A concha vazia
Hoje quero escrever sobre a concha [...]
Após fugir de Lucas, fiquei algum tempo olhando para o portão de casa com a chave na mão, apertando meu chaveiro, a miniatura de metal da torre Eiffel, ultimo mimo de Gaby.
A saudade deu uma pontada aguda em meu peito e mais uma vez me deixou asmática, olhei para as gotículas de sangue em minha mão, finalmente lágrimas brotaram em meus olhos exaustos. Meu primeiro aniversário sem ela, não pude ouvir "somos irmãs, filhas de mães diferentes", então eu sei, é real, nada será como antes [...]
Entrei, ainda encharcada, olhei vagarosamente para meus móveis, para a minha estante repleta de fotos, o quadro bonito na minha parede branca serve de moldura para o mosaico de memórias felizes, capturas espontâneas da última viagem com o quarteto, antes do meu coração se partir em mil fagulhas [...] estou usando de propósito, muitos pronomes possessivos, a vida faz mais sentido assim? Que idiotice bizarra!
A minha casa está bem organizada e limpa, cheiro de lavanda e jasmim, minhas fragrâncias favoritas, dona Simone é A MELHOR! Um mês que a conheci e cada dia me surpreendo com o quanto ela me mima, que assim seja sempre, por favor vida, não estrague isso também [...]
É estranho, de um jeito bom, o jeito a qual me sinto agora, enquanto me despia sob a luz da minha luminária, (fonte de madeira de onde flui água e faz barulho de chuva, sobre a mesinha ao lado da cabeceira da cama) é como se, finalmente, pudesse (só, às vezes) tirar meu casaco do luto e seguir em frente.
"Uma Mulher Incrível em um cenário perfeito a qual qualquer Homem sensato seria agraciado por poder contemplar sua beleza" _ é isto que meu espelho gentil, me diz, e vejo nitidamente em meus pensamentos o rosto de Lucas, hoje nós nos vimos pela segunda vez, foi tudo tão veloz, parecia que conhecíamos havia uma eternidade. Outra ambiguidade do tempo? [...]
Fiquei alguns segundos usando apenas meu belo par de sapatos e os meus brincos favoritos da vida, as argolas de ouro que meu pai me deu de presente quando fiz meus quinze anos -" não tenho dinheiro suficiente para lhe dar joias de diamantes, como você merece princesa, mas esse tom dourado combina com os seus olhos". Essa lembrança é tão bonita, melancólica e dolorosa que nem sei explicar.
Encaro minhas mãos, me envolvo em um abraço íntimo, olhando para o espelho gigante na porta de meu closet, dispo completamente minha alma e sorrio.
Duas horas depois, vestida em minha camisola preta de cetim favorita, aqui estou aconchegada na minha poltrona vermelha, já que essa noite o sono parece uma realidade distante, aprecio meu quarto, minha "concha", meu lugar favorito para as infinitas reflexões.
Encho outra taça de vinho e saboreio a "sensação sem nome" com mais intensidade do que jamais provei antes. E assim, sigo plena, perdida em minhas memórias, pensamentos volúveis, nessa noite indefinível, uma mistura do esplendor da minha mente e o crepúsculo no meu coração ainda solitário.
Não é tristeza nem tampouco solidão o que me incomoda, mas também não me sinto feliz. Algo não está certo aqui dentro. Hoje meu voo foi apenas um ensaio, voltei para o casulo, ainda me sinto no escuro, embora tantas estrelas tenham se acendido aqui dentro.
QUAL É O MEU PROBLEMA, AFINAL?
[16 de setembro, 4:15 da madrugada]
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O Poder da Noite
Roman d'amour"Quando as luzes da cidade se apagam, acendem as estrelas dentro de mim" O Poder da Noite, é uma estória de laços fortes de amor e amizade, narrativas de noites longas de insônia, reflexões e superação. Diane Fiore é uma dessas pessoas cuja vida se...