Prólogo

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Diane

Fim de tarde, 03 de setembro, 2015.

O vento brincava com as flores, as borboletas dançavam livremente em torno dos pés de jasmins, parecia até uma blasfêmia, pensou ela, a beleza naquele cenário mórbido no qual se despedia de sua alma gêmea, com os olhos inchados, vermelhos como pimentas do Chile, balbuciava as letras miúdas, douradas, "Viveu e Amou intensamente, na mesma medida foi amada, saudade eterna..." Gabryella Siqueira Fontenelle" (29-02-1988 a 01-09- 2015)

Dianne 

Quem disse que o caos tem um limite, na certa nunca perdeu uma irmã de alma como eu...Aliás as pessoas que mais amei na vida já me deixaram, de alguma forma eu fiquei para trás.

 Posso culpá-las, odiá-las? 

Só por um instante sei que posso e vou. Depois irei lembrar do quanto eu as amo e vou ser grata por ter terem me permitido amar tanto.

Gaby, sei que você amava ler as cartas, sei disso porque você literalmente leu as cem que escrevi. Não sei se consigo escrever novamente, a dor sugou todas as palavras bonitas que eu tinha. Vou ler agora o rascunho que fiz pra você, não lembro exatamente a hora, você sabe que perco a noção do tempo quando passo mais de 72 horas acordada, e agora já passa disso, eu não contei o tempo, foi o que me disseram hoje pela manhã. "Você realmente precisa descansar", uma senhora me disse quando eu vinha para cá, aliás nem sei como acertei o caminho, se mal consigo assimilar as coisas ao meu redor. Estou divagando, né?

Querida Gaby, está frio aí?Aqui dentro de mim, meu coração virou uma nevasca sabe? 

É como se o sol se recusasse a nascer, deve ser protesto por sua partida.

Tá silêncio demais aqui fora, você sabe que sem você aqui nada parece certo?

Mas é claro que minha vida precisava ser um caos! 

E o meu agora tá uma droga, ah desculpe. 

Agora eu só posso ver seu sorriso congelado na fotografia, não posso mais te abraçar, suas mãos estavam tão frias Gaby. 

Eu sei que as pessoas não entenderam o motivo pelo qual não fiquei no seu velório, eu não consegui mana, me perdoe, por favor.

Eu não tive forças, eu sei que ninguém lá, exceto sua mãe, lhe amou mais nessa vida do que eu Gaby, eu trocaria de lugar com você se pudesse, gostaria que você pudesse ver sua filha crescer, se formar, casar, não necessariamnete nessa ordem , né? eu sinto tanta raiva de mim por não ter impedido, eu senti tua partida e não pude fazer nada.

Que droga! Eu sou uma péssima amiga, não sou?

Eu sei que provavelmente você me diria (se pudesse) para eu não endurecer o coração, que todas as coisas acontecem por uma razão especial e que vai ficar tudo bem, que Deus sabe todas as coisas e que Ele nunca falha, é muito sua cara dizer essas coisas.
Mas...amiga, eu não consigo mais ter fé como antes, me desculpe! Eu...eu, cansei desse mundo, caótico. Sinto muito!  

Queria te odiar só por um instante por ter ido sem mim, mas você é diferente dos outros, metade de minha alma se foi contigo, só por isso eu te perdoo. Te amo mana. Te amarei para sempre!Nunca vou esquecer você.Prometo.

Ps. Você me perdoa? Eu não pude ficar no seu velório, a porra do trauma, você sabe... Desculpe mesmo. Vou deixar essa rosa branca aqui, ela parecia solitária no caminho, 

então eu a trouxe pra você, que sempre soube ser tão acolhedora.

Não se preocupe com nada, está bem? Vou cuidar dela por você. Sarah vai ser uma grande pessoa como você. Adeus!

Antes de dá o primeiro passo em direção ao grande portão da saída, as lágrimas embaçaram seus olhos que ardiam como se o Saara tivesse se deslocado para dentro deles, sua alma frágil havia encolhido, ou abandonara seu corpo sonolento e frio?
Viu estrelas,
viu o céu sob seus pés,
uma nuvem escura,
um abraço quente a acolheu (...)















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