P.O.V ALICE
Passar duas horas dentro de um avião não era a minha forma favorita de matar tempo, sim, eu odeio aeronaves. A voz do piloto ecoou em todo o avião, anunciando decolagem. Meu coração disparou, eu nunca vou me acostumar com isso. Me remexi desconfortável na poltrona, suspirando fundo na tentativa de afastar o pensamento de que essa lata velha poderia cair a qualquer momento. Pedi uma água para a aeromoça e logo ela me entregou um copo, peguei um remédio dentro da minha bolsa e tomei-o. Pra suportar essa viajem eu preciso dormir. Coloquei o copo na bandeja. Henrique parecia aéreo ao meu medo e isso era bom, eu ficaria ainda pior se ele me zoasse.
- Posso segurar a sua mão? – a voz dele saiu velada, me trazendo a tempo real. Encarei Henrique com a cabeça inclinada para o lado, seus olhos demonstravam preocupação.
- Segurar a minha mão? – questionei. – Pra quê?
- Você tá com medo! – afirmou. – Olha como tá agarrando o braço dá poltrona. – só então me dei conta que minhas mãos seguravam a poltrona com certa força desnecessária.
- Decolagens me deixam tensa.. – confessei, ele sorriu para mim.
- Então, posso? – apontou para a minha mão.
- E desde quando você pede quando quer alguma coisa? – ergo a mão para ele que entrelaça os nossos dedos. Aquilo estranhamente funcionou, aos poucos a tensão de medo foi saindo de meus ombros.
- Sabe que eu estou feliz? – perguntou e eu olhei com uma sobrancelha arqueada.
- Por que estamos indo para a Flórida?
- Não! – negou. – Quer dizer, também... Mas eu estou conhecendo lados seus que estão me encantando, sabe? Eu sinto vontade de te proteger, Alice.
- Não!
- Não o quê? – agora quem estava confuso era ele.
- Nós não vamos transar de novo, não precisa ser fofo na intensão de me levar pra cama, sério.
- Do que você tá falando? – franziu a testa.
- Eu sei que não conversamos sobre o que aconteceu ontem, mas.. acho que estamos misturando as coisas. Isso não vai dar certo se continuarmos transando!
- Aconteceu porque nós dois queríamos, Alice!
- Eu sei, não estou falando que você me forçou ou coagiu a fazer nada, calma.. – soltei sua mão quando a aeronave se estabilizou. – Eu quis e muito.. – mordo o lábio voluntariamente ao lembrar de tudo o que fizemos. Foi bom, mas para dar certo não poderia acontecer novamente. – Mas você não acha que pode estragar tudo se continuar acontecendo? – perguntei, queria saber da opinião dele.
- E por que estragaria? – rebateu com outra pergunta. Engoli em seco, não esperava por isso. – Somos adultos, acho que podemos lidar com as coisas.
- Temos um trato, Henrique, não podemos sair transando assim.
- E por que não? Me explica, sério, eu quero mesmo te ouvir.
- Como por quê? Cara, isso vai acabar fodendo com tudo.
- Você tem medo de se machucar, é isso?
- O quê? – quase gritei. – Você não está achando que estou apaixonada, né? – soltei um sorriso irônico.
- Claro que não, isso nem me passou pela cabeça! – sua resposta me passou confiança. – Mas sei lá, você começou a falar essas coisas do nada, fiquei confuso.
- Eu deveria ter dito naquele dia, mas...
- Mas estava com medo do escuro e ficou com medo de falar e eu ir embora.
- É!
- Alice, presta atenção! – segurou meu rosto entre as mãos. – Eu realmente gosto de passar o tempo com você, você me faz esquecer ela. – ela não precisou dizer o nome para eu saber que falava da vadia. – E o sexo, nossa, é maravilhoso. Mas eu te respeito muito, quero o que você quiser. Se acha melhor ficarmos somente com a relação profissional, Ok, eu respeito isso.
- Obriga...
- Espera! – colocou o dedo sobre meu lábio me impedindo de falar. Fiz que sim com a cabeça, então ele continuou: – Mas eu realmente adoraria que continuássemos com nossa amizade.
- Iremos continuar, mas sem sexo. – falei quando ele retirou a mão de minha boca.
- Posso ser sincero? – fiz que sim. – Eu gostaria muito que continuássemos com essa, com esse.. como eu posso denominar? Amizade colorida? Sexo entre amigos? – gargalhei.
- Eu criei um monstro! - ele revirou os olhos.
- Só estou me posicionando! – levantou as mãos. – Mas como eu já disse, te respeito. Porém, sempre que quiser, basta solicitar.
- Eu vou me lembrar disso! – deitei a minha poltrona e me acomodei melhor, o calmante fazendo efeito.
- Você não deveria ter tomado remédio para dormir.
- É natural, não faz mal.. – fechei os olhos. – Quando a gente chegar você me acorda?
- Sim.. – ele acariciou os meus cabelos. – Alice? – sussurrou, inclinando também a sua poltrona. Vantagens da primeira classe.
- Hm? – resmunguei com os olhos fechados.
- Quando eu disse que me preocupo com você, não era pra te convencer a transar comigo. – eu soltei um sorriso, me esforçando para abrir os olhos. – Você é muito importante para mim. – beijou a minha testa.
- Idem! – murmurei, antes de ser vencida pelo sono.
(...)
P.O.V Henrique
Duas horas foi o tempo que passei velando o sono dela. Eu não consegui prestar atenção no livro que eu lia enquanto ela dormia, era mais forte que eu, eu sentia necessidade de olhá-la enquanto dormia. Alice estava tão serena, foi impossível manter minhas mãos longe de seu rosto. Meus dedos afagavam seus cabelos, eles eram macios. Quando o piloto anunciou a aterrissagem, beijei o rosto dela, aproveitando para inalar seu cheiro suave.
- Alice! – a chamei, ela nem se mexeu. – Oh bela adormecida! – a chamei novamente. Alice abriu os olhos de maneira preguiçosa, não pude deixar de sorrir. – Nós já chegamos!
- Já? – fiz que sim. – Caramba, eu apaguei.
- Percebi, você estava até roncando! – brinquei, ela estreitou os olhos.
- Eu não ronco!
- Fala isso porque não pode se ouvir.
- Ah, cala a boca! – bocejou, se levantando da poltrona. – Olá Flórida..
- Preparada para uma aventura?
- Aven-aventura? – uma sobrancelha dela se levantou. – Do que você tá falando?
- Logo você descobre! – fiz ar de mistério, me levantando quando as portas do avião finalmente se abriram. – Vamos?
- Vamos.. – segurou a minha mão, e juntos seguimos para fora.
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Contrato de Casamento volume I
RomanceEditora chefe da revista mais bem paga de NY, Alice Monteiro levava uma vida monótona e tranquila, vivia para o trabalho e nada mais importava, porém, ela vê seu mundo virar de cabeça para baixo quando seu visto é negado. Desesperada e sem saída, a...