Fazendo Planos

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No caminho para lá liguei para o Fernando e para o Tomás. Os dois falaram que me encontrariam lá. Cheguei antes da hora marcada e aproveitei para comer alguma coisa, sentia que depois que ouvisse o detetive não conseguiria forçar nada para dentro. 

Ele chegou praticamente junto com o Fernando que não estava muito longe dali na hora em que liguei. Após os cumprimentos, avisei que o Tomás estava vindo, mas que poderíamos começar. 

- Tudo bem. Vamos lá. Seu pai está até o pescoço em dívidas. Ele hipotecou a casa e usou o dinheiro para quitar as parcelas atrasadas da casa da filha que estava quase perdendo a casa. Seu pai não tem mais crédito no mercado. O que ganha na aposentaria não dá nem para pagar as prestações que estão se acumulando e ele voltou a trabalhar.

- Está trabalhando de que?

- Está fazendo acessória para uma empresa de construção. O salário não é alto mais está dando para pagar o restante, já a mulher continua tendo a boa vida de sempre. Shopping praticamente todo dia, academia, almoços em restaurantes caros. Pelo que vi, está tentando ser famosa. Tem um canal no Youtube sobre dicas de restaurantes e lojas, mas não tem nem trinta seguidores. Descobri que ela tem tentado também testes em novelas, mas até agora não conseguiu nada. A neta já é outra coisa, ela tem levado a neta e a garota já conseguiu duas propagandas. Uma para uma loja de brinquedo de médio porte e outro para uma marca de roupa, também nada grande. 

- E o dinheiro que elas receberam?

-  A garota não tem nenhuma conta. Não usaram para pagar as dívidas também, pois no período do contrato não houve nenhum pagamento. 

Bebi um pouco do café que havia pedido, tentando digerir tudo o que estava escutando.  O Tomas chegou nessa hora, se sentando ao meu lado e passando as mãos pelas minhas costas. Ele não perguntou nada, apenas ficou ali, me dando apoio. 

- Tem mais uma coisa. Seu pai está com problemas de saúde. 

- O que?

- Ele pegou um plano de saúde mais barato, para as consultas e alguns exames, mas ainda assim se ele precisar operar, o plano não cobre. 

- O que ele tem? Perguntei aflita.

- Um problema no coração. Não consegui ainda os detalhes, mas ele já tentou sondar alguns bancos por empréstimos para cobrir as despesas caso precisasse de uma cirurgia, mas todas as respostas foram negativas. 

Abaixei a cabeça, apoiando nas minhas mãos. Tentava não chorar com o que ouvia. Meu pai sempre foi um homem forte e responsável e agora corria o risco de perder a casa e a vida. Eu estava zangada com ele, mas não queria que ele estivesse nessa situação. 

Tomás me apertou em seus braços enquanto o Fernando fazia mais perguntas sobre a situação financeira do meu pai. Eu não conseguia prestar atenção no que eles falavam direito, só pensava no meu pai, no pai que foi doce e amoroso durante toda a minha infância. Ele não merecia, mas era o meu pai e eu não podia deixar as coisas como estavam, então tomei uma decisão e uma ideia começou a se formar na minha cabeça. 

- Detetive, eu preciso de sua ajuda com uma coisa. 

Todos na mesa pararam de falar e prestaram atenção em mim. Contei tudo o que havia acontecido anos atrás e falei o meu plano, eu iria usar a mesma estratégia da minha querida madrasta. Ele não estava completo, mas com a ajuda de todos ali fui montando os pedaços que faltavam. 

- O plano está bom. De fato, está realmente bom. Mas vou precisar de alguns dias para conseguir tudo que precisamos. Além disso, os equipamentos são caros. 

Isso me preocupou desde o início. Apesar de estar recebendo um bom dinheiro com a série, eu precisava economizar para o futuro. A séria já havia sido renovada para a segunda temporada, eu já tinha contratos com duas marcas e ainda tinha alguns comerciais pela frente, mas ainda assim precisava me resguardar, tinha duas pessoinhas dependendo de mim. 

Antes que eu pudesse responder, Tomás tomou a frente.

- Não se preocupe com isso. Gaste o que for necessário e me avise. Pelo que andei pesquisando desde que ela te contratou, se a Geovana resolver prestar queixa agora a Bianca ainda pode ser prejudicada? 

Eu realmente não tinha pensado nisso. Minha preocupação era com meu pai e até as crianças, mas isso pode complicar tudo. Olhei ansiosa esperando a resposta do detetive.

- Sim, poderia.  Seria aberta uma investigação, mas como já tem tempo, as únicas provas seria as testemunhas, que no caso não acho que estariam a seu favor. 

- Eu não havia pensado nisso. Mesmo que eu seja inocentada das acusações só esse escândalo me prejudicaria profissionalmente. Não posso sair da série agora. 

- Não se preocupe, Bianca. Não vai chegar a isso. Vamos resolver o mais rápido possível. Fernando falou olhando para mim e depois para o detetive. 

- Sim, vamos sim. Preciso de alguns dias e vou tentar adiantar o que posso. 

- Obrigada! 

Terminamos de comer, forcei a metade do sanduiche que havia pedido e o Tomas comeu o restante.  O detetive saiu assim que combinamos alguns detalhes e Tomas me seguiu até em casa e subiu para falar com os meninos. Dispensei as babás e fui tomar banho deixando os três jogando na sala. 

Leo não estava. Ele agora mal ficava no apartamento. Tomei um banho e voltei para preparar um lanche para todos. Eles ainda estavam jogando quando voltei. Fui para cozinha e depois de alguns minutos escutei o Tomás falando para as crianças continuarem que ele já voltava. 

- Oi! 

- Oi! respondi

- Como você está?

- Ainda tentando entender tudo o que o detetive disse. 

- Vamos resolver tudo, fica tranquila. 

- Podemos resolver minha situação com meu pai, mas e as dívidas dele? Eu não tenho como ajudá-lo. O plano de saúde para a idade dele deve estar nas alturas, eu ainda não recebo tanto para cobrir as coisas das crianças, as minhas e mais um plano de saúde bom para ele e as contas da casa dele.  Eu...

- Ei... calma. Eu estou aqui. Estamos juntos nessa, não esqueça. 

Tomás veio para o meu lado e me envolveu com os braços, encostei minha cabeça no seu peito e pela primeira vez depois do dia tenso eu relaxei. Ficamos assim até que escutamos os gêmeos brigando na sala. 

- Eu os vejo.  

Tomás me soltou e foi em direção a porta, mas antes de sair se voltou.

- Eu... eu posso dormir aqui? 

Abri um sorriso. Ele parecia inseguro, muito diferente do normal.

- Vou pensar no seu caso. 

Ele me deu aquele sorriso sedutor que me fazia sentir borboletas na barriga. 

- Eu posso dar um jeito nisso.  Mas primeiro, vou olhar as crianças. Já volto, princesa. 

E saiu da cozinha me dando uma piscada de olho. Escutei ele falando com os meninos sobre não brigarem e depois gargalhada dos três. Fiz um sanduiche para os gêmeos. Enquanto eles comiam, o Tomas foi até o carro pegar uma mala de mão que ele sempre levava para o caso de ter algum evento de última hora. Mas dessa vez, não tinha apenas roupas para festas, o espertinho havia colocado umas roupas confortáveis e quando perguntei ele disse rindo que saiu de casa com esperança de dormir aqui. 

O Tomás estava passando muito tempo lá em casa. Era complicado para eu ir com os meninos para o apartamento dele, então ele ia vinha para o meu. Como o Leo estava ficando mais na casa da namorada não tinha problema. A parte mais engraçada é que no meu guarda-roupa já tinha roupas dele, já que ele trazia a mala, mas nunca levava de volta o que trazia.

Sentamo-nos no sofá e assistimos os desenhos dos meninos que pegaram no sono logo no começo do quarto episódio. Levamos eles para o quarto e fomos para o meu. Deitamo-nos na cama e Tomás me puxou para seus braços. Me acomodei ali e dormi com um sorriso no rosto, apesar de tudo. 

De volta para casaOnde histórias criam vida. Descubra agora