Capítulo Vinte e Sete

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I never meant to start a fire

I never meant to make you bleed
I'll be a better man today

Quando XiChen abriu os olhos, a suave dor que estava em sua cabeça fez com que, aos poucos, ele tomasse consciência de que a noite anterior não tinha sido a sua melhor. Calmamente as lembranças foram vindo à tona, devagar. Sua espada de volta, a ausência de Nie MingJue no resto da noite, a revista de Nie MingWen, a discussão e o momento em que ele caiu em uma vertigem de desespero em que as memórias começavam a ficar embaçadas. A última coisa que ele se lembrava era de ter se afastado Nie MingJue várias e várias vezes até ceder e se ver em seus braços, com a mão em seu peito, tentando sincronizar sua respiração com o ritmo do coração do alfa. Ele se lembrava de estar murmurando algo, uma frase que também tinha gritado antes, mas não conseguia se lembrar ao certo do que era.

A vergonha do seu próprio descontrole, a dor da humilhação e a raiva de ter tido sua intimidade invadida tomou seu ser quando ele abriu os olhos, mas o que realmente o fez saltar da cama foi perceber que o sol já estava claro no céu, muito além do horário em que ele estava acostumado a acordar.

— Calma, XiChen-ge, calma.

Já de pé, XiChen olhou assustado para Nie Huaisang que estava sentado no sofá em que geralmente Nie MingJue ocupava para adormecer. O quarto estava vazio, além dos dois. Seus olhos vasculharam todo o cômodo, lembrando-se de tê-lo deixado em um estado caótico. Tudo estava, no entanto, arrumado novamente, nem mesmo uma coisa fora do lugar, o que fez com que a noite anterior parecesse ainda mais um sonho febril.

— Já é tarde. — Foi o que ele conseguiu dizer ao cunhado, sua voz levemente arfante.

— Não se preocupe com nada. Da-ge arrumou JingYi, eles comeram juntos e ele o deixou nas aulas. Ele também avisou aos trigêmeos que você não dará aulas hoje. — O ômega mais novo informou, deixando seu lugar para servir um copo de água fresca e colocá-lo na mão de XiChen. — Tudo já está resolvido, fique tranquilo.

Com o copo em mãos, XiChen bebericou a água fresca. Ele até se moveu, instintivamente, para pegar sua caixinha de pílulas debaixo da cama, até se lembrar que ela tinha sido recolhida. Assim, ele apenas tomou mais alguns goles tentando se localizar.

— Obrigado, A-Sang. — Ele agradeceu as informações do cunhado enquanto se sentava na beirada da cama. — O que...

— Eu não sei o que aconteceu. — O ômega mais novo se adiantou, dizendo uma de suas frases mais comuns. — Da-ge só me chamou essa manhã para te fazer companhia. Ele disse algo sobre achar que você ficaria mais tranquilo se acordasse e me encontrasse. O que... o que aconteceu, XiChen-ge?

Para atrasar a resposta, XiChen bebeu mais um gole de água enquanto se perguntava a mesma coisa: o que tinha acontecido? Muita coisa tinha acontecido, mas o quanto era realmente relevante para Nie MingJue? XiChen tinha desobedecido uma ordem, discutido com o líder do clã e então entrado em uma espiral de pânico de um jeito que provavelmente havia confundido o alfa, já que não parecia ter nenhum motivo aparente.

O ômega deveria saber que aquele não era o melhor momento de falar com Nie MingJue. Ele já estava no limite quando entrou no escritório do marido, por um fio. Ele deveria ter esperado, se acalmado um pouco, até mesmo para apresentar seu ponto de uma maneira mais consciente e diplomática, mas simplesmente não conseguiu, justamente por estar em seu limite.

À luz da manhã e mais calmo, ele ainda não aceitaria o que Nie MingWen tinha feito com ele. Ele ainda achava que não merecia aquele tratamento, nem do conselheiro e nem do seu marido, não depois de todo o caminho que eles já tinham percorrido, mas ele certamente conseguiria expor isso melhor do que na noite anterior.

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