Cap.04 Diane

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Divinópolis, 2012

Uma onda de calor envolvia o estômago de Diane Fiore quando o táxi parou de frente aquela casa, na rua iluminada apenas pela lua cheia e as infinitas estrelas.

Olhou com uma expressão perdida para o táxi se afastando, alguns segundos após deixá-la ali encarando o portão gasto pelo tempo.

Parecia que havia um século desde que morara ali com a família, olhando assim de fora parecia tão distante que até se perguntava se foi nessa vida mesmo que tudo aconteceu...

Parecia tudo tão normal, amigável a relação dos pais, até notar que sua mãe não parava mais em casa desde que o parquinho de diversões havia chegado na cidade, estava mais arrumada, tinha feito mexas loiras no cabelo e usava roupas mais justas, (não que a culpa fosse das mexas loiras, pensou) ela sorria com frequência, era estranho vê-la tão acesa daquela forma, pois antes estava sempre de mal humor ou desligada do mundo.

Diane não sabia se preocupava-se com o pai, ou ficava feliz pela mãe, apenas sentia que aquela mudança repentina da mãe, com certeza afetaria suas vidas.
Só não fazia ideia do quão drástica seria a reviravolta.

Não demorou muito e assim como previu,  tudo desmoronou, a família virou assunto na pequena cidade,
"a pobre adolescente que não tivera sorte com a mãe que tinha, pois fora abandonada e agora precisava assumir a responsabilidade de cuidar do irmão mais novo, enquanto o coitado do pai se afogava no álcool" .

Diane estava na fase mais bonita da vida, ou pelo menos é o que diziam sobre "a flor da idade". Mas para ela esta flor estava com suas pétalas esmagada pela dor e vergonha.

Vergonha de aos 15 anos ser o centro das atenções na cidadezinha e não por uma coisa boa e a dor de ser deixada no silêncio, sem um único abraço ou explicação, por aquela pessoa que deveria amar e protegê-la do mundo, não sabia se algum dia conseguiria perdoa-la, mas sabia que se um dia Deus a abençoasse com a maternidade, ela jamais seria capaz de fazer o que a mãe fez com ela e o pequeno Pedro.

***
Diane continuou mais alguns minutos encarando a antiga casa, foi inevitável não se lembrar da família que um dia compartilhou uma vida juntos ali, refeições, risadas, abraços, e por fim o silêncio e as lágrimas.

Segurou firme a alça da mala, tirou a chave do bolso da calça jeans, suspirou fundo e finalmente mergulhou de vez naquela parte de sua vida.

Tudo o que queria era paz e um lugar para recomeçar.
Encontrar suas raizes, talvez?
Acendeu a luz, foi até seu antigo quarto, se jogou na cama e chorou, fechou os olhos por um instante e de repente o sol já brilhava lá fora.

Era preciso mesmo ter coragem para recomeçar.
Escreveu uma mensagem de texto para sua pessoa favorita no mundo.

___Desculpe não ter avisado, sabia que estava de plantão e não quis incomodar. Cheguei ontem, estou aqui... Traz um café?
___Não acredito que você não me ligou! Chego em 10 minutos.
___Te amo, Gaby.
___ Também te amo Di. Já chego aí.

***

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