traitor

Capítulo Vinte e Dois

No, I don't care about the pain
I'll walk through fire and through rain
Just to get closer to you
You stuck on me like a tattoo

Reino Impuro, cerca de seis meses antes do casamento

Nie Mingjue sabia que tinha algo errado quando Jin Guangshan apareceu em Qinghe — sem ser convidado — com as comissões das seitas mais influentes no mundo do cultivo sem a presença de nem mesmo uma pessoa dos Lans. Ele e Wei WuXian, que acompanhava o irmão marcial e Líder da Seita Jiang, trocaram um olhar no momento em que se viram que demonstrava que pensavam a mesma coisa. A suposta reunião que visava discutir sobre o pós-guerra era suspeita, visto que eles já tinham tido várias dessas na Torre da Carpa e não fazia sentido discutir isso sem um representante dos Lans visto que, além de serem uma das grandes seitas, também tinham, sob a liderança de Lan WangJi, lutado com eles e feito diferença no resultado da guerra.

Ele entendeu, no entanto, quando depois de três pautas puramente ilustrativas e inúteis, Jin GuangShan trouxe à tona a traição de Lan XiChen. Foi como jogar sal numa ferida aberta e pulsante. Nie MingJue sabia que Jing GuangShan, o bastardo, queria atingi-lo e acabou funcionando porque ele não tinha a menor condição de discutir a respeito do homem que já havia sido considerado a Primeira Jade de Lan e o amor de sua vida.

Foi por isso que, sem se explicar ou dizer uma palavra, ele se retirou do salão e se entocou na sua sala com uma jarra de bebida, decidido a deixar que eles discutissem aquele assunto sem ele. Sua opinião, de qualquer forma, não poderia ser levada em consideração, totalmente inundada por sentimentos de dor e traição. Ao invés de ficar ouvindo aquilo, ele optou por ser miserável na sua intimidade com a companhia de um bom copo do álcool mais forte que ele tinha disponível.

Olhando para o líquido transparente do seu copo, que podia ser o quarto ou o quinto, ele rosnou para si mesmo e para o grande idiota que ele estava sendo, ainda totalmente abalado pelo homem que foi responsável pela morte de boa parte dos seus pelotões, pelo homem para quem ele havia confiado tudo que havia de mais íntimo e importante e havia o esfaqueado pelas costas sem remorso. Era ridículo! Ele devia estar lá argumentando sobre o ômega desprezível, mas mesmo ouvir o nome dele fazia seu coração doer tão profundamente que era quase insuportável.

Patético, ele era patético.

E, por mais patético que fosse, ele era um patético com tanta dor que nem todo o álcool do mundo poderia lavar. Todas as vezes que ele precisava lembrar do acontecido ele precisava se deparar com a sua própria culpa: quantas pessoas morreram porque ele havia decidido confiar em Lan XiChen? Sua seita confiou nele e ele confiou no ômega e, por causa disso, MingJue estava em pedaços e muitas pessoas jamais voltariam para suas casas.

O barulho da porta de sua sala o despertou. Só havia uma pessoa ali com coragem o suficiente pra entrar sem bater então ele não se surpreendeu nada quando viu Nie Huaisang entrando sem cerimônias e se jogando esparramado no sofá como se fosse a coisa mais natural do mundo, o leque servindo para abaná-lo displicentemente.

— Não estou com paciências para aturar suas besteiras hoje. — Ele rosnou olhando para o caçula com toda a força do seu mau humor.

Nie Huaisang, obviamente, nem mesmo moveu um músculo da face, sem a decência de sequer fingir estar levando o irmão a sério. Ao invés disso, ele suspirou dramaticamente, se deitando ainda mais no sofá:

— É muito cansativo ter todas essas pessoas na nossa casa, Da-ge, especialmente quando elas não têm modos. O quão difícil é ter o mínimo de cortesia? — Ele resmungou.

— Você é amigo de Wei WuXian que é literalmente a pessoa com menos cortesia que eu conheço.

— Wei-xiong pelo menos é divertido! O Líder da Seita Yao é descortês e chato, não tem nada para compensar. — Huaisang bufou onde estava. — O que é que eles estão fazendo aqui, afinal? Ninguém me falou que eles viriam.