Capítulo 09 - Diane

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16 de setembro, a última dança.

Naquele momento, eu, a dançarina da noite, que havia recentemente sido tão ousada, agora temia minhas próprias previsões. Não poderia ser. Quer dizer, poderia? [...] Antes que mais pensamentos possuíssem minha mente inquieta, fui gentilmente interrompida.

___ Amei a sua interpretação, espetacular! Disse "o bendito ao fruto entre as mulheres", quer dizer, a essa altura as minhas convidadas já tinham ido, ele era a minha cereja do bolo, a melhor surpresa da noite, claro que isso era íntimo demais para eu dizer em voz alta, só que percebi isso tarde demais, então com um pigarro forçado tento disfarçar...

___ Obrigada, por vir, de verdade, esta noite é muito especial para mim.

 Lucas me olha e não diz mais nada nos próximos dois segundos. Eu estava começando a suar a nuca e com um frio na espinha, quando ele pôs uma de suas mãos no meu quadril e com a outra segurou gentilmente minha mão enquanto me fazia o convite. Com tom de súplica, leve e irresistível:

__ Seria muita pretensão minha convidar esta sedutora dama para uma última dança?

__ Sim, com certeza seria! Fez-se uma pausa teatral dramática e continuei a frase com a voz alegre e sutilmente sexy ¯, mas sua pretensão me agrada. Então... será um prazer, __ acrescentei cinicamente.

Lucas, sorriu satisfeito e em seguida me conduziu pelo salão completamente nosso, sob as luzes que causavam oportunamente um leve romantismo para aquela dança, eu viajei, "dois corações ainda estranhos batem forte em sintonia, compassos entrelaçados, olhares silenciosos penetram-se ansiosos, lábios trêmulos pelo desejo do toque, cada passo parece cronometrado até que nossas almas se rendam ao seu inevitável destino. Que tipo de destino desejo agora? [...]"

__ Diane... Diane... Você tem mesmo cheiro de jasmim, querida.

__ Você gosta de jasmim? Perguntei sem pestanejar, tentando parecer sensual, depois ri baixinho, aquele homem me deixava sem fôlego e sem filtros.

__ Uma essência suave e excitante, você fica ainda mais...

Aquele "mais..." já era suficientemente irresistível, não pensei em mais nada, ergui-me até alcançar o pescoço de Lucas, beijei-o devagar e depois disse baixinho, provocando-o: ¯Seu perfume tem gosto de vida, amor, prazer sem fim. Depois, um pouco constrangida, acrescentei com pressa. ¯ Tá bem, dê-me um desconto, isso soou meio brega demais, né?

[...]

Olhamo-nos mutuamente e voltamos ao silêncio, que durou apenas três segundos, até a próxima cena acontecer: 

Lucas tirou a mão da minha cintura e entrelaçou-a nos meus cabelos cacheados e negros de dançarina da noite e com a outra mão puxou-me com força ao seu encontro. Novamente sem fôlego, eu simplesmente sabia que não resistiria mais... Lucas cheirou o meu cabelo e depois beijou minha testa e em seguida, quando olhamos- nos vorazes, nos beijamos por um longo tempo, como se não houvesse amanhã, como se o oxigênio do mundo nunca fosse acabar.

___ Eu quero você. Diga que posso!

___ É... é complicado.

___ A gente descomplica, moça.

____ Preciso ir agora...

___ Desculpe se fui pretensioso demais... Não vá ainda querida.

"Droga! Por que foge de mim, isso não é justo, QUAL É O SEU PROBLEMA"? Foi o que realmente protestou em sua mente, mas era cedo para ser tão direto, não era?

___ Eu... preciso mesmo ir, respondi novamente, agora parecia mais um grunhido.

___ Posso pelo menos te levar em casa? Nem sei onde você mora, tentou, sem sucesso...

___ A gente se fala... Liga depois?

___ Ligo, você sabe que sim. Me atende?

___ Com certeza, você sabe que não faço de propósito, tentei parecer menos chateada, do que realmente estava.

___ Diane...

___ Lucas...

E depois desse diálogo confuso, ficamos uns dez segundos um de frente para o outro, beijamo-nos novamente, dessa vez, com calma, com as mãos dadas, como se aquele beijo sereno fosse um elo, a partir dali um pacto de amor perene.

___ Então irei aguardar sua ligação, está bem? Digo com um tom carinhoso.

___ Irei confiar que você vai atender desta vez.

 Ele sussurra em meio ao riso mais fofo e brilhante de Divinópolis, do Pará, do Brasil, do mundo, do universo. Ai, meu Deus! Lucas saiu do salão, parou no portão como se esperasse um gesto ousado meu e acenou, com aquela cara de quem não acreditava que realmente eu estava levantando um muro entre nós, nesse momento eu havia tirado os sapatos e o encarava com meu olhar de...

____ Os passos mais rápidos de minha vida, sussurrei ofegante, antes de agarrá-lo sem nenhuma cerimônia.

___ Minha nossa! Você é surpreendente moça!

___ Cala a boca!

Estava tão silencioso que Lucas conseguia ouvir o coração de sua dançarina noturna pulsando rapidamente, como se cada segundo da vida fosse precioso. Diane o pressionou contra o capô do carro e o beijou com uma intensidade desesperada, quase como um apelo. Depois, tal como a lua alterna suas fases, ora cheia, ora minguante, ela o envolveu em um abraço apertado, se afastou em seguida, desceu a passarela de degraus em silêncio, tocando o cimento frio com seus pés descalços e saboreando as sensações insanas, pois seu corpo todo e sua alma ferviam.

Devido às crises de ansiedade e síndrome do pânico, Diane tinha deixado de dirigir e já havia um ano que resolvera vender seu EcoSport amarelo (Ford). Agora alternava, às vezes ia ao trabalho de bicicleta, outras vezes de carona e algumas, como fizera naquela noite, á pé. 

No final daquela noite, para sua surpresa, contrariando a "previsão do tempo" a lua havia se escondido descaradamente e gotas pesadas doía em sua pele, lembrou de uma frase do Bob Dylan "Algumas pessoas sentem a chuva, outras só ficam molhadas", parou um instante, em seguida resolveu que seria mais divertido apenas deixar a chuva lavar sua alma e rir feito uma louca, afinal a vida era curta, não era?

(...)

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