Letizia
Puxei um travesseiro e deitei minha cabeça, estava cansada e queria dormir:
- Então? O que é tão importante assim para eu ficar acordada até essa hora, Giuliano?
Ele respirou fundo:
- Preciso de um favor.
Sentei. Tudo o que eu precisava era que ele me devesse algo:
- Pode ser mais específico?
- Meu pai decidiu que devo assumir metade dos negócios. E sugeriu que você me ajudasse.
- Que eu te ensine, você quer dizer?
- Eu nunca acompanhei de perto as famílias e os negócios.
Virei meus olhos. Eu ia ser babá do filho do mafioso que não queria ser mafioso.
Levantei e fui até o closet, em dúvida se vestia um pijama ou minhas roupas de trabalho, visto que já eram 3:35 da manhã. Optei pelo pijama, sentei na cama novamente:
- E até agora você fazia o quê? Qual era sua função?
- Chefe da segurança.
- Sabe manusear armas, lutar?
- Sim. Fiz treinamento nos Estados Unidos. Foi a desculpa que usei para ajudar Manoela na fuga.
Fiz uma nota mental no meu cérebro sonolento e sob efeito do álcool, para nunca tocar nesse assunto com meu irmão.
Puxei as cobertas da cama, ajeitei os travesseiros:
-Eu vou te ajudar, mas em troca você aceita ter a cessão da venda de armas ao invés do monopólio. Vai trabalhar para mim definitivamente. Vou fazer uma taxa de repasse bem baixa para você, uns 15% . Assim você fica com um lucro alto. Que acha?
- Acho que meu pai vai me matar se eu fizer isso.
- Ele não precisa saber, quando assinar nosso acordo, diga para ele que está tudo ok.
- Vou pensar.
Deitei na cama e puxei os cobertores:
- Ou vai ser ridicularizado por todos. Imagine quando os Capos descobrirem que o filho do Don não sabe dirigir os negócios. O que vai ter de gente querendo o seu lugar – comecei a rir.
Ele levantou da poltrona, irritado:
- Está bem! Fechado!
- Ótimo. Quando sair, apague as luzes e feche a porta.
Virei para o lado, coberta. Ouvi a porta bater.
Pensando em qual local do meu corpo seria ideal para tatuar o símbolo máximo da máfia italiana, fui embalada pelo sono, sorrindo.
Sim, eu ia ocupar a cadeira do Don.
Manoela
Revisei os papéis da adoção de Lucca. Já era a terceira vez. Domenico estava sentado ao meu lado. Perguntei para o advogado, no viva voz:
- A cláusula dos direitos aos bens está correta, certo?
- Sim, Manoela. Você já tem um contrato pré-nupcial com seu marido. Os seus bens estão seguros. Além disso, o testamento de Christian deixa claro que metade da fortuna é sua e que você é a responsável legal de Mathew.
- Eu pedi para vocês alterarem para 75/25. Mathew tem que ficar com a maior parte.
- Só podemos fazer isso quando ele atingir a maioridade. Agora, sobre a adoção, está de acordo?
Peguei a caneta e assinei:
- Sim.
- Agora falta a assinatura da mãe da criança.
Olhei para Domenico, e me levantei da cadeira:
- Por favor, resolvam com o pai. Obrigada por agilizarem os papéis. Eu tenho que sair.
Virei as costas, saí do escritório, atravessei a sala e fui até a piscina, onde Mathew brincava. Ele correu na minha direção e o abracei:
- Você sabe que eu te amo, né?
Sentamos no chão.
Ele riu, sem saber direito o que estava acontecendo:
- Eu gosto de você assim – abriu os braços.
Riu novamente e pulou na piscina.
Mathew era o motivo pelo qual eu estava viva. Christian não tinha parentes próximos e era minha obrigação cuidar daquela criança, eu devia isso à ele.
Katerina se aproximou e sentou-se ao meu lado:
- Soube que assinou os papéis da adoção. Parabéns, mamãe – sorriu.
- Assinei por causa de Nico – olhei para o mar, ao longe.
- Não queria?
- Não é isso, Kat. É que desde que Christian se foi, perdi minha autonomia. Todas as decisões sobre a minha vida se baseiam nos outros.
- Nico é apaixonado por você, Manu.
Olhei ao redor, para certificar que ninguém estava por perto:
- Eu gosto dele. Muito. Mas isso só aconteceu por causa do sequestro e do contrato, não porque quis. Christian foi minha escolha, eu o amava. Foram os melhores anos da minha vida. Sem ameaças, sem violência, com liberdade.
Katerina ficou séria. No fundo, ela sabia que eu tinha razão:
- Prometa que não vai fazer nenhuma besteira. Nico pode não ser perfeito, mas ele te adora.
- Vou me comportar – levantei do chão – já está sabendo que Letizia vai casar?
- Não, com quem?
- Giuliano.
Katerina parecia decepcionada:
- Mas, como assim? Não era o seu padrinho que estava interessado nela?
- Ele é filho dele.
Ela arregalou os olhos:
- Entendi. Uma pena, ele é muito agradável e Letizia não é uma pessoa das mais amigáveis.
- Agradável – comecei a rir – Katerina, você não tem jeito. E Luigi?
- Me afastei. Expliquei para ele que era só diversão. Ficou irritado, dá para entender?
- Se afastou por isso mesmo? Ou porque Giu apareceu?
Ela sorriu:
- As duas coisas, mas agora estou sem muita opção.
Rimos alto. Olhei para ela:
- Espero que ele e Tizia se entendam. Porque Giu é importante para mim.
- Eu sei – ela se levantou também – a amizade de vocês é de muito tempo, não?
- Sim, desde que eu tinha 18 anos – disfarcei.
Fui andando em direção ao escritório. Pensando em Giuliano. Eu e ele, nos Estados Unidos. Eu trabalhava em um bar o dia todo, tentando juntar dinheiro. Ele, no treinamento de armas. Vinha me visitar todos os finais de semana, com flores e uma garrafa de vinho nas mãos.
Ele foi o meu primeiro namorado.
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Ex-princesa da máfia (livro 1)
Ficción General- Como você sabe é a minha única herdeira. Eu tenho que passar nossos negócios para alguém. - E o que eu tenho a ver com isso? Eu não sou mais considerada sua filha, lembra? Pelas regras da máfia. - Falamos com il consiglio. Eu posso passar para de...