Conversa Difícil - Ana

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Bati na porta da Bianca com o estômago doendo. Esperei que meus irmãos saíssem para a escola junto com o Tomás, padrasto deles, do outro lado do prédio. Assim que os vi saindo, corri para a portaria e pedi para o seu Manuel avisar que estava ali.

Bianca abriu a porta segundos depois que bati e voltou para dentro do apartamento terminando de colocar o brinco. Ela estava toda arrumada, pronta para sair e pensar que ela poderia me mandar embora sem me dar as respostas que precisava fez meu estômago se revirar outra vez.

- Oi, Ana! Que pena, os meninos acabaram de sair com o Tomás e eu tenho uma reunião daqui a pouco, mas se quiser posso te deixar na sua escola. O Tomás ia passar perto da escola deles e os dois logo pediram carona. Sabe como aqueles dois são preguiço... Ana, você está bem?

Ela se aproximou, largando a bolsa que havia acabado de pegar e parando de falar no meio da frase, assim que viu as lágrimas escorrendo pelo meu rosto. Eu não sei o que ela viu ali mas correu para mim e me abraçou, o que só fez mais lágrimas escorrerem.

Bianca fechou a porta e me levou para o sofá, sentando ainda abraçada comigo.

- O que foi, minha menina? Eu tô aqui, vai ficar tudo bem!

Ela dizia que ficaria tudo bem mas dentro de mim eu sabia que não ficaria. Aquela mulher que eu odiava desde pequena estava ali, me abraçando do jeito que minha mãe não fazia a anos, mesmo quando aparecia ela não era mais aquela mãe amorosa das minhas lembranças.

Culpa me atingiu em cheio quando percebi que eu poderia ter odiado uma mulher inocente, que me protegia do meu pai quando eu aprontava e que mesmo contra a minha vontade, cuidava de mim com o mesmo carinho que dos próprios filhos quando eu ficava lá.

Outra onda de choro e tristeza me alcançou e eu a abracei mais forte. Ela me segurou apertado e se inclinou para traz me levando com ela. Eu estava deitada no seu peito e sendo honesta comigo mesma, eu me sentia amada e protegida como fazia anos que não sentia, aquele era o colo de mãe que não tive desde os 5 anos.

O choro foi diminuindo devagar, junto com a dor no peito e agora só restava um buraco ali.

- Não, eu não sei o que aconteceu. Não precisa voltar, só avisa ao Breno, por favor e a reunião... isso, obrigada.

A voz baixa da Bianca me despertou. Eu abri os olhos e vi que ainda estava agarrada nela. Me levantei e a vi colocando o telefone de volta no braço do sofá.

- Oi, Ana! Desculpa, eu estava falando com o Tomás. Não queria te acordar.

- Não, tudo bem. Me desculpa por ter dormido sobre você. Apaguei por muito tempo? Perguntei envergonhada.

- Não, só uns dez minutinhos. Você parecia bem cansada.

- É eu... eu não dormi nada essa noite.

- Mas o que aconteceu? Você veio aqui falar com os meninos? Ana, você pode conversar comigo, eu estou aqui para você, mesmo não deixando me aproximar.

Ouvir aquilo fez alguma coisa no meu peito aliviar um pouco. Acho que foi o medo dela ter raiva de mim por tudo o que eu fiz. Meu silêncio fez ela achar que eu não falaria nada e a fez suspirar triste e pegar o telefone outra vez.

- Eu vou pedir para o Tomás trazer seus irmãos aqui. Você precisa conversar e já que não quer falar comigo então...

- Não! Não. Espera!

Falei colocando a mão no seu braço e a impedindo de completar a ligação.

- Por favor, não liga para ele. Eu...eu... na verdade eu vim aqui falar com você.

De volta para casaOnde histórias criam vida. Descubra agora