Cap. 02 Diane

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Quando sai do cemitério daquele jeito alucinada, o crepúsculo envolvia o lugar, encontrei Gessy e Mari no portão, se perceberam o vermelho no meu rosto não comentaram nada, apenas me abraçaram e me trouxeram para casa.

Ah é verdade, o termo casa é só um jeito de falar, nenhum lugar deste mundo parece ser meu lar...

Eu acredito que o que traz esse sentimento de pertencimento não é propriamente o espaço que ocupamos no mundo, mas as pessoas ao nosso redor. E nesse exato momento me sinto órfã.

Não me entenda mal, sou grata pela amizade das meninas. Elas têm se esforçado para restaurar nosso vínculo desde que voltei para Divinópolis.
É só que falta a melhor parte de mim, ficou um buraco enorme no meu coração desde que uma delas partiu a três dias.

___Diane, você tá aí?, Ouço a voz de Mari, me tirando de meu transe. __Ah, oi tô aqui amiga, respondo, sem ânimo para diálogos mais profundos, __ou o que restou de mim, acrescento com a voz embargada.
___Diane, eu sinto muito mesmo, mas o Renato ligou, e... ___Você precisa voltar para casa, respondo inexpressiva, tudo bem meu anjo, pode voltar tranquila.
___Diane, é que temos um casamento importante para cobrir, e ele não consegue fazer tudo sem mim, sabe, são cinco ensaios diferentes, aí tem o blog, e... sinto muito mesmo.
___Mari, relaxa! Você já está aqui comigo têm três dias, vou ficar bem, vá sem culpa. A gente combina, qualquer dia desses, eu vou lá te ver.
___Você jura? Vai ficar bem aqui sozinha? Não quer ir ficar com a gente uns dias? Será bem vinda, você sabe.
___Não estou mais sozinha, tem a Gessy e o grupo das 20.
___Eu sei que está tentando parecer mais forte que realmente é, sei que está sofrendo mais do que qualquer outra pessoa no mundo, afinal vocês eram inseparáveis. Mas qualquer coisa me liga que volto correndo.
___Ah é, são só algumas centenas de km amiga, respondo forjando um sorriso.
E agora temos a tecnologia, qualquer coisa a gente faz videochamadas.
___Por favor não tenta nenhuma coisa da qual Gaby jamais aprovaria. Promete?
___Mari, você vai perder o voo. Venha cá me dá mais um abraço e vá embora de uma vez!
___Diane... Tá bem, eu confio em você!
___Ei! Cheguei a tempo da despedida, grita Gessy escancarando o portão e vindo a passos largos em nossa direção.
___Oi, Gessy - falamos juntas, Mari e eu.

***
No aeroporto, lembrei da última viagem que fizemos as quatro, nós fomos no carro da Gaby, para aproveitarmos melhor durante o percurso,
cada pousada que a gente parava era folia garantida, quem nos via dando risadas nem poderia imaginar os pesos que tínhamos que lidar, um esposo esquizofrênico, um ex marido abusivo, uma chefe autoritária, uma de nós só tinha que lidar com o preconceito por ser livre e não se dá muito bem com padrões sociais.

Uma amizade de longa data, sobrevivendo ao tempo, distâncias e agora a dor da perda...

O meu mundo parece uma névoa sem fim desde que a luz dos olhos dela se apagou neste mundo.

Não pude prometer para Mari que não vou tentar alguma coisa estúpida, pois tudo o que desejo agora é caminhar até a margem do rio, cair lentamente de costas na bruma e descer correnteza abaixo...

Mas agora não,
estou cansada demais para ir até lá, só vou me trancar no quarto e dormir, ou brigar com os malditos carneirinhos que se abrigaram no teto de meu quarto.

(...)

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