Capítulo 16

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Diane

Divinópolis, 2013

Um amor tão breve [...] Ellie, recém-saída de uma decepção amorosa e ainda emocionalmente abalada, decidiu dar uma chance ao relacionamento com Felipe, que há tempos lhe demonstrava afeto.

Ellie rapidamente concluiu que Felipe era o parceiro ideal para casar-se, pois ele era inteligente, trabalhador e muito dedicado. Com uma visão de futuro excepcional, ele acordava às quatro da manhã para trabalhar todos os dias e era o alicerce de sua família, chegando a ajudar financeiramente sua irmã com os estudos em São Paulo.

Eles namoraram durante seis meses e já estavam literalmente planejando o casamento, quando por uma dessas ironias do destino, todo aquele potencial de Felipe, se tornou a causa da sua ruína, o fim de todos os planos que idealizaram para a vida a dois, foi quando ele teve o seu primeiro surto psicótico, seu cérebro não suportou tanta pressão e acabou optando por uma espécie de defesa, o bloqueio da mente o levou a algum lugar distante da realidade, um lugar onde não era bonito e nem seguro para Ellie.

Felipe foi levado ao hospital do bairro, depois seguiu-se uma sequência triste, um médico e depois a outro e a outro, o diagnóstico foi o mesmo, todos disseram que ele nunca mais voltaria a ser o mesmo, usaria antidepressivos e calmantes a vida inteira, que os manteria estável enquanto seu organismo não acostumasse, quando isso ocorresse, bastaria um pequeno intervalo sem medicação para que as crises surgissem, sua vida seria uma bomba relógio.

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Ellie manteve o relacionamento por mais dois meses e então resolveu romper com ele, parece pouco tempo, não é? Mas foi o suficiente para ela desenvolver o transtorno de ansiedade, seu psicológico ficou muito abalado com o sofrimento de Felipe e com as incertezas que desencadearam a partir daquele primeiro surto.

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Tantas questões tiraram seu sono, valeria a pena se sacrificar por aquela relação? Eram apenas seis meses juntos! O tempo era mesmo relevante? Ou era, como dizem, "o amor nunca é sobre o tempo, é sobre a pessoa"? Ellie lembrou da cena do filme "Como eu era antes de você" em que o personagem Will diz à Louisa Clark "às vezes só o amor não basta"

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Ele nem era mais o homem que estava fazendo ela se apaixonar um pouco mais a cada dia, ele tinha surtos repentinos e nesses dois meses se tornou uma pessoa agressiva, insegura, na maioria das vezes após os surtos ele nem lembrava de nada ou quando lembrava fingia que tinha sido brincadeira.

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O que esperar de uma relação com toda essa limitação? E sua saúde mental... Seu futuro? Por outro lado, ela também se perguntava, que tipo de pessoa abandona seu amor no meio de uma crise assim? E foi assim que começou a se questionar se essa não era mesmo a questão, ela o amava tanto assim?

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Após perguntas e mais perguntas que quase explodiram seu cérebro em mil pedacinhos, ela finalmente tomou sua decisão. Continuar na relação talvez fizesse dela uma pessoa altruísta admirada por muitos? Provavelmente, sim, quer dizer, pelas famílias de ambos com certeza, sim, mas e quem realmente iria juntar seus cacos senão ela mesma?

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Por esta razão, abriu seu coração para Felipe e rompeu definitivamente a relação deles, ficou de certa forma surpresa, ao perceber que amavelmente ele lhe confortou dizendo que sofreria muito, sim, mas que compreendia a decisão dela. Como esperado por ela, a família de Felipe e a sua própria, não foram tão compreensíveis assim e a julgaram com voracidade, - "você não passa de uma covarde", sentenciaram-na.

— A verdade, Júlia, — continuou Dianne, com a voz embargada, é que ninguém, além dela mesma, sabia o quanto aquele término era crucial para sua sanidade. Há alguns meses, ela me revelou que Felipe está morando em São Paulo e trabalha em uma agência de publicidade. Ele leva uma vida que parece boa nesse aspecto, nunca se casou, ainda luta com as mudanças de medicação, mas pelo menos não está confinado em uma clínica psiquiátrica. Sua 'prisão' permite que ele viva com certa liberdade."

— Uau, que história tão triste! Um amor interrompido dessa maneira. E Ellie? Como ela ficou depois de tudo? Casou-se com outra pessoa? Superou ou ainda se culpa por deixar ele para trás?

— Calma, amiga, Dianne respira fundo, solta uma risada suave e continua a história, Ellie fez terapia por um ano e, após isso, continuou sua vida. Ela tentou se envolver com um antigo amor, mas ele terminou com ela pelos mesmos motivos que a fizeram terminar com Felipe. 'Você parece instável demais, Ellie, desculpe, mas não te amo o suficiente para avançarmos. Por isso... é melhor terminarmos amigavelmente, ok?'"

— "Realmente, o destino tem suas ironias, não é, Júlia?"

— Ah, coitada. Deve ter sido muito difícil lidar com tudo isso: o término doloroso com Felipe, o julgamento das pessoas que amava e ainda mais essa decepção.

— Sim, amiga, mas ela não se deu por vencida. Decidiu se concentrar nos estudos, ser independente, fez um curso de enfermagem e hoje vive sozinha, tem um emprego estável, adora cuidar da sua saúde e da saúde dos outros, à sua maneira, e é feliz.

— É uma história incrível de superação! Que Deus me ajude a fazer o que é certo também, estou tão exausta e confusa.

— Júlia, o que quero que entenda é que qualquer decisão que tomar afetará sua vida e a vida de outras pessoas, então ouça seu coração e tenha coragem, lembre-se de que você não estará sozinha.

— Obrigada por estar aqui novamente, por me apoiar. — Ela passou a mão pelos cabelos colados no rosto, forçou um sorriso e tentou mudar de assunto naturalmente — Ei! Me fale mais sobre você, quais são seus planos atuais?

— Ah, amiga... Após o turbilhão que vivi no Sul, estou na fase de "só quero paz"! Quero organizar meu refúgio aqui, trabalhar, reencontrar aquela Dianne sonhadora que deixei para trás quando me mudei para lá com meu pai, depois me casei com Rubem e... Bem, Gaby deve ter te contado tudo.

— Vamos nos preparar para dormir ou você prefere assistir a um filme? — Júlia pergunta, desconsiderando a última pergunta de sua amiga, que finge não notar e segue conversando de maneira tranquila.

— Hum... Bambi ou Dumbo?

— Os dois!

— Pipoca doce ou sorvete?

— Os dois!

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