Manoela
Katerina pegou uma cadeira e sentou ao meu lado:
- Quando Letizia falou com Nico, ela disse para seguir o código 1, ele a orientou a fazer o que fosse preciso e citou você.
- Kat, eu não entendo russo, mas não lembro do meu nome ter sido pronunciado.
- Código 1 era para que ele não se comunicasse com os sequestradores. O plano era que você fosse entregue e em seguida resgatada. Foi isso que eu escrevi no papel para Letizia, e que levaria você para a janela. Esmeralda, é o seu codinome, que Nico pronunciou, porque já sabia que Enrico queria a troca.
Luigi, que tinha o rosto cheio de cortes e hematomas, apontou para meus olhos. Esmeralda era por causa da cor.
Katerina continuou a explicar que toda a ação, que envolvia o tiroteio e minha fuga frustrada pela janela deveria parecer real, pois eles desconfiavam que Enrico sabia que eu não estava mais em Chicago e tinha homens vigiando a casa de Domenico.
Letizia se aproximou:
- Nós colocamos um rastreador em você – apontou para meu braço esquerdo, o corte que tinha pontos – assim que a troca fosse feita, meus seguranças iam resgatá-la. Eles estavam nos carros, próximos, só aguardando Enrico sair.
- Não acredito que vocês colocaram um rastreador de primeira geração em mim. Qualquer um conseguiria detectar essa porcaria.
- Mas até lá, você já estaria a salvo – Letizia continuou – foi o que eu consegui naquele momento.
Giuliano sorriu:
- Vocês não contavam comigo e nem com o padrinho, para estragar o plano de vocês.
Me defendi:
- Se eu soubesse que era um plano, jamais teria acionado o Don.
- Nós não podíamos arriscar, Manu. Tinha que parecer real. Desculpe – Katerina segurou a minha mão.
Olhei para o Homem, que continuava ali, parado:
– Acho que seus serviços se encerraram por hoje. Grazie mille.
(Muito obrigada)
Ele recolheu todos os instrumentos, estendeu o braço para mim, pegou a minha mão e a beijou.
Domenico estava encostado na parede. Evitava qualquer contato visual comigo.
Levantei:
- Vocês foram tão convincentes que quase morreram por causa disso. Esperem aqui que vou explicar tudo para o Don e acredito que estaremos dispensados.
Giuliano
Estava encostado na mesa, quando Katerina veio falar comigo:
- Você é o amigo da Manoela, certo?
- Sim. Eu a ajudei na fuga, há muitos anos atrás.
- Eu nem tive tempo de me apresentar direito. Sou a chefe de segurança.
- Eu sei – sorri para ela.
Era uma mulher bonita. Olhos amendoados, cabelos ondulados. Alta, esguia. Inteligente. Decidida. Corajosa.
Fiquei pensando em outros adjetivos para descrevê-la.
- Ainda bem que chegamos a tempo – ela continuou – espero que o Don compreenda a situação.
- Conhecendo como o conheço, ele irá convidar todos para um almoço, amanhã.
Ela virou a cabeça para o lado, curiosa:
- Você é parente dele?
- Sim e não.
Fomos interrompidos por Domenico:
- Giuliano, você pode me explicar como Manoela tem um relacionamento tão próximo com o nosso chefe?
- A única coisa que posso falar é que eles ficaram próximos depois que ela assumiu as empresas de Christian.
Letizia abraçou o irmão:
- Por Deus, achei que ia morrer!
- Ela não ia perdoar ninguém. A vida não foi nada justa com Manoela – suspirei – era esperado que o ódio tomasse conta dela em algum momento.
Ouvimos barulhos na porta. Manoela entrou:
- Fomos convidados para almoçar, amanhã.
Pisquei para Katerina, que riu para mim.
- Podemos ir embora? Letizia perguntou.
- Sim – Manoela respondeu e veio falar comigo – Giu, obrigada mais uma vez – me abraçou com força – até amanhã.
Senti o olhar de Domenico sobre mim.
Fui me despedir de Katerina, que estava conversando com Luigi:
- Katerina, você vem almoçar amanhã?
- Sim – ela sorriu, apertando os olhos.
- Então nos vemos em breve.
- Com certeza – se virou e foi caminhando para a porta, seus cabelos loiros e compridos balançavam de um lado para o outro.
Luigi olhou para mim com cara de poucos amigos.
Domenico
Cheguei em casa e fui direto para o chuveiro. Sentia dor na perna direita, apesar da bala ter sido extraída, o local estava bem inchado.
Me troquei com dificuldade, estava cansado e queria dormir. Manoela entrou e foi para o closet, separando algumas roupas.
- Vai para algum lugar? Perguntei.
- Vou dormir no outro quarto – respondeu – entendo que deva estar bravo comigo. Mas não vou me desculpar.
- Por que nunca me disse nada sobre o Don?
- Porque é segredo. Se está tão interessado, pergunte para ele amanhã.
Fui sentar na poltrona e me apoiei na parede, por causa da dor. Ela largou as roupas em cima da cama e se ajoelhou do meu lado, preocupada:
- Deixe eu ver. Está doendo muito?
- Sim, respondi.
Abaixei as calças e lá estava a marca, os pontos e o inchaço na coxa direita.
- Está infeccionado, Nico. Vamos chamar um médico para ver isso, agora.
O médico chegou meia hora depois, examinou o ferimento, prescreveu antibiótico e anti-inflamatórios. Após tomar todos os comprimidos, fui me deitar.
Manoela apareceu de pijamas, com uma bandeja nas mãos:
- Trouxe um lanche. Não é bom você tomar esses remédios sem nada no estômago.
Apoiou a bandeja na cama. Colocou os travesseiros nas minhas costas para que eu conseguisse ficar sentado. Comecei a comer. Vi que ela estava com uma faixa no braço esquerdo:
- Você se machucou?
- Não, pedi para o médico retirar o rastreador.
- Letizia fez isso pensando na sua segurança.
- Eu sei. Já pedi para Igor solicitar um rastreador subcutâneo. Decidi colocar um, nós fabricamos os mais modernos, imperceptíveis.
- Assim vai ser mais fácil para Giuliano localizar você, da próxima vez – falei sem pensar.
Estava irritado. Manoela arrumou os travesseiros e deitou do meu lado. Coloquei a bandeja na mesa de cabeceira e me deitei, puxando-a para perto.
Ela passou as mãos nos meus cabelos e apoiou a cabeça no meu ombro, falando em voz baixa:
- Fui parar em um hospital quando soube que tinha sido atingido, e fui dominada pelo ódio quando achei que havia me traído. Você me faz perder o controle. Só você. Entendeu?
Beijei sua testa e a abracei com força, sentindo seu cheiro. Estávamos cansados. Fechei os olhos, satisfeito com o que tinha ouvido.
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Ex-princesa da máfia (livro 1)
Ficção Geral- Como você sabe é a minha única herdeira. Eu tenho que passar nossos negócios para alguém. - E o que eu tenho a ver com isso? Eu não sou mais considerada sua filha, lembra? Pelas regras da máfia. - Falamos com il consiglio. Eu posso passar para de...