já tivesse se acostumado com a existência do seu filho. Ainda assim, ele ficava encantando e surpreso a cada vez que olhava para ele e sempre precisava de alguns minutos para apenas encarar o peito de JingYi subindo e descendo em uma prova de que ele estava respirando, que estava vivo e bem ali, ao alcance do braço do pai.

Nos primeiros dias, Lan JingYi precisou dormir com ele no quarto de Nie MingJue porque ele se viu incapaz de se afastar da criança, mesmo no momento de dormir. Ele temia fechar os olhos e então não o encontrar. No começo, mais de uma vez, ele havia acordado hiperventilando e chorando, com medo de que tudo houvesse sido apenas um longo sonho e que, na verdade, seu filho ainda estava morto. Nesses momentos, ele precisava ter o pequeno adormecido bem ao seu lado para alcançá-lo, abraçá-lo, sentir sua respiração e se convencer de que era verdade.

Não era uma coisa que havia deixado de acontecer. Há dois dias, XiChen acordou no meio da madrugada e precisou ir ao quarto de JingYi para checar que ele estava lá mesmo, vivo e saudável. Mas estava acontecendo menos frequência e, de qualquer forma, o ômega precisou ceder a um quarto para o filho para não levantar nenhuma desconfiança sobre sua aflição em mantê-lo tão perto.

Passado seu momento de contemplação, XiChen se ajoelhou aos pés da cama do filho e calmamente acariciou os cabelos escuros da criança adormecida:

— Minha nuvem, já está na hora de acordar... — Ele cantarolou baixinho, cheio de ternura.

JingYi, como na maior parte dos dias, afundou o rostinho no travesseiro e resmungou alguma coisa inteligível, voltando a dormir. XiChen riu com o seu dorminhoco — ele era assim desde bebezinho, nada fácil de acordar pela manhã e era algo que não tinha mudado — e continuou com seu carinho nos cabelos.

—...não adianta, meu pinguinho, você precisa despertar para comer e ir para a aula.

— Só mais um 'oinho, Baba.

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