Alto Mar ˢᵖʳᵒᵘˢᵉʰᵃʳᵗ

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Lili

Acordei sentindo o vazio pesar em meu estômago. Havia tantas décadas que eu não sentia aquela sensação que demorei a identificar que estava com fome.

Levantei e não encontrei o vestido que usei na noite anterior, então peguei uma das camisas de Cole que cobria todo o meu corpo e vesti.

Saí do quarto e reparei que a casa estava silenciosa. Quantas horas haviam se passado? Olhando o relógio de parede da cozinha, eu vi que já eram onze da manhã. Normalmente, eu conseguia controlar as minhas horas de sono, mas agora, sendo uma humana normal, eu não tinha mais controle sobre isso.

Abri os armários em busca de algo para comer e acabei comendo tudo o que vi. Cereais, frutas, pães, biscoitos, sucos... quando eu acabei de comer, estava toda lambuzada e o balcão da cozinha em uma zona.

Ouvi alguns passos se aproximando e Cole surgiu usando seu uniforme de trabalho e trazendo uma sacola de um restaurante. Ele olhou para o estado da cozinha boquiaberto.

— Achei que fosse ficar com fome, então eu trouxe almoço. — riu. — Acho que não vai precisar.

— Eu vou limpar tudo, eu prometo. — sorri sem jeito.

— Tudo bem, não se preocupe. Como se sente?

— Nunca senti tanta necessidade de comida assim. Me sinto como se eu tivesse ficado literalmente décadas sem comer. — ele veio até mim e limpou o canto da minha boca com o polegar.

— Eu deixei uma mala com as suas roupas na porta da frente. O vestido que você estava usando ontem virou sal.

— Sal? — arqueei a sobrancelha. — Legal!

— Não precisa desfazer as malas, só pega o que precisa usar agora e depois... — ele tirou um molho de chaves do bolso. — Vá até a nossa casa.

— Nossa casa? — sorri de lado.

— Nós somos um casal agora, vamos viver juntos. É o nosso lar. — acariciou o meu rosto. — Eu preciso voltar ao trabalho. Ah, eu falei com a Barbara que você voltou, ela quer muito te ver.

— Eu estou morrendo de saudades dela! — coloquei minha mão sobre o peito. — Espera, que explicação sobre o meu sumiço você deu?

— Problemas muito sérios com a família. É muito fácil dar esse tipo de desculpa porque não é necessário entrar em detalhes. — eu assenti.

— Te vejo em casa. — ele me deu um selinho e se retirou.

Depois de limpar a cozinha, eu tomei um banho frio e vesti um macacão jeans curto com uma blusa preta.

Saí da casa carregando minhas malas e depois de trancar a porta, deixei as chaves embaixo do carpete e comecei a caminhar pelas ruas em direção à minha nova casa.

Parei em frente à varanda observando bem a estrutura do lugar. Eu já tinha estado ali antes, mas agora era diferente porque era o meu lar de verdade, o lugar onde eu passaria o resto dos meus dias ao lado do homem que eu amo. O lugar onde eu construiria uma família.

Quando entrei, dei uma boa analisada na sala de estar e decidi fazer uma grande mudança. Já que era a minha casa, precisava ter o meu toque.

Passei a tarde fazendo uma boa faxina, mudando móveis de lugar e desembrulhando caixas de mudança que Cole ainda não tinha aberto.

Coloquei uma música bem alta pra tocar e enquanto eu ia varrendo o chão, comecei a cantar e dançar com vontade, gritando alto e podendo ouvir com clareza que a minha voz cantada já não era mais tão encantadora quanto antes. Era até engraçada de se ouvir.