Cap. 23 Diane

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Conversa com dona Simone

Fazia duas semanas desde aquela conversa com sua adorável ouvinte, um cliente havia desmarcado uma reunião, então ela aproveitou a folga para continuar sua história. Dianne sentia seu coração ficar mais leve, a cada prosa, nem Mariana Oliver, sua psicóloga, a deixava assim tão à vontade para abrir as portas de seu passado, mostrar suas lacunas emocionais.

___ Após cinco anos de união, eu queria ter filhos e, então, fui ao médico para verificar se o "problema" era comigo. Começou ela, com a voz já um pouco trêmula, dona Simone nada comentou. - Os exames mais dolorosos que já fiz, ao sair da sala, ele estava lá, distraído naquela poltrona lendo uma revista sobre política, eu percebi ali, o quanto Rubem foi totalmente indiferente ao meu desejo pela maternidade. Depois, quando o médico disse que estava tudo bem comigo, ele continuou inexpressivo, aquilo abriu uma ferida enorme em mim.

¯¯ Nossa querida, que insensível!

¯¯ Como se arrancasse bruscamente minha lente cor de rosa, percebi que até aquele dia, tinham sido minhas todas as iniciativas, embora ele tivesse me pedido em casamento e pagado as despesas da festa, desde os preparativos, as festas de fim de ano, a compra dos móveis, eu fizera tudo sozinha... Até ali eu nunca tinha me dado conta do quanto àquela relação era ímpar no seu sentido literal.

¯¯ Poxa! Você era tão jovem, inexperiente...

¯¯ Eu desistir de ser mãe e ainda passei a tentar me convencer todos os dias de que realmente aquela decisão era totalmente minha, ignorava que Rubem não se importava tanto comigo o quanto eu merecia.

¯¯ Entendo...

Após nove anos de casamento, eu me sentia mais sozinha do que nunca. Rubem havia mudado de emprego e agora passava dias fora de casa. Eu tinha criado meu próprio mundo perfeito, e as pessoas não tinham ideia de quão hostil e, acima de tudo, desleal Rubem poderia ser. Eu sabia de algumas infidelidades dele, mas escolhi fingir que não sabia. Patética?

— Nossa, e o que você fez?

Tornei-me cúmplice dele, fingindo que estava tudo bem.

— Você achava que valia a pena continuar lutando... Ou simplesmente não tinha forças para tomar uma decisão?

A segunda opção.  Eu havia encontrado abrigo na igreja onde frequentávamos juntos desde o casamento. Lá, eu dedicava minha energia e talentos, e minha fé era o amuleto contra a superficialidade da vida. Mas foi lá que conheci Fernando, um homem de inteligência e carisma.

"Diane... Está tudo bem, se não quiser falar agora, não precisa chorar, ou pode chorar à vontade, se preferir."

Nosso envolvimento foi inesperado. Discutíamos sobre tudo, de Nietzsche a Machado de Assis, e confiei a ele minhas confidências mais íntimas. Ele me encorajou a deixar o ciclo vicioso da minha relação com Rubem, e assim, criamos um laço tão forte que surgiu uma conexão proibida. Não me entreguei completamente, o que de certa forma o desapontou.

¯¯ Paixão proibida... Hum! Parece mais um reflexo da sua fragilidade emocional, mas você tinha seus motivos, não tinha?

¯¯ No dia em que pedi o divórcio, Rubem me agrediu e me chamou de louca. Eu recuei. Recuei tantas vezes. Sentia-me culpada pelo meu envolvimento "extraconjugal".

¯¯ Essa atitude dele parece covarde, não é?

¯¯ Talvez..., eu tento entender, considerando a sociedade quase medieval em que ainda vivemos.

¯¯ Então ele podia trair e você não podia responder? Acho que ele foi um hipócrita machista! E qual foi o destino de Fernando?

— A sociedade ainda não evoluiu a esse ponto, dona Simone. As próprias mulheres julgam umas às outras quando se desviam desse 'padrão', onde 'homem que trai é normal, homem traído é vítima', especialmente dentro do contexto religioso, como no meu caso. Não estou justificando a infidelidade.

— Está dizendo que se arrepende?

Sim, eu poderia ter sido mais prudente. Violar meus princípios e valores cristãos é algo que me é difícil perdoar. Fernando se mudou para outra cidade, e eu perdi um amigo valioso. Me culpei por muito tempo; no final, tudo pareceu ser apenas uma aventura. Não chegamos a consumar nosso desejo, mas o calor de seu abraço, a energia de nossas mãos entrelaçadas assistindo Netflix no sofá dele, o conforto de encostar a cabeça no ombro um do outro... Às vezes, ainda me sinto culpada. Após isso, não consegui mais me sentir à vontade para falar com Deus, como se fosse Eva e Adão se ocultando do Criador no Éden.

— Fernando partiu e você seguiu com Rubem. Como evoluiu a relação de vocês após isso? O barulho de uma buzina no portão corta a conversa.


— Mary! Júlia! Que surpresa agradável!

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