Capítulo 21 - Explicações

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Manoela

Katerina pegou uma cadeira e sentou ao meu lado:

- Quando Letizia falou com Nico, ela disse para seguir o código 1, ele a orientou a fazer o que fosse preciso e citou você.

- Kat, eu não entendo russo, mas não lembro do meu nome ter sido pronunciado.

- Código 1 era para que ele não se comunicasse com os sequestradores. O plano era que você fosse entregue e em seguida resgatada. Foi isso que eu escrevi no papel para Letizia, e que levaria você para a janela. Esmeralda, é o seu codinome, que Nico pronunciou, porque já sabia que Enrico queria a troca.

Luigi, que tinha o rosto cheio de cortes e hematomas, apontou para meus olhos. Esmeralda era por causa da cor.

Katerina continuou a explicar que toda a ação, que envolvia o tiroteio e minha fuga frustrada pela janela deveria parecer real, pois eles desconfiavam que Enrico sabia que eu não estava mais em Chicago e tinha homens vigiando a casa de Domenico.

Letizia se aproximou:

- Nós colocamos um rastreador em você – apontou para meu braço esquerdo, o corte que tinha pontos – assim que a troca fosse feita, meus seguranças iam resgatá-la. Eles estavam nos carros, próximos, só aguardando Enrico sair.

- Não acredito que vocês colocaram um rastreador de primeira geração em mim. Qualquer um conseguiria detectar essa porcaria.

- Mas até lá, você já estaria a salvo – Letizia continuou – foi o que eu consegui naquele momento.

Giuliano sorriu:

- Vocês não contavam comigo e nem com o padrinho, para estragar o plano de vocês.

Me defendi:

- Se eu soubesse que era um plano, jamais teria acionado o Don.

- Nós não podíamos arriscar, Manu. Tinha que parecer real. Desculpe – Katerina segurou a minha mão.

Olhei para o Homem, que continuava ali, parado:

– Acho que seus serviços se encerraram por hoje. Grazie mille.

(Muito obrigada)

Ele recolheu todos os instrumentos, estendeu o braço para mim, pegou a minha mão e a beijou.

Domenico estava encostado na parede. Evitava qualquer contato visual comigo.

Levantei:

- Vocês foram tão convincentes que quase morreram por causa disso. Esperem aqui que vou explicar tudo para o Don e acredito que estaremos dispensados.


Giuliano

Estava encostado na mesa, quando Katerina veio falar comigo:

- Você é o amigo da Manoela, certo?

- Sim. Eu a ajudei na fuga, há muitos anos atrás.

- Eu nem tive tempo de me apresentar direito. Sou a chefe de segurança.

- Eu sei – sorri para ela.

Era uma mulher bonita. Olhos amendoados, cabelos ondulados. Alta, esguia. Inteligente. Decidida. Corajosa.

Fiquei pensando em outros adjetivos para descrevê-la.

- Ainda bem que chegamos a tempo – ela continuou – espero que o Don compreenda a situação.

- Conhecendo como o conheço, ele irá convidar todos para um almoço, amanhã.

Ela virou a cabeça para o lado, curiosa:

- Você é parente dele?

- Sim e não.

Fomos interrompidos por Domenico:

- Giuliano, você pode me explicar como Manoela tem um relacionamento tão próximo com o nosso chefe?

- A única coisa que posso falar é que eles ficaram próximos depois que ela assumiu as empresas de Christian.

Letizia abraçou o irmão:

- Por Deus, achei que ia morrer!

- Ela não ia perdoar ninguém. A vida não foi nada justa com Manoela – suspirei – era esperado que o ódio tomasse conta dela em algum momento.

Ouvimos barulhos na porta. Manoela entrou:

- Fomos convidados para almoçar, amanhã.

Pisquei para Katerina, que riu para mim.

- Podemos ir embora? Letizia perguntou.

- Sim – Manoela respondeu e veio falar comigo – Giu, obrigada mais uma vez – me abraçou com força – até amanhã.

Senti o olhar de Domenico sobre mim. 

Fui me despedir de Katerina, que estava conversando com Luigi:

- Katerina, você vem almoçar amanhã?

- Sim – ela sorriu, apertando os olhos.

- Então nos vemos em breve.

- Com certeza – se virou e foi caminhando para a porta, seus cabelos loiros e compridos balançavam de um lado para o outro.

Luigi olhou para mim com cara de poucos amigos.


Domenico

Cheguei em casa e fui direto para o chuveiro. Sentia dor na perna direita, apesar da bala ter sido extraída, o local estava bem inchado.

Me troquei com dificuldade, estava cansado e queria dormir. Manoela entrou e foi para o closet, separando algumas roupas.

- Vai para algum lugar? Perguntei.

- Vou dormir no outro quarto – respondeu – entendo que deva estar bravo comigo. Mas não vou me desculpar.

- Por que nunca me disse nada sobre o Don?

- Porque é segredo. Se está tão interessado, pergunte para ele amanhã.

Fui sentar na poltrona e me apoiei na parede, por causa da dor. Ela largou as roupas em cima da cama e se ajoelhou do meu lado, preocupada:

- Deixe eu ver. Está doendo muito?

- Sim, respondi.

Abaixei as calças e lá estava a marca, os pontos e o inchaço na coxa direita.

- Está infeccionado, Nico. Vamos chamar um médico para ver isso, agora.

O médico chegou meia hora depois, examinou o ferimento, prescreveu antibiótico e anti-inflamatórios. Após tomar todos os comprimidos, fui me deitar.

Manoela apareceu de pijamas, com uma bandeja nas mãos:

- Trouxe um lanche. Não é bom você tomar esses remédios sem nada no estômago.

Apoiou a bandeja na cama. Colocou os travesseiros nas minhas costas para que eu conseguisse ficar sentado. Comecei a comer. Vi que ela estava com uma faixa no braço esquerdo:

- Você se machucou?

- Não, pedi para o médico retirar o rastreador.

- Letizia fez isso pensando na sua segurança.

- Eu sei. Já pedi para Igor solicitar um rastreador subcutâneo. Decidi colocar um, nós fabricamos os mais modernos, imperceptíveis.

- Assim vai ser mais fácil para Giuliano localizar você, da próxima vez – falei sem pensar.

Estava irritado. Manoela arrumou os travesseiros e deitou do meu lado. Coloquei a bandeja na mesa de cabeceira e me deitei, puxando-a para perto.

Ela passou as mãos nos meus cabelos e apoiou a cabeça no meu ombro, falando em voz baixa:

- Fui parar em um hospital quando soube que tinha sido atingido, e fui dominada pelo ódio quando achei que havia me traído. Você me faz perder o controle. Só você. Entendeu?

Beijei sua testa e a abracei com força, sentindo seu cheiro. Estávamos cansados. Fechei os olhos, satisfeito com o que tinha ouvido.

Ex-princesa da máfia (livro 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora