Toda segunda-feira é igual. Você geralmente acorda sem disposição nenhuma para fazer nada, principalmente porque o dia anterior foi um domingo.
Eu acordei atrasada como sempre, -fingi que- tomei um banho, coloquei minha calça de entrevista social preta, uma blusa social branca, e sem nem mesmo tomar café, saí de casa.
Faz uns três meses que estou tentando arrumar um emprego. Se eu fosse totalmente sem experiência, entenderia essa rejeição das empresas, mas eu não sou mais uma criança. Tenho 22 anos e trabalhava como secretária desde os 19 na mesma instituição.
Minha mãe dizia que dificilmente contratam uma secretária acima do peso ou que não se encaixa nos padrões de beleza.
Talvez seja esse o motivo.
Eu não me surpreenderia. Todas as minhas antigas colegas secretárias eram extremamente magras e estupidamente loiras ou tinham os cabelos longos e pretos até demais. Eu sou mais simples que isso. Magra? Passo longe. Cabelos longos? Jamais, já viu o trabalho que dá? Loira então nem se fala! Cabelos descoloridos precisam de muita dedicação para não evaporarem.
Dessa vez estou com um pensamento positivo. Vi um anúncio no story de uma amiga. Rua de número cinco, prédio 89. Aparentemente é uma empresa que preza somente pelas habilidades e por domínio de uma segunda língua. Perfeito para mim!
No trajeto da minha casa até o ponto de ônibus tem mais de 10 academias. Talvez o universo esteja me pressionando para começar a ser mais ativa, ou talvez tenha muita demanda nessa área.
Peguei o ônibus tentando fazer mentalmente a conta de moradores que viviam ali e quantos deles utilizavam serviços de academia. Falhei na conta porque sou péssima em matemática. A vida me ensinou que às vezes é melhor desistir de coisas que você não é bom.
Saltei do ônibus e surpreendentemente não precisei andar mais. Ele me deixou exatamente na frente do prédio 98.
Haviam muitos prédios nessa rua, mas esse com certeza era o mais bonito de todos. Entrei já animada e fazendo barulho com o meu mini salto alto.
Assim que entrei vi a elegância dos funcionários. Os homens estavam muito bem vestidos. Com camisetas bem passadas e ternos que pareciam ter sido comprados todos no mesmo lugar. E as mulheres estavam usando calças sociais como as calças dos ternos, e todas com blusas brancas. Eu até parecia uma delas, exceto pelo crachá.
Até o cheiro do prédio era diferente. Aparentemente o edifício era destinado inteiramente àquela empresa.
Me certifiquei de ajeitar a minha postura, coisa que não fazia há muito tempo. Percebi até que doía ficar com a coluna reta.
Para entrar no prédio, tinha uma daquelas catracas que precisa de um crachá, então resolvi pedir orientação da recepcionista loira que descansava os seios na bancada.
- Olá, bom dia! Eu estou aqui para uma entrevista de meio período. - Tentei não parecer animada demais
- Bom dia. - A moça falou sem muita disposição e começou a digitar algo no computador. - A senhora só vai precisar me dar alguns dados para controle de entrada e saída se pessoas, 'okay'? Qual é o seu nome completo?
- Emily Downson Javier. - Falei o último nome mais baixo, quase que parecendo um palavrão.
-Latina? - A moça desviou os olhos para minha direção, e me analisou sorrindo. Pareceu sarcasmo pra mim. Mas não gosto de ficar pensando que sou alvo de sarcasmo ou insultos. Acho que seria muito narcisista pensar que alguém se importa assim com a minha existência.
- Vai precisar da minha identidade? - perguntei para quebrar o clima estranho e evitar a pergunta sobre a minha nacionalidade.
Não é sobre eu ser latina ou não, mas acho bem ofensivo que as pessoas fiquem perguntando isso. Não devia ser tão importante assim.
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Diário de Submissão
RomanceEmily, uma jovem perdida e insatisfeita acaba encontrando Gabriel Muller, um homem decidido e atraente que decide virar a vida dela de ponta cabeça. Esse é um romance cheio de jogos e cenas quentes.