Alto Mar ˢᵖʳᵒᵘˢᵉʰᵃʳᵗ

28

Cole

Quanto mais as semanas passavam, mais eu entrava no piloto automático. Tudo se resumia a levantar de manhã, ir trabalhar e voltar para casa à noite. Aos finais de semana, eu ficava trancando em casa assistindo séries e enfiando besteiras em minha boca. Ganhei pelo menos 5 quilos desde que Lili se foi.

Camila e Kj finalmente se assumiram e estavam até bem felizes. Pelo menos alguém estava se sentindo completo.

Dylan e Barbara também começaram um relacionamento e tudo ao meu redor era regado de paixões amorosas tão intensas que só de ficar perto desses dois casais eu me sentia enjoado.

Todo mundo notava a minha tristeza, mas ninguém falava sobre isso. Eles achavam que um dia eu simplesmente arranjaria alguém e esqueceria a Lili. Eu não queria fazer aquilo. Ficar sozinho pensando em como a minha vida é um fracasso era a melhor coisa que eu podia fazer por agora.

Era a semana do aniversário da Camila e todos aqueles sete dias foram insuportáveis. Se ela não estivesse trabalhando, estava organizando essa festa e não parava de falar como tudo seria lindo e maravilhoso. Não que eu não quisesse ver a minha irmã feliz, mas custava falar de outro assunto que não fosse sobre si mesma?

Um dia antes da festa, eu, Dylan, Kj e Barbara nos disponibilizamos para ajudar com a arrumação no salão de festas que Camila havia alugado. Como uma boa amante do oceano, ela escolheu o fundo do mar como inspiração.

Enquanto Dylan e eu pendurávamos algumas faixas com frases metafóricas, eu vi Barbara colocar uma espécie de varal na entrada com várias sereias penduradas.

— Sereias? Sério? — revirei os olhos.

— Não seja sensível! — Dylan falou. — Camila gosta de sereias.

— É, eu sei. — lembrei de quando estávamos estudando sobre a Lili e Camila passou horas fazendo milhares de perguntas para ela.

— Ih, olha só! — Dylan pegou uma bonequinha com cauda rosa e cabelo loiro. — Te lembra alguém? — riu. — "Oi, Cole, eu te amo e sou uma assassina". — fez graça. Peguei a boneca e joguei no chão. — Qual é! É só uma piada.

— Por que você não vai se ferrar? — terminei minha última faixa e fui até onde Camila estava com Kj. Eles forravam as mesas e colocavam adereços em cima. — Por que usou a Lili como inspiração pra essas bonequinhas?

— Maninho, não seja chato, ok? — suspirou me dando as costas.

— Não estou sendo chato, só estou perguntando.

— Lili é a única sereia que eu conheço.

— E daí, Camila? Sabe como ela ainda mexe comigo, você poderia pelo menos ter me avisado que iria colocar referências dela na sua festa!

— Cole, vai comer um bolinho. — deu um tapinha em meu ombro.

— Mas... — fui interrompido por Kj.

— Cara, são só umas bonequinhas, por que você está estressado? Não é nada demais.

— Eu sei, Kj, mas eu já estou cansado de todos vocês não darem a mínima pra tudo o que aconteceu. Você e Camila não parecem se importar, Dylan faz piadas pesadas comigo o tempo todo e ninguém me pergunta como eu me sinto! Agora eu chego aqui e tem várias Lili's em miniatura por aí? O que vocês querem? Me matar?

— A gente só quer olhar pra trás e pensar em tudo como uma experiência grandiosa e única. Não queremos sentir dor ao lembrar da Lili. — disse Kj.

— Que bom que vocês estão lidando com isso dessa forma, mas eu não, porque eu não consigo! Querem que eu esteja no mesmo ritmo de recuperação que vocês? Ela era o amor da minha vida, não minha vizinha de quarto numa pensão ou uma amiguinha que me contava histórias fantásticas! — soltei tudo com irritação. Já estava no meu limite.