Alto Mar ˢᵖʳᵒᵘˢᵉʰᵃʳᵗ

10

Cole

Lili acabou adormecendo e eu desliguei a televisão. Com a cabeça em meu ombro, sua perna enroscada à minha e parte do seu corpo sobre o meu, ela respirava fundo, adormecida como uma pedra.

Eu fiquei olhando para ela, acariciando seu rosto com o meu dedo indicador. Eu poderia ficar horas aqui olhando aquela mulher tão linda dormir. Ela parecia em paz, com um pequeno sorriso de canto. Vez ou outra ela me apertava de leve e se aconchegava ainda mais em meu peito.

O relógio já marcava dez da manhã e eu já imaginava que no oceanário estivessem se perguntando onde eu estava. E eu estava certo, já que meu celular começou a tocar fazendo Lili acordar.

— Continua dormindo, é só a minha irmã. — afaguei seus cabelos e ela voltou a fechar os olhos. — Oi, Cami. — falei ao atender o celular.

— Onde você está?

— Acredita que eu estou com a Lili?

— O que? E onde ela estava esse tempo todo?

— Ela não me disse e eu não quero pressionar.

— Meu Deus, essa garota quase mata todo mundo do coração, ela tem que se explicar!

— Cami, por favor, não faz nenhuma pergunta. Quando ela quiser contar, ela vai.

— Bom, eu vou ficar quieta, mas você sabe que o Kj não. Ele está tão aflito!

— Eu sei... — suspirei.

— Onde ela está agora?

— Dormindo. Parece que não dorme há dias.

— O que você acha que aconteceu?

— Não faço a mínima ideia.

— Eu tenho que voltar ao trabalho. Talvez o Kj vá aí depois que eu contar que a Lili voltou.

— Só pede pra ele vir com calma.

— Pode deixar.

Com cuidado, eu tirei Lili de cima de mim e coloquei um travesseiro debaixo da sua cabeça. Saí do quarto e fui até a cozinha da pensão. Cumprimentei algumas pessoas que estavam ali e perguntei se poderia preparar um chá para a Lili. Eles permitiram e se mostraram dispostos a ajudar.

Preparei um chá de camomila e voltei para o quarto dela. Lili ainda dormia e pelo jeito não acordaria tão cedo. Fui até ela e acariciei seu rosto.

— Lili? — chamei.

— Me deixa sair... — resmungou, no meio de um possível sonho. — Eu não gosto do escuro! — sua respiração acelerou. — Está frio... Que tipo de amor materno é esse?

— Ei, Lili! — falei mais alto e ela acordou ofegante. — Com o que estava sonhando?

— Eu não estava sonhando... — desviou o olhar.

— Estava sim. Era com a sua mãe? — ela ficou séria e não me respondeu. — Você me disse que a relação entre vocês era difícil. O que ela realmente fazia com você?

— Isso é chá? — ignorou totalmente os meus questionamentos e pegou a xícara da minha mão. — Eu adoro camomila! — sorriu.

— Sempre vai fazer isso?

— Fazer o que?

— Quando eu te faço uma pergunta séria você simplesmente decide que não quer responder. Uma hora você vai ter que se explicar.

— Disse que eu só precisava fazer isso se estivesse confortável.

— E eu sinto que você nunca vai estar. Sumiu por três dias e voltou sem nenhum arranhão, como se nada tivesse acontecido. O que quer que a gente pense sobre você?