Dona Simone, a boa ouvinte! Novembro, 2015
Depois de mais uma longa noite de ansiedade e insônia, Diane despertou as oito e trinta daquela manhã alegre de verão e desta vez não quis tomar seu banho e trocar de roupa de imediato, estava cansada demais para isso, apenas fez um coque no cabelo e saiu do quarto de pijama.
"Vamos tomar café na varanda hoje, Dona Simone?"
"Sim, querida. Vou preparar tudo. Em três minutinhos estará pronto. Pensei que você fosse dormir até mais tarde."
"Eu ajudo. Nem consegui dormir por conta da emoção da festa," respondeu ela com um sorriso, e logo em seguida, levou sua mesinha de vidro da sala de estar para junto do banco de madeira rústica na varanda. Não demorou muito e estavam lá, prontas para uma longa conversa.
"Eu admiro muito você, Diane. Você é uma mulher independente e corajosa. Mas acho que você se esconde do mundo. Do que você tem medo? De que descubram a pessoa incrível que você é?"
"Eu ainda não estou pronta, carrego alguns fantasmas do passado. Eles pesam tanto que não me deixam viver em paz."
— Quer me contar sobre seu passado? Já faz um tempo que trabalho aqui e você nunca me contou sua história completa. Por que se separou de Rubem?
— Ah, sim, vou contar tudo. Mas, em minha defesa, a senhora é mais misteriosa que eu, Dona Simone. Lembro-me de quando me chamou naquele portão pedindo abrigo naquela noite — Diane enfatizou a palavra "noite" —, mas Dona Simone apenas sorriu levemente e não disse mais nada. Diane tomou um longo gole de café, respirou fundo e começou a contar sua história.
— Dona Simone, eu não fui sempre tão patética assim. Eu tive uma vida feliz até os meus quatorze anos, que foi quando a vida tirou o primeiro pedaço do meu coração: minha mãe. Depois disso, eu apenas sobrevivi, entende?
— Imagino, querida. Qual foi a causa da morte de sua mãe?
Na verdade, a morte dela é uma metáfora; prefiro pensar dessa forma. Ela fugiu com o parque de diversões e nunca mais tive notícias, nem ao menos teve a decência de se despedir de mim e do meu irmão naquela época.
Dona Simone disfarça uma lágrima que cai discretamente de seus olhos, antes de perguntar ¯¯ E seu pai, minha querida?
Ah, depois que minha mãe partiu, meu pai quase se tornou um alcoólatra. Por causa disso, ele não conseguiu manter o emprego por um ano sequer. Então, nos mudamos para Porto Alegre, onde ele fez o melhor que pôde, entende?
— Por que Porto Alegre? Alguma razão especial?
— Bem, essa sempre foi a cidade da minha mãe. Meu pai tinha amigos e familiares lá, então voltar significava retornar às nossas raízes, uma tentativa de novo começo.
— Você gostou de viver lá? Ouvi dizer que você deixou amigas maravilhosas aqui.
— Na verdade, eu sentia falta daqui o tempo todo. Mas precisava estar com meu pai e meu irmão Pedro; ele tinha apenas treze anos naquela época, ainda era um menino. Eles eram minha única família.
"Você e seu irmão eram muito próximos? Quero dizer, conversavam sobre o que aconteceu, ou algo do tipo?"
"Nós não conversávamos muito. Eu fiquei mais abalada do que imaginava, mas nosso pai nos compreendia e fazia tudo parecer seguro," disse Diane, engolindo em seco e pausando brevemente antes de continuar. "Até que, três anos depois, quando finalmente nos estabilizamos, papai com um bom emprego e nossa pequena e aconchegante casa de três cômodos... A vida me zombou pela segunda vez. Meu querido pai foi atropelado por um motorista embriagado enquanto voltava do trabalho e faleceu no hospital."
"Nossa! Então sua mãe foi embora, seu pai morreu, como você lidou com isso? E seu irmão, como ele reagiu?"
"É difícil dizer como sobrevivi. Minha amiga Gaby veio morar comigo, ela foi meu raio de sol. Infelizmente, o mundo do meu irmão se tornou sombrio. Ele se fechou ainda mais, ficava trancado no quarto e começou a se envolver com um sujeito de má índole do bairro vizinho."
"Caramba, parece uma novela mexicana. Desculpe, continue, Diane."
"Gaby voltou para cá no final daquele ano. Quando me dei conta, já havia aceitado o pedido de Rubem, o filho mais novo de um amigo do meu pai, de uma família 'bem-conceituada'," disse ela, fazendo aspas com os dedos ao descrever a família de Rubem. "Namoramos por apenas seis meses e nos casamos. Foi uma cerimônia tradicional, civil e religiosa, com uma bela festa totalmente financiada por ele."
A tradição é realmente bela, com o branco, o véu e a grinalda, mas parece que foi tudo muito rápido, não é? Digo, você deveria estar vulnerável e desorientada, distante das amigas, após a perda dos pais, restando apenas um irmão com quem não tinha uma conexão profunda. Ah, desculpe, acho que me deixei levar pela emoção, mas...
Talvez eu tenha sido influenciado pelas circunstâncias, mas o tempo tende a ser ambíguo, é o que a vida me ensinou.
Então, minha querida, o que te trouxe de volta aqui?
Dona Simone, gostaria muito de contar mais sobre essa novela, como a senhora mencionou, mas preciso trabalhar em breve. Não é o conto das "Mil e Uma Noites", mas prometo que amanhã contarei mais. Diane sorriu amavelmente e apressou-se para tomar seu banho.
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O Poder da Noite
Romance"Quando as luzes da cidade se apagam, acendem as estrelas dentro de mim" O Poder da Noite, é uma estória de laços fortes de amor e amizade, narrativas de noites longas de insônia, reflexões e superação. Diane Fiore é uma dessas pessoas cuja vida se...