24

68 11 1
                                    

Cole

Minha vida acaba de ficar de pernas para o ar. Sereias existiam, eu não era maluco e todo aquele tempo preso dentro de um hospital foi uma inutilidade.

Eu tive que ouvir coisas horríveis das pessoas, todo mundo me tratava diferente por achar que eu era louco e eu aceitei ser pintado daquela forma, aceitei que aquela era a verdade, que eu era mesmo doido.

O pior de tudo isso foi perder o meu pai. Ele ainda estaria aqui se a Lili não estivesse. E por mais que ela tivesse repetido dezenas de vezes que era sua obrigação fazer aquilo, que a culpa não era dela e que a real assassina era a Água, o ódio ainda crescia em mim. Eu não conseguia não culpá-la.

Dylan me deixou sozinho e eu comecei as minhas pesquisas. Arrumei toda a mesa do laboratório com tudo que eu fosse precisar para analisar cada parte do corpo da Lili. Eu queria entender como era possível que uma criatura como ela pudesse existir.

Trabalhei a noite toda com aqueles papéis. Lili estava no canto do aquário, olhando para mim de forma séria, também parecia entediada.

Coloquei luvas de borracha, esterilizei uma das seringas e subi as escadas até o topo do aquário, me sentando na borda.

— Lili, eu vou precisar do seu sangue agora. — fui ignorado. — Eu te dou o que você quiser se vier aqui e voluntariamente deixar eu coletar o seu sangue. — ela emergiu e chegou perto.

— Qualquer coisa?

— Sim.

— Eu quero um beijo. — eu neguei com a cabeça. — Um beijo em troca do meu sangue. — ela apoiou suas mãos em minhas pernas e ergueu seu corpo, aproximando seu rosto de mim. Me senti totalmente tentado e foi impossível não beijá-la.

Pousei minha mão em um lado de sua face e deixei que nossos lábios se misturassem, em movimentos tão viciantes que eu nem pensava em desgrudar minha boca da boca dela.

Quando levei minha mão até sua cintura, senti as escamas que não se assemelhavam em nada com a pele sedosa que as pernas humanas dela tinham. E isso bastou para que eu lembrasse com o que estava lidando e me afastasse de vez.

— Droga... — resmunguei.

— Viu? Não pode me odiar para sempre. Você me quer.

— Não tente usar o seu charme de sereia pra me manipular. Agora, por favor, o seu braço. — ela esticou o braço e eu enfiei a agulha, retirando uma pequena quantidade de sangue.

— E depois? Você vai me dissecar? Arrancar o meu coração para estudos? — ela era firme em suas perguntas, mas ainda assim não escondia que estava perguntando aquilo por medo.

— Eu não vou te machucar. Por mais que você mereça, eu jamais seria capaz de machucar uma criatura marinha.

— Pare de me tratar como um animal!

— E o que você é?

— Uma sereia! Não sou um animal!

— Bom... isso é o que eu vou descobrir. — balancei a seringa.

Voltei para a minha mesa e fiz o que pude com o sangue dela. Todos os testes laboratoriais possíveis só mostravam o mesmo resultado: inconclusivo. Não era sangue humano, mas também não era sangue marinho.

Perdi metade da madrugada apenas no sangue dela e acabei tendo que guarda-lo no frizzer até que pudesse pensar em um teste diferente.

— Talvez se eu analisasse o cabelo... mas ele é tingido, isso pode atrapalhar. — falei comigo mesmo.

Alto Mar ˢᵖʳᵒᵘˢᵉʰᵃʳᵗOnde histórias criam vida. Descubra agora