Descobrindo o passado - Tomás

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Ela me mostrou o banheiro e foi dar banho nos meninos no banheiro do seu quarto. Depois colocou os dois nas suas camas e veio me procurar. Eu estava sentado no sofá, bem à vontade, olhando para o teto.  Ela se sentou ao meu lado vestindo um short e uma camiseta longa, azul, masculina com a imagem do Homer Simpsons na frente. Olhei para a blusa, me perguntando de quem seria e ela seguiu meu olhar.

- É do meu pai. A única coisa que tenho dele. Foi um presente do dia dos pais que dei para ele. Essa blusa e outra com a Lisa, era o desenho que assistíamos juntos. Peguei para mim depois que a minha mãe morreu, tinha o cheiro dele e só conseguia dormir assim. Agora só tem cheiro de amaciante.

Ela falou colocando a blusa próxima ao nariz para cheirar.

- Como você está?

Ela me olhou, respirando fundo e dando com os ombros.

- O que foi aquilo?

Ela respirou fundo outra vez e começou a falar. Pelo jeito que falava, eu sabia que não gostaria da história. 

- Quando eu tinha 13 anos, meu pai se casou com a Gisele. A Geovana tinha a minha idade, mas nunca fomos próximas. Na escola, praticamente ninguém sabia que éramos irmãs postiças, mas na frente do meu pai, ela era um doce. Sempre educada comigo e puxando assunto. Eu não gostava da falsidade dela então não dava confiança quando ela fazia isso na frente do meu pai, mas como ele só via esses momentos, já que trabalhava o dia todo fora, sempre achava que eu não estava tentando.

Ela parou de falar e eu segurei sua mão. Quando me olhou, seus olhos tinham uma tristeza que fez meu peito doer. Apertei sua mão, incentivando a continuar a falar. Com um suspiro, ela seguiu contando.

- Meu pai ficava triste e para não o decepcionar mais, passei a tentar me dar melhor com ela, pelo menos nas vezes que ela dava abertura. E assim as coisas foram por anos. Elas não me maltratavam, então eu não tinha problemas com elas.

Ela parou para beber um copo d'água e continuou a falar. 

- Meu pai e eu tínhamos várias tradições.

Ao falar isso, ela abriu um sorriso saudoso, me fazendo ver que sentia muita falta dele.

- Uma das tradições era assistir a um episódio desse desenho toda noite, ou dois episódios, se ele não estivesse muito cansado. Depois que elas chegaram, não conseguimos mais fazer isso todos os dias. A Geovana não gostava e meu pai queria fazê-la se sentir bem-vinda. Então tínhamos que assistir outra coisa.

- Seu pai se afastou de você?

- Não. Isso é o que me dói mais. Nós nunca nos afastamos tanto para ele não saber mais quem eu era, para desconfiar de mim.  Ele sempre foi muito correto. Não aceitava injustiça. Uma vez, fez a Geovana se desculpar com um senhor que vendia doces por ela ter sido grossa e desrespeitosa com ele.  Eu não consigo entender o que fez ele mudar tanto.

- Me conta. O que aconteceu?

Ela parou por um instante. Parecia pensar em como começar a falar.

- O Breno começou a estudar na nossa escola quando estávamos no início do ensino médio.  Ele era um dos meninos populares, jogava futebol e vivia cercado pelas garotas. Eu nunca tinha falado com ele até que entrou para o club de teatro. Depois disso, ficamos grudados e começamos a namorar.

Eu me ajeitei no sofá.  Sentia que a história não seguiria tão leve a partir de agora. Ela se virou para frente, encarando a parede, como se estivesse vendo o que estava me contando.

- Nos casamos logo depois que me formei. Entrei na faculdade de artes cênicas que sempre sonhei, mas tranquei um semestre depois para acompanhar o Breno, que conseguiu um contrato com um bom time, mas em outro estado. Meu pai e a esposa sempre me visitava, mas quando a Geovana ia junto, o clima sempre ficava estranho. Eu nunca imaginei que era porque ela tinha um caso com o meu marido, dentro da minha própria casa.

De volta para casaOnde histórias criam vida. Descubra agora