Capítulo Quatorze

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AVISO DE GATILHO: Ferimentos em personagem principal; estupro implícito e não-gráfico.

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Well, I know there can come fire from the sky

To refine the purest of kings

And even though I know this fire brings me pain
Even so, and just the same
Make it rain

Recanto das Nuvens, cerca de três anos e dois meses antes

Um dos lugares do Recanto das Nuvens que Lan XiChen mais estava habituado era o famoso muro de regras da entrada onde todas estavam descritas em pedra. Costumava ser um baque para todos os visitantes e o ômega, secretamente, achava um pouco divertido ver algumas reações dos jovens de fora quando eles o viam pela primeira vez quando iam para as palestras do clã.

XiChen reconhecia que o local era intimidador, mas, para ele, guardava uma nostalgia suave. Os Lans aprendiam a valorizar aquelas regras com todo o coração desde que eram crianças. Ele se lembrava perfeitamente da primeira vez que Lan Qiren o havia levado ali. XiChen ainda era pequeno o suficiente para que seu tio o tivesse carregado nos braços, assentado sobre seu quadril. Algumas pessoas poderiam achar estranho que fosse um momento tão intenso de amor e carinho familiar o momento em que seu tio o apresentou para as regras pela primeira vez, mas foi.

Quando Lan Qiren levou Lan Zhan pela primeira vez, Lan XiChen também estava presente, dessa vez andando sobre seus próprios pés, as perninhas curtas paradas enquanto ele ajudava o tio a apresentar para o seu caçula o que seria os maiores pilares de suas criações.

Ele não precisava mais olhar para o muro de pedra onde elas estavam escritas para se lembrar porque poderia recitá-las com facilidade, na ordem, cada uma delas. Ainda assim, o local parecia dar a ele o ambiente perfeito para pensar sobre o que estava percorrendo sua mente.

XiChen tocou com cuidado a rachadura que foi feita na invasão, atravessando boa parte dos escritos. Ele queria reconstruir e até mesmo tentou argumentar com Wen Xu que reconstruir poderia ajudar com a farsa, mas o alfa não permitiu dizendo que aquela rachadura era uma prova de que as regras que faziam com que os Lans se achassem tão superiores não foram capazes de salvá-los.

Aquela rachadura, de fato, causava um esmagamento no peito do ômega. Ainda assim, não deixava de ser o local de sua infância e as regras que formaram quem ele era. Mesmo aquilo não poderia tirar o potencial de ponderação do lugar.

E ele estava ali para isso, para ponderar, para tomar uma decisão que ele não imaginava que teria de tomar tão cedo.

O ômega pousou a mão em seu ventre liso tentando sentir alguma coisa, mas ele não sentiu nada. Não havia amor e nem ódio. Ele queria poder sentir algo. Seria fácil então, responder Wen Qing. A médica havia oferecido para ele a decisão de interromper a gravidez, caso ele desejasse. Se ele optasse pela interrupção, ela faria tudo em segredo e Wen Xu jamais saberia. A ética médica dela, da pessoa que ela era, da relação que eles construíram, impediriam que ela sequer cogitasse fazer com que XiChen prosseguisse numa gestação de uma relação não consensual caso ele não quisesse.

Se ele amasse profundamente a criança que crescia em seu ventre, seria fácil negar. Se ele a odiasse profundamente, seria fácil aceitar. Mas a indiferença tornava a decisão difícil. Porque a verdade era que XiChen não conseguia sentir nada por aquilo que crescia dentro dele, como se estivesse anestesiado. Parecia errado, mas não errado o suficiente para gerar ódio ou raiva, apenas era como se algo estivesse deslocado.

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