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Cole

Mais uma noite saindo de fininho da casa de outra mulher estranha, com um nome que eu não lembraria e um rosto que seria apenas um borrão no dia seguinte.

Naquela noite, eu havia exagerado no álcool. Estava cambaleando pelas ruas da cidade, e na minha cabeça, ao invés de sumirem os problemas, eles se acentuaram.

Quando passei pela praia e senti o cheio da água salgada, a imagem da Lili surgiu em minha mente. De longe, eu avistei o farol, o lugar onde fizemos amor pela primeira vez e onde eu jurei a mim mesmo que lutaria por aquela mulher com unhas e dentes. E para que? Para terminar com o coração em mil pedaços e a dignidade no esgoto.

Eu não me orgulhava do que havia me tornando, mas perder a minha boa imagem não era nada comparado a perder a Lili. Eu nunca mais a veria de novo e acordar todos os dias lembrando disso era torturante. Eu não queria lembrar que nunca mais teria a mulher que amo comigo, não queria ficar pensando em como eu havia a perdido para sempre. Por isso eu bebia e me ocupava com outras.

E eu comecei a exagerar mais e mais, porque quanto mais os dias passavam, mais parecia impossível esquecer tudo. O meu jeito de escapar da realidade parecia estar perdendo o efeito. Por isso, a cada noite, eu aumentava as minhas doses e minhas mulheres.

Aqui, agora, olhando para o mar, durante a pior bebedeira que eu já tive, eu cheguei à conclusão de que havia estourado o meu limite. Não podia fazer mais nada, Lili sempre rondaria meus pensamentos, independente do que eu fizesse.

Eu caminhei até o cais, onde alguns pequenos barcos estavam amarrados e entrei em um deles. Não, eu não a veria, mas poderia me perder no mesmo lugar em que ela se perdeu. Se a Água queria ficar com a Lili para sempre, que ficasse comigo também.

E em meu ato suicida, eu enviei uma mensagem com os dizeres "me desculpe por isso", para todos que eu conhecia.
Enquanto a maré levava o barco para longe da costa, eu coloquei uma de minhas mãos no mar.

— Oi, Água. Eu não posso te ouvir, mas sei que Você me ouve. Gosta de almas, não é? Te ofereço a minha. Você me tirou tudo o que eu tinha. Lili era o meu oxigênio, a razão pela qual eu não deixava de acreditar em dias melhores. Ela nunca foi o problema, ela trouxe luz pra minha vida. Não quero viver num mundo onde eu não posso tê-la. — fechei meus olhos, sentindo minhas lágrimas chegarem. — Eu tenho sido uma pessoa nojenta. Não me importei com os sentimentos de nenhuma das mulheres com quem dormi, nem mesmo com a mulher que parece gostar de mim de verdade. Se eu pudesse ver a Becky agora, eu diria que sinto muito. Se bem que nenhum perdão meu seria válido agora. Eu odeio quem eu me tornei.

De repente, o barco parou e uma tartaruga surgiu, roçando sua cabeça em minha mão como um cãozinho. Seria a Água me dando uma resposta? Mas o que Ela estava querendo dizer?

Peguei o remo e tentei continuar remando, mas o barco simplesmente não saía do lugar. A Água estava tentando me salvar ou eu estava tão bêbado que comecei a ter alucinações?

Continuei sentado, parado ali e comecei a passar mal. Tudo ao meu redor girou ainda mais rápido até que eu finalmente apaguei.

Quando abri meus olhos, o céu estava começando a se alaranjar, anunciando que o sol chegava. Levantei ainda um pouco tonto e notei que o barco estava de volta ao cais. Na água, alguma coisa se mexeu.

Me esquivei para olhar e podia jurar ter visto uma cauda escura nadar para longe. Fiquei paralisado pela imagem, sem conseguir reunir os meus pensamentos.

— Cole! — ouvi alguém gritar de longe. Olhei para trás e vi a minha irmã e o Kj correrem na minha direção. — Meu Deus, sai daí! — com a ajuda de Kj, eu saí do barco e Camila pulou em meus braços. — Você quer me matar do coração? Como me manda uma mensagem daquelas e depois nem atende as minhas ligações? Achei que tinha feito alguma besteira! — ela começou a chorar.

Alto Mar ˢᵖʳᵒᵘˢᵉʰᵃʳᵗOnde histórias criam vida. Descubra agora