Desideri Nascosti

21. Il peso del mondo

→ Trigged Warning de crise de ansiedade e uso de medicações. A cena estará descrita em negrito para facilitar pra quem quiser pular. Quem decidir ler, leia com calma e responsabilidade, respeitando os próprios limites.

Paris, França - Julho de 2023.

Houve uma semana de intervalo entre o GP da Áustria e o próximo, o icônico GP da França, no tradicional circuito de Paul Ricard. Charles podia dizer que estava animado para o evento, ele adorava a corrida na França, embora acreditasse que a pista deveria ser reformulada. Aquelas áreas de escape com faixas das cores da bandeira francesa eram capazes de causar um ataque epilético em uma pessoa mais sensível, e era sempre confuso para quem não estava acostumado a correr no circuito.

Mesmo com os pesares, Paul Ricard era como uma segunda home race para Charles. Afinal seu pai era francês, e mesmo que ele odiasse que lhe chamassem de francês, ele sempre teria um carinho pelo país vizinho. De certa forma era sua casa também, sua língua materna veio de lá, seu pai veio de lá. Seu melhor amigo era francês. Não podia simplesmente dizer que a França não lhe significava nada.

Após a Áustria, Charles estava bem mais tranquilo. Todo o estresse que havia passado em Silverstone havia passado. Era novamente líder do campeonato, não estava tão à frente de Max, porém estava, e era isso que importava. No final, se ele ficasse em P1 nem que fosse por um único ponto, ele seria campeão. Charles nunca achou que fosse sentir o cheiro da vitória tão de perto. Eles só precisavam encaixar mais algumas peças, o F1-75 vinha muito bem, os problemas de confiabilidade do motor pareciam ter sido resolvidos, e mesmo que a alta degradação dos pneus continuasse, não era um problema grande o suficiente para de fato atrapalhar. Leclerc nunca se sentiu tão confiante, e graças a isso, ele sentiu que a última semana de folga, que passou descansando em sua casa em Mônaco, foi uma de suas pausas mais tranquilas.

E como estava sendo um hábito entre Carlos e ele nos períodos de folga, os dois trocavam mensagens quase que todos os dias. Mandavam fotos, vídeos, memes, figurinhas. Conversavam por vídeo-chamada quase todas as noites. Charles pôde concluir que a única parte ruim da folga era ficar longe de Carlos, e quis entender em que momento que começou a sentir tanta falta dele. Chegou a xingá-lo pelo telefone uma vez, perguntando-o "quase todos os pilotos do grid moram em Mônaco, chéri, por que só você não?". Carlos, assim como Charles, era muito apegado à sua família. Ele preferia morar na Espanha por enquanto, já que nos períodos sem corrida, ele podia voltar e ficar com seus pais, sua irmã e seus primos; e seu cachorro. Charles o entendia completamente nesse caso, também não sairia de seu país para morar em outro, queria estar perto de sua família. O fato é que ele já tinha nascido em Mônaco.

As lembranças das últimas vivências e descobertas que fizeram juntos surgiam espontaneamente na mente de Charles. Às vezes ele simplesmente estava fazendo qualquer coisa, cozinhando ou o que seja, e a memória vinha a sua mente, seja deles no hotel em Silverstone, seja deles na sala privativa em Spielberg. Havia também dias que ele sonhava com Carlos, sonhava com ele colocando-o de bruços sobre a cama, empurrando sua cara no travesseiro e investindo contra si até que os dois alcançassem o ápice. E eram sempre sonhos muito realistas. Ele podia sentir o cheiro de Carlos, o cheiro do ambiente. O corpo suado acima do seu. Os beijos, os toques. A energia de que não havia qualquer outra pessoa no mundo além de eles dois. Ele sentia tudo.

Não teve esse sonho uma vez apenas, e todas as vezes ele acordava duro feito um adolescente que acabou de ter um sonho molhado e precisava se aliviar no banho ou na cama mesmo. Era vergonhoso, ele sabia. Mas era apenas uma forma de expressar suas vontades quando Carlos estava muito longe. E não negaria, eram coisas que ele pensava acordado também. Já quis contar para Carlos sobre isso, mas de que adiantaria, quanto ele estava há quilômetros dali? Charles iria apenas sofrer de saudades.