5. Cattiva persona.

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Monte Carlo, Mônaco – 2022.

Charles simplesmente adorava os períodos de intervalo de uma ou duas semanas que havia entre uma race week e outra. Adorava, pois eram os únicos momentos do ano em que podia voltar para a casa e agir como uma pessoa normal, sair na rua sem ser imediatamente assediado por uma multidão de fãs enlouquecidos querendo fotos, autógrafos e outras coisas mais que ele preferia nem mencionar de tão ridículas. Não que ele não fosse abordado por uma ou outra pessoa quando saía pelas ruas de Monte Carlo, sempre tinha alguém diferente por ali que não estava acostumado com sua presença e que queria uma foto com o piloto ferrarista. No entanto, o fato de ter nascido e crescido em Mônaco fazia com que quase todos os moradores dali o conhecessem há tanto tempo que, para eles, Charles era apenas mais um habitante do pequenino país. E era exatamente disso que o Leclerc gostava, de ser tratado como uma pessoa comum, como só mais um morador de Mônaco fazendo suas tarefas cotidianas. E não havia nada mais cotidiano para ele do que estar confortavelmente deitado e quase dormindo no sofá de seu apartamento num sábado a noite com sua namorada aninhada em seus braços, enquanto viam algum filme que agora Charles nem sabia mais do que se tratava.

Geralmente, Charlotte vinha passar com Charles os poucos dias que ele podia ficar em Mônaco quando estava de folga das corridas. Era difícil ela poder acompanhá-lo em algum GP, sentia a falta do namorado frequentemente, então fazia tudo para ficar com ele quando ele estava em Monte Carlo. A garota estava se planejando para poder estar mais perto dele naquele ano nos GPs, já tinha conseguido estar com ele no Bahrein e pretendia ir para a Austrália, porém ela sentia muita falta de momentos como os de agora, apenas os dois na casa dele sem nenhuma perturbação. Ela mantinha a cabeça deitada no peito do rapaz e um dos braços dele passava por seus ombros, enquanto ela fazia carinho em sua mão cheia de anéis. A garota ergueu os olhos para ele e o viu cochilando, os dois estavam em silêncio já havia algum tempo, e ela sorriu vendo aquela expressão fofa no rosto dele, os olhos fechados, os grandes cílios batendo nas bochechas e um leve biquinho nos lábios. Suspirou com aquela visão, seu namorado era de fato absurdamente lindo.

Se Charlotte Siné tinha alguma certeza na vida, era a de que gostava de Charles, gostava muito, mais do que conseguiria explicar para alguém. Ela sempre gostou, desde quando todos eles eram um grupo de adolescentes sem grandes ambições na vida. Ou melhor, ela não tinha grandes ambições, havia nascido num berço de ouro e sabia que dinheiro jamais seria problemas em sua vida; ao contrário de Charles, que quase teve de encerrar sua carreira no automobilismo aos 13 anos por seu pai não ter mais condições financeiras de mantê-lo no kart. Talvez fosse isso que Charl mais admirava nele, sua garra e perseverança, sua vontade de vencer, a competitividade. Ela sempre foi apaixonada por ele.

Não sabia dizer exatamente se o amava, amor era um sentimento grandioso demais e ainda muito confuso para Charlotte, mas sabia que gostava dele. Porém, ele sempre pareceu preferir a outra amiga deles, tanto que namorou com Giada por muitos anos antes de Charlotte finalmente conquistar o coraçãozinho dele. Teve uma ajudazinha muito importante de seu pai para convencê-lo a ficar consigo, mas isso não vinha ao caso no momento, o que importava era que agora estava com ele, e não pretendia largar o osso tão cedo.

Ela pensava tudo isso enquanto ainda observava o rostinho fofo adormecido dele, até que ele abriu os olhos e lhe encarou um tanto quanto assustado, os olhos verdes estalados, como se tivesse despertado de um sonho estranho. A garota deu risada, levando a mão ao rosto dele e acariciando sua bochecha, tentando trazer o olhar dele de volta para si, que parecia perdido. Ele havia acordado de repente e parecia nem saber direito onde estava.

─ Estava sonhando com alguma coisa, amour? ─ perguntou. Charles piscou um par de vezes e tirou o braço de trás dos ombros de Charlotte, bocejando e coçando os olhos. Ajeitou-se no sofá, fazendo ela tirar a mão de seu rosto.

Desideri NascostiOnde histórias criam vida. Descubra agora