"Capítulo 53 - Enigma

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         P.O.V HENRIQUE

Caminhei até a mesa de Henrique enquanto ainda esperava a resposta de Angelina. Tomei impulso ao espalmar as mãos na mesa, me sentando sobre a mesma. Respirei fundo tentando controlar minha vontade de voar em cima dela. Cruzei a perna direita sobre a esquerda, e ainda com as mãos espalmadas na mesa ergui minha sobrancelha esperando sua resposta.

- Já que tá ameaçando, joga a merda no ventilador de uma vez e acaba com isso. – ela me olhou incrédula, como se duvidasse dos próprios ouvidos. Henrique me encarou com aqueles olhos negros tão arregalados que pareciam querer saltar. – Então, a madame quer o número da imigração pra ligar ou vai sair daqui pra cuidar do maridinho arrebentando? – coloquei o máximo de desafio que consegui em minha feição. – Sabe querida, minha tia sempre me ensinou a não mexer no que está quieto. Você sabe que somos uma “farsa”? – fiz questão de fazer as aspas com os dedos, até porque o que fazemos quando estamos nós dois entre quatro paredes não tem nada de farsa. – Coloca a boca no mundo, conta pra todo mundo mesmo, mas aqui, aguente as consequências que seu marido também sofrerá, porque eu estava sim tentando esquecer essa história e seguir como se nada estivesse acontecido, mas você despertou meu desejo de vingança. E eu garanto para você, para ele, não haverá outras Alices". – levantei da mesa num pulo, tanto ela quanto ele ainda estavam calados.

Andei até onde Henrique ainda estava paralisado.

- Aqui meu amor, um beijo bem técnico pra você! – segurei as bochechas dele entre minhas mãos e lhe dei um selinho. O contato foi rápido, mas o deficiente para que eu pudesse imaginar nossas línguas juntas depois de tantos dias longe uma da outra. – Te espero em casa, depois você me diz o que ela decidiu aí! – pesquei, batendo de leve no rosto de Henrique. – Tchau querida! – mandei um beijo no ar, saindo dali o mais rápido que pude. Senti o ar se desviar de meu pulmão enquanto andava até o elevador. A primeira lágrima escorreu quando entrei na caixa metálica. Eu não conseguia acreditar que isso está de fato acontecendo. Era notório que eu havia perdido o controle sobre minha vida, tudo parecia desmoronar a cada dia.

(...)

Quando finalmente cheguei ao apartamento que dividia com Henrique, já não tinha mais fome e minha única vontade era chorar. E foi o que fiz, chorei como nunca, ou como sempre vinha chorando na última semana. Deitei na cama e dei vazão as lágrimas, deixando toda a dor que já vinha carregando no peito vir a tona. Não sei dizer ao certo em que momento peguei no sono, mas quando acordei o sol não mais brilhava através da janela, quem tinha vez agora era a lua solitária sem as estrelas para lhe acompanhar. Coloquei a mão na cabeça e a senti latejar, me levantando com dificuldade e franzino a testa de dor. Estava um pouco atordoada, e, quando os flashes do que aconteceu mais cedo na sala de Henrique vieram, senti o medo me cercar. Eu joguei o jogo dela, fingi uma segurança que eu não sentia e falei coisas que me arrependo de ter falado, me arrependo de ter deixado ele lá, com ela. Doeu, doeu como a muito não doía e ainda dói, imaginar que em dias ou em dois meses eu posso perdê-lo pra sempre. ‘Ele nunca foi seu’ foi o que minha deusa inferior gritou acompanhado de uma bofetada em meu rosto. Neguei com a cabeça, ela tinha razão, ele não era meu. O cheiro dele estava ali, mas ele não. Poderia jurar que o senti perto de mim enquanto dormia, mas pelo jeito foi só um delírio.

P.O.V HENRIQUE

Eu não sabia se ria, chorava, corria ou gritava. Simplesmente não tive reação diante dela. E quase sempre era assim, eu não tinha reação diante daquele tsunami que ela é. Alice é a melhor atriz que já vi em toda a minha vida, essa conduz tudo tão bem que as vezes até eu mesmo acabo acreditando no que ela diz. E foi o que aconteceu aqui, ela entrou no jogo de Angelina e mostrou que estava a frente na partida, mas eu tenho certeza que por dentro ela estava morrendo. Ela era assim, pisava com classe, suas atitudes surpreendentes me deixavam maluco. Achei que ela ficaria ainda mais apavorada do que já estava ao ouvir o que Angelina disse, mas não, ela mostrou que mesmo machucada como só eu sabia que ela estava, a situação estava em seu total controle, ela não perderia as rédeas. Era fato que fiquei atômico com tudo o que aconteceu, e quando ela saiu pisando firme, eu paralisei, olhando pro nada. Meu coração estava acelerado e eu mau prestei atenção em Karen que pelo jeito estava na mesma condição que eu, impactada com o furacão que era Alice. Pesquei três vezes consecutivas e quando voltei do transe em que estava, ouvi os passos de uma Angelina furiosa saindo de minha sala. Respirei fundo, coçando a cabeça e correndo até a recepção onde minha secretaria olhava o elevador se fechar com a morena lá dentro.

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