Lili
A manhã passou e eu não vi Cole em nenhum momento. O que era estranho, já que ele passava a maior parte do dia trabalhando diretamente com os animais. Será que ele havia voltado ao trabalho de campo definitivamente?
O pior era que eu não conseguia explicar a mim mesma o porquê de eu me importar tanto com ele. Eu travava uma batalha contra os meus neurônios pra não ter que pensar o tempo inteiro em como seria poder estar perto dele sem me preocupar com o que uma entidade aquática pensaria.
Avistei Kj saindo do laboratório de pesquisa e corri até ele.
— Estava com a Camila? — perguntei.
— Sim, ela me chamou pra ajudar ela a limpar os tubos de ensaio.
— E o Cole? Eu não vi ele por aqui.
— Camila me disse que o Dylan foi fazer uma expedição hoje e o Cole foi junto. Parece que vão tentar descobrir o que aconteceu no acidente.
— O que? — senti meu coração acelerar em meu peito. Marinheiros no mar por muito tempo em áreas de risco eram o alvo preferido da Água.
— Eu particularmente acho loucura voltar para o lugar que matou toda a tripulação de um barco, mas quem sou eu para achar nada? — deu de ombros.
— Eu tenho que fazer uma coisa, segura as pontas pra mim?
— O que foi? — franziu a testa.
— Er... eu... menstruei! Que cólica horrível estou sentindo! — me esquivei, fazendo cara de dor.
— Pode ir então. Eu cuido de tudo.
— Obrigada! — saí de lá o mais rápido que pude, nem ao menos tirei o macacão cinza que eu usava para trabalhar.
Fui até o cais e retirei todas as minhas roupas, depois mergulhei no mar pedindo em pensamento o surgimento da minha cauda. Eu precisava convencer a Água a deixá-los em paz antes que Ela pensasse em me convocar para um trabalho que me faria tão mal.
— Eu queria mesmo que você viesse. Alguns marinheiros estão ancorando próximo daquela cratera onde você cantou há alguns meses. É um ótimo lugar para um "acidente".
— Água, tem pessoas ali com quem eu me importo.
— Nós vamos ter essa conversa de novo? O que eu disse sobre não criar vínculos?
Não respondi mais nada, apenas comecei a nadar sendo ajudada por Ela a chegar mais rápido. E eu cheguei em poucos minutos, avistando o barco próximo à beira da cratera. Pude ouvir a voz de Dylan ordenando que baixassem a âncora.
Eu estava bem no meio da cratera. Abaixo de mim, uma escuridão vazia se estendia por quilômetros. Nenhum corpo que eu deixei ali emergiu na superfície novamente.
— Cante. — Ela ordenou, mas eu me mantive em silêncio. — Lili, cante!
Na proa do barco, eu avistei o Cole. Ele estava sentado olhando o horizonte com uma expressão fria e vazia. Eu podia sentir toda a tristeza que o trauma de voltar ali lhe trazia. Vez ou outra, ele mirava o mar e dava um longo suspiro. A dor que ele sentia era culpa minha. Eu lhe causei esse mal.
Não conseguia parar de observar cada detalhe dele. A sensibilidade em seu olhar, o jeito como os raios de sol reluziam em seu cabelo preto, como o vento balançava seus cabelos, os fazendo ficar desarrumados, porém lindos. O seu rosto, coberto por uma barba por fazer que o deixava com um ar de liberdade que apenas um verdadeiro amante do oceano tinha.
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Alto Mar ˢᵖʳᵒᵘˢᵉʰᵃʳᵗ
FanfictionO oceano ainda é um lugar misterioso, pouco explorado pelo ser humano. Estima-se que apenas 5% de todo o território oceânico é conhecido pelos homens. Em sua vida como biólogo marinho, Cole vai descobrir que existem muitos mistérios a serem desvend...