Notícias Ruins

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ROSAMUND

Assim que entrei na cozinha, a cozinheira, Aria, abriu um enorme sorriso para mim. Desde o primeiro momento, ela foi muito simpática comigo.

— Oh, Rosamund! – ela falou, enxugando as mãos no avental. — Quer comer alguma coisa?

— Sim, mas... Eu também gostaria de providenciar algo para Kurt. Digo... Alfa Kurt. Ele e eu acabamos não almoçando...

— Oh, claro! – Ela não fez perguntas do motivo de não termos comido e nem fez qualquer careta ou me deixou desconfortável por eu ter chamado o Alfa dela pelo primeiro nome.

Ela já estava virada para o fogão, quando eu resolvi me oferecer para ajudar.

— Eu gostaria de fazer algo. Ajudar, sabe?

Ela se virou para mim, com o cenho franzido.

— Mas... a senhorita é uma visita especial. Não precisa fazer nada.

— Alfa Kurt permitiu.

— Oh, entendo — Ela olhou em volta — Ah, já que a senhorita quer ajudar, porque não leva essa bandeja com biscoitos, chá, suco.. para os Conselheiros? Alfa Kurt também irá comer.

—Claro! – Eu disse, animadamente. Eu seria útil!

Eu não gostava de trabalhar no Midnight Pack porque eu estava servindo aquelas pessoas horríveis, mas ali.. todos eram adoráveis comigo e eu não tinha motivo para não me sentir honrada em ajudar no que pudesse. Em poucos dias, eu já me sentia como rodeada de amigos e família, enquanto no meu bando anterior... isso não aconteceu em uma vida inteira.

Eu peguei a bandeja, que estava bem pesada, e fui andando cuidadosamente até o escritório. A porta não estava trancada, deu pra ver quando eu já ia me aproximando. Eu pretendia bater, porém, parte da conversa chegou aos meus ouvidos.

— Ficamos sabendo que o Alfa resolveu casar. Ficamos muito satisfeitos. Isto é...

Eu fiquei surda momentaneamente depois disso. Kurt ia... ele ia se casar? Ele e eu tínhamos nos beijado e ele pretendia me levar para o quarto, para que fôssemos mais adiante, se eu quisesse. Mas... isso não poderia ser. Ele não tinha me falado nada.

—Mas, Alfa Kurt, nós estamos apenas alertando-o para o seu próprio bem. Se o Alfa Gregório souber que você está vivendo com outra fêmea, poderá haver uma guerra.

Então, eu compreendi. Eu não era a noiva. Oras... mas claro que não! Kurt se casaria com outra fêmea. De outro bando. E eu... eu era apenas o divertimento do Alfa, como a maioria das ômegas eram, em todos os bandos.

Eu senti as minhas pernas fraquejando, as minhas mãos ficaram pesadas e sem muito controle. Antes que eu me desse conta, a bandeja emborcou e eu não consegui me mover rápido o suficiente para impedir o acidente.

O som dos pratos, da porcelana quebrando... E o chá quente em minhas mãos me fez gritar de dor, mas essa dor não era grande como a que eu estava sentindo no meu peito.

Eu olhei para cima e vi os olhos azul esverdeados de Kurt, assustados, olhando diretamente para mim.

— Rosa! — Ele gritou e correu até mim. Eu... eu não o queria por perto.

— Não... — Eu consegui murmurar, tentando ir para trás. Mas eu esbarrei em algo, que se quebrou, pois eu ouvi e também senti alguma coisa batendo nos meus pés e perna.

O olhar preocupado dele quase me fizeram acreditar que talvez eu tivesse ouvido tudo errado. Kurt não era um macho como os outros. Ele... ele não me usaria para se divertir e depois me descartaria, não é?

— Rosa, minha nossa! — Ele disse e olhou em volta — Aria!

Eu senti uma sombra se aproximando e olhei para algo em cima do ombro de Kurt. Um lobisomem mais velho, vestido de vermelho, olhava para mim com um certo desprezo.

— Esta é a fêmea, não é? — Ele perguntou e Kurt ficou com a expressão mais fria.

— A reunião está acabada — Ele disse.

— Lembre-se do que conversamos, Alfa Kurt. Não jogue tudo para o alto, não inicie uma guerra, por uma fêmea sem importância.

O som do rosnado de Kurt retumbou nos meus ouvidos e reverberou pelo ambiente. Os quadros se moveram nas paredes e ele estava de pé, com o idoso prensado na parede pelo pescoço em um segundo.

— Rosa é a criatura mais importante aqui! Ouse abrir a boca para falar dela dessa forma novamente e eu te garanto que essas terão sido as suas últimas palavras!

— Alfa Kurt! — um outro idoso exclamou. Ele olhou para mim com o cenho franzido, e a expressão preocupada.

— Kurt? — Eu o chamei, mas a minha voz saiu muito baixo. Apesar disso, ele me ouviu, pois eu vi quando as costas dele se retesaram.

Ele soltou o idoso, que escorregou pela parede, segurando a garganta, buscando por ar.

Kurt se virou lentamente para mim.

— Desculpe, Rosa — Então ele olhou para os outros idosos, que estavam em aparente choque — Dêem o fora do meu bando!

Não foi necessário falar de novo, e eles carregaram o Conselheiro afrontoso para fora, não esperando que ele se recuperasse para andar com as próprias pernas.

Kurt se agachou na minha frente.

— Rosa, perdão por...

— Eu... eu acho melhor eu ir pro meu quarto — Eu disse. Eu não conseguiria mais olhar para ele naquele momento.

Ele abriu a boca para falar algo, mas então, ele a fechou e balançou a cabeça de leve, concordando com as minhas palavras.

Assim que ele tentou me tocar, eu me esquivei e, ao olhar para cima, vi que ele ficou magoado, mas nada disse.

Eu me levantei e Aria chegou correndo.

— Pode deixar que eu limpo tudo — Ela falou e estendeu a mão que segurava uma caixinha com uma cruz vermelha pintada na frente — Para os seus machucados, querida.

Aria olhou não só para as minhas mãos, mas para as minhas pernas. Eu acompanhei o olhar dela e vi que estavam sangrando. Os cacos do que parecia um vaso, espalhados pelo chão.

— Obrigada, Aria.

Eu sorri de leve para a senhora de meia-idade e caminhei para as escadas, subindo devagar. Não ter um lobo era uma inconveniência, pois com ele, eu poderia me recuperar muito mais rápido e sentir menos dor.

Kurt caminhou ao meu lado, calado, mas pronto para me segurar se eu caísse.

Assim que cheguei na frente do meu quarto, ele abriu a porta e eu entrei. Ele tentou me seguir, mas eu fiz que "não" com a cabeça.

— Deixa eu ajudar com os seus ferimentos.

— Não precisa — Eu respondi, tentando fechar a porta, mas ele colocou a mão para impedir.

— Nós temos que conversar, Rosa.

Alfa Kurt - DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora