*WENCLAIR* Sonho ou realidade?

A saudade

Wed:

Eu ja estava no meu quarto quando eu ouvi pulinhos conhecidos no corredor, eu senti minha barriga dar voltas, embrulhar e senti vontade de sair correndo, tudo isso em uma fração de segundos, mas eu estava estática no mesmo lugar, fingi continuar a guardar as coisas no meu armário, quanto a porta se abriu de uma vez, e entrou por ela uma explosão de cores, que doía meus olhos, de repente fui arremessada na minha cama com uma Enid muito chorona em cima de mim, de início eu não tive reação, mas parecia que aquela sensação de que faltava algo sumiu, entao deixei todo meu orgulho de lado, e retribui seu abraço afundando meu rosto no pescoço dela e sentindo seu cheiro magnífico.
Ficamos assim por um tempo que acredito ser por horas, eu logo senti o corpo de Enid relaxar em cima do meu, e logo depois pequenos pulinhos em seu corpo, que consegui identificar ser soluços de choro, eu não conseguia empurra-la, não conseguia e nem queria estragar aquele momento da minha vida que parecia que tudo em volta parou de existir, então a apertei mais contra meu corpo.

Enid:
Eu não sabia o que esperar, a Wandinha não tinha me falado se voltaria ou não para a escola, e devido aos acontecimentos anteriores, não a culparia se decidisse não voltar, eu quase a perdi no ano passado, e se ela se sentisse mais segura longe dali eu entenderia...

Quando eu mandei a mensagem para ela que faltava apenas uma semana, eu esperava uma resposta se ela estaria lá ou não, mas como não obtive, eu rezava em segredo todos os dias para que aquele pequeno ser em preto e branco voltasse a ficar perto de mim.
Quando eu entrei naquele quarto, não sabia o que encontrar, mas quando vi aquela pequena criatura do seu lado do quarto organizando suas roupas entre preto e branco eu não me contive, passei de uma vez pela porta do quarto e a fechei com a mesma intensidade que abri, e nem vi o momento que me joguei contra ela, e nossos corpos caíram em cima de sua cama, eu só queria não soltar ela nunca mais, eu sabia que nosso caminho não seria fácil, nem sabia ao certo o que eu estava sentindo, ou se era recíproco, mas eu entendi meus sentimentos no dia que tudo aconteceu e a única pessoa que eu queria ver era ela...

Se passou muito tempo, senti ela exitando se me empurrava ou não, mas ao contrário do que eu esperava ela me apertou mais e deixou seu rosto cair no meu pescoço, parecia que eu estava nas nuvens com aquela coisinha agarrada a mim.
Enfim separei nossos rostos, mas nao desgrudei nossos corpos, fiquei fitando aqueles olhos negros que eu tanto amava, meu coração tava acelerado, e sentia que o dela também batia forte, seus olhos tinham um brilho que eu só tinha visto quando ela tocava o seu violoncelo na sacada no ano passado, ela desceu seu olhar para os meus lábios e eu fiz o mesmo, sabíamos que estávamos ultrapassando mais um limite, mas nem sei se existia mais algum limite entre nós, eu senti sua respiração ofegante, fui aproximando novamente nossos rostos, mas dessa vez com outra intenção, faltava apenas alguns centímetros daqueles lábios, eu já podia sentir seu hálito de menta perto da minha boca, e ansiava em reduzir aquela distância a zero, fechei meus olhos e...

A porta se abriu de uma vez, o que fez eu cair da cama da Wandinha já que ela se levantou de uma vez, eu fingi que estava procurando alguma coisa no chão quando escutei passos leves e lentos entrando pelo quarto e uma senhora Addams muito elegante a minha frente, eu estava literalmente aos seus pés.

Ela estendeu uma das mãos e disse:

-Ola Sinclair, como vai?

(Meu Deus, como que fala?)

- O-ola Sra Addams, como vai? (Peguei sua mão, e ela me puxou para cima)

-Mal chegou e já está perdendo as coisas hein?

Senti um pouco de ironia em sua voz, mas não entendia exatamente o que ela queria dizer, me ofereci para deixar as duas a sós, mas ela disse que não era necessário e que seria rápida.
Fui para a minha cama colocar minhas malas que ainda estavam no meio do quarto, não consegui olhar para Wandinha, então me concentrei nas minhas tarefas, mas não fazia nem um pingo de esforço para não escutar as conversas atrás de mim...

Wed:
Eu não estava sem graça com o que acabou de acontecer, mas eu não pude evitar um leve traço divertido em meus lábios, quando vi uma Enid totalmente sem graça.

- Filhinha, aqui está a bola de cristal que esqueceu no carro, e também tem outra coisa aí dentro que você não pode ficar sem; E não se esqueça jamais, sua família sempre vai estar aqui para você.

Meu pai que estava esperando no corredor entrou, e complementou o que a mamãe disse:

- É isso aí minha nuvenzinha negra, independente do que acontecer, e de suas escolhas nos vamos te apoiar, e sempre se expresse da maneira que quiser, estaremos apenas a uma bola de cristal de você.

Dito isso eles me abraçaram e ouvi meu irmão entrar correndo pra me abraçar, a única coisa que eu consegui dizer no meio daquela desconfortável demonstração de afeto foi:

-Tambem vou sentir falta dessa demonstração insuportável de afeto...
E feioso, vê se não procura encrenca que você não consegue sair...

-tambem vou sentir sua falta mana...

Como minha mãe nunca dá um ponto sem nó, antes deles saírem do quarto ela disse:

- E Enid querida, pode continuar procurando o que quer que seja na cama da Wandinha, quero dizer, no chão né, e cuida dela viu, sei que uma cuida da outra, mas não  custa lembrar... Beijo minhas meninas.

Dito isso, ela fechou a porta e deixou uma Enid extremamente vermelha do outro lado do quarto.

-Enid, sinto muito por esse constrangimento.

-Tudo bem Wed, acho que um dia eu me acostumo rsrsrsrs

- E então, ainda quer me contar sobre suas férias?

- Siiiiiimmmmmmm

Dizendo isso ela deu um salto para a minha cama novamente e despejou em cima de mim a viajem que tinha feito em família, que nas noites de lua cheia foram as mais divertidas para ela, que agora se sentia parte da matilha.
Ela não deixou nem um detalhe de fora.
Disse também que a mãe dela passou grande parte das férias pedindo para ela largar o celular, quando ela levantou e passou a chave na porta que eu percebi que a conversa estava tomando outro rumo.
Ela voltou, pegou minha mão entre as dela, olhou no fundo dos meus olhos, aqueles olhos azuis parecia que iam perfurar a minha alma, então ela disse:

-Wandinha, não teve um dia se quer depois do nosso abraço que eu não sentia falta de um toque seu, tudo o que eu queria era te ligar, ouvir sua voz, ouvir você brigar comigo e depois me olhar com esses olhos negros parecendo que queria me despir...

Eu sabia que Enid não tinha problema nenhum em falar seus sentimentos, mas eu não estava esperando isso agora, e não sabia o que falar, eu me lembrei do conselho da minha mãe dizendo para eu me expressar sempre....

-Enid... Eu... Eu...
Eu preciso ir ao banheiro...

Enid:
Quando ela começou a falar, achei que finalmente escutaria algo daquela boca maravilhosa...
Mas, quando ela saiu correndo para o banheiro, dei risada sozinha, pois sabia que lá dentro, tinha uma Wandinha lutando com seus próprios sentimentos.

Me assustei quando algo se mexeu na sacola que a mãe dela havia deixado para ela, mas era só o mãozinha pulando em mim, eu senti muita saudades daquele "membro" da família Addams, e enquanto ela nao saia do banheiro, ele me contava altas novidades, inclusive que aquela pessoinha que estava trancada no banheiro sentiu minha falta as férias inteira, e que por causa disso estava cada vez mais insuportável, ele terminou de me contar, e pediu para não dizer nada para Wandinha...

-Tudo bem mãozinha, somos parceiros, pode ficar tranquilo.

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