- Como você sabe é a minha única herdeira. Eu tenho que passar nossos negócios para alguém.
- E o que eu tenho a ver com isso? Eu não sou mais considerada sua filha, lembra? Pelas regras da máfia.
- Falamos com il consiglio. Eu posso passar para de...
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Manoela
Mais um dia quente e ensolarado. Estava no meu escritório, virada para a enorme parede de vidro, olhando o mar, o sol. Vantagens de morar em uma ilha, não, de ter uma ilha.
Suspirei e voltei novamente para a mesa, analisando os documentos de uma transação. Estava vendendo uma das nossas empresas de tecnologia para um grupo empresarial americano. Livia, minha secretária, entra correndo, aflita, sem bater na porta:
- Manoela, desculpe entrar desse jeito.
- Diga, Livia – respondi sem desviar meus olhos da tela.
- Seu pai.
Parei tudo o que estava fazendo. Olhei para ela:
- Quem?
- Seu pai. Enviaram um e-mail com um invite para uma videoconferência. (invite: convite)
Levantei da mesa, segurando na cadeira, sentindo meu coração bater cada vez mais rápido:
- Como assim?
- Deixaram esse número. Pediram para você ligar agora.
Fiz sinal para que ela fizesse a ligação pelo meu celular e deixasse no viva-voz. Pedi que ficasse comigo e avisasse os seguranças para fazer a ronda na ilha e verificar se houve alguma invasão.
Sentamos no sofá, com o celular na mesa de centro. A chamada foi completada, ouvimos o toque uma, duas, três...
E então uma voz que eu conhecia muito bem:
- Alô, Manoela?
- Sim, eu me chamo Manoela, respondi. Quem é? Como se não soubesse.
- Sou eu, Manoela, seu pai.
- Eu não tenho mais um pai. A última vez que nos vimos, ele deixou bem claro, logo após a tentativa fracassada de me assassinar.
Até então ainda estava calma.
Percebi que ele também estava no viva-voz, vozes masculinas ao fundo.
- Você não vai facilitar, certo? Então eu vou direto ao ponto: estamos com o menino.
Lívia olhou para mim, desesperada. Eu engoli a seco, meu coração queria sair pela boca:
- Quero falar com ele. AGORA! Gritei.
Pude ouvir uma movimentação ao fundo:
- Tia Manu?
- Meu querido, você está bem?
- Estou, tia. Você vem me buscar?
- Vou, meu amor – senti meus olhos se encherem de lágrimas – só mais um pouco, está bem?
