Cap. 05 Lucas

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Divinópolis, 2015.

___Papai você me leva na praça hoje a noite?
___Você pode ir com sua avó? Estou muito indisposto hoje, Elisa.
___Por favor papai...
Por favor, por favor, - implora juntando as mãos em forma de prece e fazendo biquinho com os lábios.
___Tudo bem, eu não posso resistir a você, princesa. Mas não vamos demorar. Ok?
___Obrigada paizinho.

***
___Um pote de pipoca doce, seu Luiz,_ Diane pede distraída, aliás estava vivendo no automático havia quase um mês.
___Desculpe minha flor da noite, mas o último vendi para aquela princesa alí _responde, apontando para a menina de olhos grandes e cabelos enrolados a poucos metros dela.
___Tia você aceita dividir comigo? meu pai disse que posso, diz a menina, batendo os longos cílios como se fosse uma borboleta.
___Não meu anjo, não precisa.
Tudo bem. Eu volto amanhã, seu Luiz, Diane responde desconsertada, ao notar aqueles olhos encarando-a com uma chama incandescente e enigmática, aqueles lábios que ela provara inebriada, e fugira em seguida como o diabo foge da cruz.
___Oi moça, por favor aceite.
Não parta o coração desse anjo de candura, apontou para os olhos de Elisa.
___Ah, oi. Eu me chamo Diane. Você...
___Prazer, Lucas.
___Vamos tia, vamos sentar alí, aquela é minha árvore favorita.

Diane assente com um sorriso tímido e não sabe ao certo como deve se comportar, decide que não irá se esforçar muito, apenas tentará ser gentil e se deixará ser guiada pela garotinha, ela não sabe explicar ainda, mas sente-se levemente reconfortada com a energia daquela garotinha de voz doce e olhar profundo.

___Então... Você vêm sempre aqui? , Lucas pergunta com a voz embargada, tentando parecer natural.
___Ah, é...
Eu gosto dessa parte da cidade, é como voltar às minhas raizes, sabe.
___Entendo. Deve ter uma história...
___Eu morei aqui até os 15, aqui vivi os melhores anos, mas também o início dos piores anos.   Retornei em 2012, em busca de um recomeço, mas novamente vivenciei o fim.
Enfim um paradoxo!
___Nós viemos para cá para nos despedir, Alice escolheu aqui para...
___Tia, minha mãe é aquela estrela alí, olha...Diz Elisa, apontando para uma parte específica daquele céu estrelado.

Diane olha para o céu e sorri gentilmente para a menina, que desconhecia os seus pensamentos secretos, seu desamparo e  seu desgosto com Deus.

___É linda meu anjo.
Aquela lá é meu pai, aquela lá é minha melhor amiga Gaby e aquela lá na outra direção pode ser a minha mãe, mas não tenho certeza.

Um silêncio surge entre ambos. Como se as palavras fossem inúteis, trocam olhares carregados de emoções indizíveis... 

Então Diane sente as mãos miúdas tocarem seu rosto e um abraço inocente faz seu coração disparar.

___Papai ela tem cheiro de jasmim.

Lucas sorri para ambas e Diane fica vermelha novamente como as pimentas do Chile, abraça Elisa e cheira seus cachos. Não sabe o que dizer, então sussurra um
"Obrigada estrelinha".

Lucas sorri novamente, mas muda a expressão ao ver Diane se levantar e se despedir de Elisa, alegando que havia um temporal...
___Podemos levar você em casa Di-a-ne ? Lucas pergunta em tom tímido de súplica.

Alguns segundos de silêncio.

____Moro aqui pertinho, vou fazer uma caminhada... Sim, ela tinha certeza.  Sim, ele poderia ligar, ela responde antes de sai apressada.

Lucas se sente um pouco frustrado, mas disfarça para Elisa não perceber.

Talvez por estar na presença de Elisa, talvez para não deixar o clima pesado, mas nenhum deles menciona o encontro no cemitério.

Diane olha para trás depois de certa distância e acena para eles com um sorriso que Lucas não consegue discernir se é um adeus ou a promessa que podem continuar a conversa como se não houvesse um longo parêntese entre eles. 

___Então papai, a praça é legal não é?
___ Até que a pipoca é bem doce, não é?

Os dois sorriem.

***

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