Capítulo 28

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Terra - 13 anos atrás

Mel olhava a figura adoentada de sua mãe, sentada à beira da cama de hospital. A doce mulher sorria amavelmente para a sua filha, como se estivesse tudo bem. "Um anjo me disse uma vez, que a morte é tão natural quanto a vida e que nosso medo dela é sem fundamento.". Lilian, dissera a Mel quando descobriu que o câncer estava em um estágio incurável.

Desde aquele dia, a menina não conseguira dormir uma noite sequer um sono pleno e constante. Porque a certeza que o dia da partida de sua única família se aproximava, e não havia nada que ela pudesse fazer para impedir, a corroía.

Lilian: - O que está se passando nessa sua cabecinha? - perguntou com voz fraca, entre tossidas e sons de máquinas hospitalares.

Mel: - Que esse anjo é um imbecil.

Lilian: - Shh, não fale assim dos anjos, meu amor. Eles estão sempre ao nosso redor, nos ouvindo e cuidando de nós. Mas, o que um anjo disse para te aborrecer tanto?

Mel: - Que a morte é tão natural quanto a vida. - uma lágrima escorreu pela face da menina, e ela tratou de limpá-la o mais rápido possível.

Mel: - Sinceramente, mamãe, eles não são reais. Anjos, demônios, Deus... - ela franziu os lábios lutando contra as lágrimas. - Se Ele existisse, coisas ruins não aconteceriam a pessoas boas, como você.

Lilian: - Querida, vou usar o tempo que me resta, para lhe dar uma última lição. - tossiu quase sem forças.

Mel: - Não, mamãe, não se esforce.

Lilian: - Existe uma coisa, Mel, chamada equilíbrio. Nós somos apenas vítimas do que plantamos. Estragamos nossa Terra e hoje colhemos os frutos com doenças que antes não existiam. O planeta precisa se reciclar para que mais vida possa existir. Deus nos deu o que cuidar e falhamos em nossa única missão. - Tossiu novamente, emitindo um chiado.

Lilian: - Às vezes pessoas boas morrem por consequência do que pessoas más fizeram, às vezes pessoas boas morrem porque cumpriram a missão que vieram cumprir e já podem descansar, e às vezes, muitas pessoas morrem de única vez, porque o planeta está sobrecarregado. Nada disso é culpa de alguém ou algo. É o próprio equilíbrio fazendo seu trabalho.

Mel: - Onde fica Deus nisso tudo? - perguntou com amargor.

Lilian sorriu e acariciou a mão da filha, num ato singelo e quase sem forças.

Lilian: - Ele não escolhe nossos caminhos ou controla eles, mas Ele nos dá forças para chegarmos até o fim. Nos consola quando precisamos de consolo, e nos acolhe, quando acaba nossa luta.

Lilian: - O livre arbítrio, Mel, não consiste em escolhermos errar e não pagarmos por nossos erros, significa termos total liberdade, tanto nos atos, como na hora de recebermos as consequências por esses atos.

Ela olhou o rosto da filha amada, e Mel era a mais bela consequência em sua vida.

Lilian: - Quando pensamos que sofremos porque Deus está nos castigando por algo que fizemos, na verdade, só estamos colhendo o que plantamos para nós e mesmo nesses momentos, quando estamos pagando por nossos erros, Ele está ao nosso lado segurando nossa mão.

Mel suspirou e se levantou.

Mel: - Vou tomar um copo de água, mãe.

Quando Mel soltou a mão de sua mãe, não sabia que era a última vez que sentiria o calor vindo dela.

A jovem senhora, sabia que estava próximo , conseguia enxergar um belo rapaz, vestido de terno preto, sentado na cadeira. Ele ouvia concentrado nas lições que ela dava à filha e concordava com acenos de cabeça.

Dark Angel  - (Autora: Sra.Jeon)Onde histórias criam vida. Descubra agora