Capítulo Seis

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I don't wanna lose part of me
Will I recover?
That broken piece
Let it go and unleash all the feelings

Durante cinco dias depois do acontecimento com os cabelos, Lan XiChen não deixou os seus aposentos, nem mesmo para tocar para Nie MingJue.

O ômega mal conseguiu sair da cama naqueles dias. Foi um pouco parecido com seus primeiros dias na casa das gencianas, naquela época em que Lan Zhan precisava fazer suas tarefas mais básicas com ele, desde a obrigá-lo a comer e tomar água até ajudá-lo a tomar banho e trocar as roupas de cama. Naquele tempo, tudo que XiChen queria era desaparecer e a tristeza o impedia de ter a energia mínima de sobrevivência. Naqueles cinco dias, ele estava se sentindo em um estado muito parecido, exceto que não tinha seu irmão ou seu tio por ele.

Havia Nie Huaisang, no entanto. O ômega havia ido vê-lo algumas vezes, mas XiChen se lembrava de pouco. A voz do Nie mais novo estava muito clara na sua mente, mas, na maior parte do tempo, ele não conseguiu ter energia para focar em tudo que estava sendo falado. Uma parte de sua mente sabia que o mais novo estava preocupado e não era para menos: as comidas enviadas para XiChen estavam intocadas, ele mal saía da cama e só tomava goles de água quando sua garganta arranhava de forma realmente insistente. Ele não estava tomando banho e, muito menos, deixando seu quarto, nem mesmo para o pátio, exceto para dormir à noite em seu banco de pedra.

Ele sabia que estava gerando preocupação no seu cunhado e aquela parte dele que conseguia entender isso queria, desesperadamente, atenuar esse sentimento no outro. No entanto, por mais que ele tentasse muito, não conseguia encontrar energia em meio à tristeza e a culpa pesada que o estava prendendo à cama como nos seus dias mais difíceis.

Ele ainda estava tomando as pílulas. Na maior parte dos dias e dos horários, ao menos. XiChen tinha consciência de que ele esqueceu em alguns momentos e a pior parte era nem mesmo saber se havia sido proposital ou realmente o esquecimento em sua dor. Provavelmente os dois.

XiChen havia chorado em alguns momentos, em dias quase inteiros, mas naquele, em específico, as lágrimas não vieram. Era um daqueles dias que a tristeza o anestesiava e ele não era capaz de sentir quase nada, exceto um vazio consumidor que parecia que iria comê-lo vivo. Quando ele olhava para dentro de si, parecia não haver nada e ele se perguntava qual era o ponto de respirar se existir estava sendo daquela maneira.

Enfiado debaixo das suas cobertas, um dos pensamentos mais recorrentes era que ele precisava escrever para sua família. Desde que ele tinha se casado, escrevia cartas todos os dias, diariamente. Com uma ausência abrupta de mensagens, os destinatários em breve começariam a se preocupar e se perguntar o que havia acontecido, se já não estavam. Ainda assim, ele não conseguia ter forças para se mover e muito menos para escrever três cartas inteiras sem demonstrar que algo estava errado.

Quanto mais dias se passavam sem que ele escrevesse, pior ficava. Afinal, ele não poderia simplesmente fingir que essa ausência de tempo brusca não aconteceu. O ômega precisaria prover algum tipo de explicação e só de pensar em contar o que houve suas entranhas reviravam de maneira quase dolorosa. Como ele explicaria para as únicas pessoas que ainda se importavam com ele no mundo que ele precisou olhar nos olhos de sua culpa e entender que era incapaz de carregá-la?

Os trigêmeos apareciam atrás dos olhos do ômega toda vez que ele os fechava e, na verdade, na maior parte do tempo em que eles estavam abertos também. Ele não conseguia parar de pensar nos irmãos mortos deles, na emboscada, na responsabilidade de XiChen em cima disso. Naquele dia, o que estava em pauta eram os irmãos deles, mas quantos não sentiam o luto porque o ômega havia contado uma informação primordial? Havia contado todas as informações primordiais?

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