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Lili

Foi um final de semana inesquecível e eu não parava de sorrir depois de entrar em meu quarto. Aqueles três dias foram o suficiente para eu ter total certeza de que amava o Cole. Isso era tão gostoso de se sentir e ao mesmo tempo, tão perigoso!

Tomei um banho quente, tendo o prazer de poder cantarolar longe dos ouvidos dos humanos. Eu estava tão feliz que meu peito parecia querer explodir a qualquer momento.

Enrolei uma toalha no meu corpo e saí do banheiro. Abri meu guarda-roupa e comecei a separar o uniforme de trabalho. Eu não precisava dormir e pretendia chegar mais cedo para contar às minhas queridas focas como eu estava me sentindo bem! Elas eram ótimas ouvintes.

Batidas em minha porta me fizeram saltar. Alguém parecia desesperado para me ver.

Quando abri, Cole me olhou da forma mais sombria possível, uma expressão que eu nunca vi e nunca imaginei ver em seu rosto.

— Meu bem? — o olhei com estranheza.

— Eu só vou te fazer uma única pergunta e eu quero que você fale a verdade. — sua voz era grave, me fez tremer em poucas palavras. — Quem você realmente é?

— Hum... o que? — senti o medo me invadir. Ele me ofereceu um papel e eu o abri. Era a cópia de um e-mail do cartório, afirmando que a documentação enviada era falsa. — O que é isso?

— O cartório analisou seus documentos e sabe o que descobriram? Que Lili Blane não existe! — bateu a mão com força na parede, fazendo com que eu me assustasse.

— Você enviou meus documentos para o cartório? Por que? — comecei a ficar aflita, como eu escaparia disso?

— Foi o Dylan. Ele não confia em você por motivos bem longe da realidade, mas pelo menos achou algo importante!

— Deve ser um erro! Eles devem ter analisado errado! Isso é um absurdo!

— Absurdo é você continuar mentindo pra mim! Qual é o seu nome? O seu nome real!

— Por favor, eu... — me interrompeu.

— Fala!

— Ok... — tomei fôlego e tentei me preparar psicologicamente para aquilo. — O meu nome é Lili, mas o meu sobrenome não é Blane. Cole, já não importa quem eu sou. Já tive muitas identidades, tantas que eu mal me lembro o meu sobrenome real... — senti que minhas lágrimas estavam chegando e fiz uma pausa, fechei meus olhos e impedi que elas descessem. — Quem eu fui não importa mais.

— Importa pra mim. Eu queria passar o resto da minha vida com você, mas como posso fazer isso se eu nem sei quem você é? — doeu ouvir aquilo, foi como uma facada direto no meu peito. — Por que você precisa mudar de identidade? De quem está fugindo?

— Eu fui dada como morta no acidente com a minha família. Aquilo me traumatizou muito, eu só queria fugir... — seria mais uma mentira, mas seria por bem. — Eu não queria responder perguntas, não queria que ninguém viesse atrás de mim. Então, eu só mudei de país, mudei de identidade... eu escolhi viver sozinha.

— Como pode não lembrar do sobrenome da sua família? — eu realmente não me lembrava, já fazia décadas e depois de me tornar uma sereia, muitas coisas da vida humana se tornaram distorções.

— Eu também não sei. — dei de ombros. — Lembrar da minha família é doloroso, eu preferi bloquear tudo que se refere a eles. Eu não quero sair como correta em tudo isso, eu sei que errei em mentir pra você. Peço que me perdoe e que tente me entender. — tentei segurar a mão dele, mas ele se afastou.

Alto Mar ˢᵖʳᵒᵘˢᵉʰᵃʳᵗOnde histórias criam vida. Descubra agora