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Lili

Não consegui chegar até a areia da praia. O máximo que pude fazer foi me agarrar à uma das rochas que ficavam imersas um pouco depois da praia.

Com um braço, eu abraçava o corpo de Cole, impedindo que sua cabeça ficasse debaixo d'água e usava o outro braço como uma espécie de anzol. Não consigo nem descrever o quanto aquilo doía. Meu braço estava totalmente arranhado, mas eu continuava a forçar para não cair, piorando ainda mais os ferimentos.

Quando percebi que estava começando a ficar tonta e que provavelmente quebraria um dos meus ossos, eu usei o último punhado de forças que tinha para jogar o corpo de Cole sobre a rocha, o mantendo finalmente a salvo da Água.

Mas Ela não parou com a correnteza e continuou tentando me puxar para o fundo. Agora eu usava meus dois braços para me agarrar à rocha.

— Para! Por favor! — gritei. — Ele já saiu do mar! Não pode fazer nada!

Você nunca mais pisará em terra firme novamente! — Ela disse.

— NÃO! — entrei em desespero e movi minha cauda rapidamente contra a correnteza.

De cima da rocha, eu vi Cole começar a tossir, jogando pra fora toda a água do mar que havia engolido.
Ele acordou, sentou com a mão na cabeça e assim que olhou na minha direção, soltou um grito e se arrastou para trás.

— Cole! Me ajuda! — implorei.

Ele não olhava para o meu rosto, olhava para a minha cauda com uma expressão de pavor. Cole nem sequer piscava.

— Se você não me tirar do mar, Ela vai me levar e você nunca mais vai me ver! — eu já estava chorando compulsivamente.

Ele demorou alguns segundos, como se não soubesse se deveria me salvar ou não. Eu queria poder entrar na mente dele agora e saber o que estava sentindo e o que pensava que eu era.

Ele sacudiu a cabeça e esfregou os olhos. Aposto que não acreditava que tudo aquilo era real. Eu o olhei com súplica e finalmente, de forma rápida e desesperada, ele segurou meus braços e me puxou para cima da rocha.

Eu soltei um grito agudo, sentindo meus braços queimarem enquanto o sangue escorria por minha pele.

O mar se acalmou, os ventos cessaram e eu me senti aliviada por ter conseguido sair dali. Mas a minha cauda não sumiu e por mais que eu medisse esforços, minhas pernas não apareciam. Já que Ela não podia me castigar agora, não me devolveria minha forma humana.

— Minhas pernas! Devolve as minhas pernas! — soquei a superfície da Água.

O que... que... — Cole me olhava confuso e assustado, sem se aproximar demais de mim. — Isso não é real... — balançou a cabeça negativamente. — É só uma alucinação...

— Isso é real, Cole. Você não é louco. — o olhei com tristeza. — Eu sinto muito...

— Rosa... roxo... espelhado... — ele dizia, olhando para a minha cauda. — Foi você! — arregalou os olhos. — Você fez aquilo com o meu pai!

— Eu posso explicar tudo! Você tem que entender que a culpa não foi minha! — ele ficou de pé e olhou para o mar, depois para mim.

— Quando você disse "Ela", estava falando de quem?

— A Água. Ela é consciente, se alimenta de almas para poder continuar forte e continuar sendo capaz de trazer vida e saúde para aqueles que A consomem. É como uma troca.

Alto Mar ˢᵖʳᵒᵘˢᵉʰᵃʳᵗOnde histórias criam vida. Descubra agora