Vergonha - Ana (8 anos depois)

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Quando eu tinha 5 anos descobri que tinha dois irmãos, filhos do meu pai com a Bianca. Depois disso minha mãe e minha avó foram embora.

Eu era pequena demais para entender o que estava acontecendo e ninguém me explicava nada. Nunca mais vi a minha avó e a minha mãe aparecia as vezes, sempre no meu aniversário e em alguns natais mas ela também nunca me contou o que aconteceu.

Ela e meu pai mal se falavam e meu avô que adorava minha mãe, não olhava mais na cara dela.

Meu mundo virou de cabeça para baixo e eu não sabia o porquê. Passei a morar com meu pai e meu avô e via meus irmãos em alguns finais de semana. Eu amava aqueles garotos apesar de serem uns pestinhas, nós tínhamos quase a mesma idade, eu era apenas meses mais velha que eles.

Apesar de toda aquela bagunça, quando eles vinham eu me sentia bem, sentia que tinha uma coisa que não mudaria, eles eram meus irmãos e me amavam do mesmo jeito que eu amava eles. Só tinha um grande problema, eu odiava a mãe deles.

A primeira vez que vi Bianca Valverde foi na televisão. Achei ela linda e por um curto período de tempo eu quis crescer e ser igual a ela. Já a segunda vez que a vi, ela estava brigando com a minha mãe.

Tinha ido fazer um teste para um comercial e quando fui procurar minha mãe vi a Bianca puxando o cabelo dela e falando bem brava. Depois disso fomos expulsas do lugar e nunca esqueci os gritos da minha mãe e avó dizendo que tudo era culpa da Bianca. Eu passei a odiar ela e parei de assistir sua série.

Desde que minha mãe foi embora eu precisei encontrar a Bianca várias vezes. Meu pai toda vez que ela estava perto ficava parecendo um bobão, sempre olhando para ela e tentando se aproximar. Meu avô não era muito diferente. Quando descobri que além de ser mãe dos meus irmãos ela era minha tia, irmã da minha mãe, minha cabeça deu outro nó.

Quando fiz 12 anos e encontrei minha mãe no meu aniversário eu perguntei para ela outra vez por que tinha ido embora. Dessa vez ela não desconversou mas também não me deu uma resposta que eu pudesse entender, só disse que a irmã era uma invejosa que só voltou para atrapalhar.

Eu não entendi mas depois desse dia eu sabia que a Bianca era o motivo da minha mãe não estar mais por perto. Apesar dela sempre ser legal comigo e de me tratar muito bem sempre quando eu ia na casa dela ver meus irmãos eu nunca a deixei se aproximar e sendo sincera, as vezes eu até aprontava algumas.

Como da vez em que levei meu hamster escondido para a casa dela e soltei no seu quarto. Ela não tinha medo, mas levou um susto enorme quando viu algo se mexendo embaixo dos lençóis. Eu também já joguei fora um sapato dela que sabia que ela adorava.

Eu sei, não me orgulho muito dessas coisas mas ver ela feliz com os filhos e saber que eu chegaria em casa sem a minha mãe doia muito e essas pegadinhas, na minha cabeça, eram justas. Bianca nunca me dedurava.

Eu sentia falta da minha mãe. Sentia falta de ter alguém para conversar. Apesar do meu pai e do meu avô que me davam muito amor e carinho eu sentia falta do amor e carinho dela. Lembrava como ela me tratava e meu coração apertava. Eu queria seus conselhos, principalmente hoje.

Pensei soltando um suspiro e me olhando no espelho depois de trocar de roupa pela décima vez. Era a minha primeira festa da escola em que não teria um pula-pula do lado de fora e animadores.

Uma das meninas mais populares da escola estava fazendo dezessete anos e graças ao Pablo, meu melhor amigo e vizinho desde que me entendo por gente, que agora namorava essa menina, eu fui convidada.

O Pablo é incrível! Desde que posso lembrar ele está comigo. Aprendemos a nadar juntos, a andar de bicicleta, ele foi meu primeiro beijo e eu fui o dele. Não foi nada romântico, nós apenas decidimos que não queríamos ser mais virgens de boca e numa tarde depois da escola, na porta da casa dele, nos demos nosso primeiro e último beijo.

De volta para casaOnde histórias criam vida. Descubra agora